“Neste momento, em nosso Continente, todos sentimos a necessidade de ouvir a voz forte de nossos Pastores, para que nos confirmem, de modo decisivo, o valor da vida humana e seu caráter inviolável”.
“Se a Igreja, no final do século passado, não podia se calar diante dos abusos contra os direitos dos trabalhadores, hoje, ainda menos, pode calar-se, quando, às injustiças sociais do passado, tristemente ainda não superadas, somam-se em muitas partes do mundo injustiças e opressões ainda mais graves contra as crianças por nascer, os mais frágeis e os doentes”.
É o que se lê nas conclusões, recentemente divulgadas, do Primeiro Seminário da Igreja e da Sociedade Civil sobre “Bioética, Novas Tecnologias e sua influência cultural”, realizado em outubro, em Cuernavaca, México. O encontro foi promovido pelo Departamento da Família, da Vida e da Cultura, do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM). O documento releva as novas fronteiras e desafios enfrentados pela Igreja Latino-americana.
Os problemas mais significativos
Entre os problemas mais significativos, o documento destaca: a sexualidade e a procriação humana, a vida na fase pré-natal, o neo-eugenismo, a fronteira do domínio da dor e da morte.
Os temas da sexualidade e da reprodução representam muitos desafios pastorais e dificuldades educativas e formativas, pois “a mentalidade contraceptiva e anti-natalidade derivante de uma mentalidade abortiva deu vida a uma grande conjura contra a vida, que atinge o desenvolvimento e o crescimento de nossos jovens, o matrimônio e a família.
A isto, somam-se a ideologia do gênero e as Tecnologias de Reprodução Artificial (TRA), que não respeitam a dignidade da procriação humana”. Hoje, “é urgente o ensino e a confirmação de uma antropologia plena e unitária: Deus e o Homem, Cristo e a Igreja, corpo e espírito, amor e vida, comunhão homem-mulher”.
O perigoso crescimento do relativismo e do eugenismo
Os debates e o relativismo sobre o início da vida, genética, contracepção, esterilização, aborto, TRA, congelamento de embriões, extração de células-tronco, colocam em risco especialmente a vida do embrião, pois “muitas vezes, a discussão em nível filosófico, científico e legislativo sobre a identidade e o status do embrião humano, tenta negar a realidade de uma vida humana individual propriamente dita”.
Um outro risco é a chamada fronteira do “néo-eugenismo”, que consiste em uma seleção dos seres humanos não considerados idôneos a uma vida digna de ser vivida. Na mesma linha, coloca-se a “redução embrional ou fetal, que é comparada a práticas nazistas.
Embora esta comparação tenha sido colocada em discussão, é preciso reconhecer que mediante esta prática são suprimidos seres humanos considerados não-funcionais para a sociedade, o que é contrário a qualquer princípio de igualdade”.
Eutanásia – a dor e a morte
Outro ataque frontal contra a vida emerge da “fronteira do domínio da dor e da morte”: os movimentos pró-eutanásia se difundem no mundo, e exercem pressões nos parlamentos, para sua legalização.
Assim, “é necessário, no âmbito da prática pastoral, um compromisso para a formação de profissionais do campo da saúde sobre a eutanásia e a insistência terapêutica: o uso de terapias adequadas, o respeito do desejo (livre e responsável) do paciente sobre as terapias extraordinárias”.
Os participantes do encontro denunciaram também que alguns organismos e instituições internacionais ameaçam o bem-comum dos países Latino-americanos, por “pretendem instaurar agendas de políticas sanitárias, educativas e comerciais sobre a população, biotecologias, temas ambientais, inquéritos e moral pública, sem respeitar os interesses das nações, dando espaço, por sua vez, a interesses econômicos externos”.
Destaca-se, enfim como urgente e necessária, a formação sistemática de todos os agentes pastorais sobre temas relativos à vida humana, família e bioética, para que estejam à altura de testemunhar com eficácia a Cultura da Vida, e colaborar na formação da consciência do povo de Deus.