Em discurso no evento, secretário-geral da ONU afirmou: “Os sistemas alimentares do mundo estão em pedaços e milhões de pessoas estão pagando um preço caro”
Da redação, com Vatican News
A cúpula da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) sobre sistemas alimentares mundiais foi concluída, em Roma, nesta quarta-feira, 26. Os trabalhos foram abertos com o discurso do secretário-geral da ONU, Antônio Guterres. “Os sistemas alimentares do mundo estão em pedaços e milhões de pessoas estão pagando um preço caro”, disse.
Guterres não mediu palavras para definir o escândalo de um “mundo de abundância” que tem milhões de obesos, mas também 2 bilhões de pobres e 3 bilhões que não podem pagar uma alimentação saudável. Segundo ele, perdas e desperdícios devem ser combatidos com uma melhor gestão dos sistemas alimentares para limitar as desigualdades e aliviar a dívida de vários países.
Sistemas responsáveis pela poluição e mudanças climáticas
A forma como os alimentos são produzidos, distribuídos e consumidos hoje, sublinhou o secretário-geral da ONU, é responsável pela poluição e pelas mudanças climáticas. Nas condições atuais, disse, “basta um novo choque para que populações inteiras caiam na fome”, como a não renovação do acordo sobre as exportações de trigo ucraniano.
Guterres também reiterou seu apelo à Rússia para voltar atrás na “decisão infeliz” de bloquear o acordo sobre as exportações de trigo ucraniano. Um apelo que encontrou, à margem da Conferência, a aprovação do presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, que ao receber o secretário-geral da ONU, definiu a escolha de Putin como “uma escolha gravíssima, com consequências gravíssimas para as populações de muitos países”.
Qu Dongyu: transformação custará 4 trilhões de dólares
“Precisamos acelerar a transformação dos sistemas alimentares para que sejam mais sustentáveis e resilientes”, disse o diretor-geral da Fao, Qu Dongyu, falando na sessão plenária inaugural do Food Systems Summit +2. “A FAO – explicou – considera necessário apostar nos aceleradores transversais”, nas áreas da ciência e inovação, no campo digital, das finanças e governança. “Para transformar os sistemas agroalimentares será necessário investir 4 trilhões de dólares nos países de baixo e médio rendimento entre agora e 2030”, acrescentou Qu, notando que “é uma soma enorme”.
Além disso, algumas diferenças nos sistemas agroalimentares podem ”aumentar o PIB em 100 bilhões de dólares, com a consequente redução da insegurança alimentar em dois pontos percentuais e do número de pessoas que não têm acesso seguro aos alimentos de 45 milhões de pessoas”. Por isso, prosseguiu o diretor-geral da FAO, é necessário “focar na ciência para usar menos recursos e aumentar a resiliência do clima ao calor e à seca, reduzir o desperdício de alimentos que poderia alimentar um bilhão de pessoas a mais”. Por fim, é fundamental para Qu, “um financiamento público integrado” para ajudar os agricultores a terem acesso aos instrumentos financeiros e uma nova governança sinérgica e coordenada.
Meloni: um novo “Plano Mattei” para os países africanos e o sul global
A premiê italiana Giorgia Meloni anunciou que a próxima presidência italiana do G7 terá a segurança alimentar no centro de sua agenda, e falou de um novo “Plano Mattei” para os países africanos e em geral para o sul global, para que – reiterou citando o Papa Francisco – a todos seja garantido “o direito de não ter de emigrar, a possibilidade de viver em paz e com dignidade na própria terra”. No âmbito do encontro, Meloni conversou primeiro com líderes de alguns países do Magrebe e dos países do Chifre da África.