nesta manhã, continuando a reflexão de quarta-feira passada, gostaria de aprofundar convosco outros aspectos da doutrina de São Boaventura. Ele é um eminente teólogo, que merece ser colocado ao lado de outro grandíssimo pensador, seu contemporâneo, São Tomás de Aquino. Ambos exploraram os mistérios da Revelação, valorizando os recursos da razão humana, naquele diálogo frutífero entre fé e razão que caracteriza o Medievo cristão, tornando-o uma época de grande vivacidade intelectual, bem como de fé e renovação eclesial, muitas vezes não suficientemente realçada. Eles compartilham outras semelhanças: tanto Boaventura, franciscano, quanto Tomás, dominicano, pertenciam às Ordens Mendicantes que, com seu frescor espiritual, como já recordei nas Catequeses precedentes, renovaram, no século XIII, toda a Igreja e atraíram muitos seguidores. Ambos serviram a Igreja com zelo, com paixão e com amor, a ponto de serem convidados a participar do Concílio Ecumênico de Lyon, em 1274, mesmo ano em que morreram: Tomás, enquanto se dirigia a Lyon; Boaventura, no decurso do mesmo Concílio. Também na Praça de São Pedro as estátuas dos dois santos estão paralelas, colocadas exatamente no início do Colunato que parte da fachada da Basílica Vaticana: uma no Braço esquerdo e outra no Braço direito. Apesar de todos esses aspectos, podemos perceber nos dois grandes santos duas abordagens diferentes de investigação filosófica e teológica, que demonstram a originalidade e a profundidade do pensamento de cada um. Desejo mencionar algumas dessas diferenças.
A primeira diferença diz respeito ao conceito de Teologia. Ambos os doutores se perguntam se a Teologia é uma ciência prática ou teórica, especulativa. São Tomás reflete sobre duas possíveis respostas contraditórias. A primeira diz: a Teologia é reflexão sobre a fé e o propósito da fé é que o homem se torne bom, viva segundo a vontade de Deus. Assim, o objetivo da Teologia deveria ser aquele de guiar no caminho justo, bom; por consequência, no fundo, é uma ciência prática. A outra possibilidade diz: a Teologia visa conhecer a Deus. Nós somos obra de Deus; Deus está acima do nosso fazer. Deus opera em nós o agir justo. Portanto, trata-se, substancialmente, não do nosso fazer, mas do conhecer de Deus, não do nosso operar. A conclusão de São Tomás é: a Teologia implica nos dois aspectos: é teórica, busca conhecer sempre mais a Deus, e é prática: busca orientar a nossa vida para o bem. Mas é um primado da consciência: devemos sobretudo conhecer a Deus e, então, segue o agir segundo Deus (Summa Theologia Ia, q. 1, art. 4). Esse primado da consciência em confronto com a prática é significativo para a orientação fundamental de São Tomás.
A resposta de São Boaventura é muito semelhante, mas com focos diferentes: Boaventura conhece os mesmos argumentos, tanto numa quanto noutra direção, como São Tomás, mas, para responder à pergunta se a Teologia é uma ciência prática ou teórica, São Boaventura faz uma tríplice distinção – alarga essa alternativa entre teórica (primado da consciência) e prática (primado da prática), acrescentando uma terceira atitude, que chama de "sapiencial", afirmando que a sabedoria abrange ambos os aspectos. Ele continua: a sabedoria busca a contemplação (como a mais alta forma de conhecimento) e tem como intenção ut boni fiamus – que nos tornemos bons, sobretudo isso: tornar-se bom. Então ele acrescenta: "A fé está no intelecto, de tal modo que provoca o afeto. Por exemplo: saber que Cristo morreu 'por nós' não permanece na consciência, mas torna-se necessariamente afeto, amor" (Breviloquio, Prologo, qu. 3).
Na mesma linha se move sobre a defesa da Teologia, isto é, da reflexão racional e metódica da fé. São Boaventura elenca alguns argumentos contra o fazer Teologia, bastante difundidos também entre alguns frades franciscanos, presentes ainda em nossos dias: a razão esvaziaria a fé, seria uma atitude violenta no confronto com a Palavra de Deus (cf. Carta de São Francisco de Assis a Santo Antônio de Pádua), ao que ele responde: É verdade que existe uma forma arrogante de fazer Teologia, uma soberba da razão, que se coloca acima da Palavra de Deus. Mas a verdadeira Teologia, o trabalho racional da verdadeira Teologia tem outra origem, não a soberba da razão. Quem ama deseja conhecer sempre mais e melhor o amado; a verdadeira Teologia não empenha a razão e a pesquisa motivada pela soberba, mas é "sed propter amorem eius cui assentit" – "motivada pelo amor por Ele, a quem deu o seu consentimento" (Breviloquio, qu. 2). Para São Boaventura é, portanto, determinante, no final, o primado do amor.
Por consequência, São Tomás e São Boaventura definem de forma diferente o destino último do homem, a sua felicidade plena: para São Tomás, o fim supremo, a que se dirige o nosso desejo é: ver a Deus. Nesse simples ato de ver a Deus encontra-se a solução de todos os problemas: somos felizes, nada mais é necessário.
Para São Boaventura, o destino último do homem é: amar a Deus, encontrar e unir o nosso e o seu amor. Esta é, para ele, a definição mais apropriada da nossa felicidade.
Nesta linha, poderíamos dizer também que a categoria mais alta para São Tomás é a verdade, enquanto, para São Boaventura, é o bem. Seria errado ver nestas duas respostas uma contradição. Para ambas, a verdade é também o bem, e o bem também é a verdade; ver a Deus é amar e amar é ver. Trata-se de focos diferentes de uma visão fundamentalmente comum. Ambos os focos formaram tradições diversas e espiritualidade diversas e, assim, demonstraram a fecundidade da fé, una na diversidade de suas expressões.
Retornemos a São Boaventura. É evidente que o foco específico de sua teologia, a que dei apenas um exemplo, se explica a partir do carisma franciscano: o Pobrezinho de Assis, para além dos debates intelectuais de seu tempo, demonstrou com toda a sua vida o primado do amor; era um ícone vivente e enamorado de Cristo e, assim, tornou presente, em seu tempo, a figura do Senhor – convenceu seus contemporâneos não com as palavras, mas com a vida. Em todas as obras de São Boaventura, também nos seus trabalhos científicos, de escola, se percebe e se encontra essa inspiração franciscana; nota-se que ele pensa a partir do encontro com o Pobrezinho de Assis. Mas, para compreender a elaboração concreta do tema "primado do amor", devemos ter presente ainda uma outra fonte: os escritos do chamado Pseudo-Dionísio, um teólogo siríaco do século VI, que se esconde sob o pseudônimo de Dionísio o Areopagita, acenando, com esse nome, a uma figura dos Atos dos Apóstolos (cf. 17, 34). Esse teólogo havia criado uma teologia litúrgica e uma teologia mística, e havia falado amplamente das diferentes ordens dos anjos. Seus escritos foram traduzidos para o latim no século IX; no tempo de São Boaventura, no século XIII, aparecia uma nova tradição, que provocou o interesse dos santos e de outros teólogos de seu século. Duas coisas atraíram, de modo particular, a atenção de São Boaventura.
1. O Pseudo-Dionísio fala de nove ordens de anjos, cujos nomes encontrou nas Escrituras e havia sistematizado a seu modo, dos anjos simples aos serafins. São Boaventura interpreta essas ordens de anjos como graus de aproximação da criatura a Deus. E, assim, ele pode representar o caminho humano, a subida rumo a comunhão com Deus. Para São Boaventura, não há dúvida: São Francisco de Assis pertencia à ordem seráfica, a ordem suprema, ao coro dos serafins, isto é: era puro fogo de amor. E assim deveriam ser os franciscanos. Mas São Boaventura bem sabia que esse último nível de proximidade a Deus não pode ser inserido em um sistema jurídico, mas é sempre um dom particular de Deus. Por isso, a estrutura da Ordem Franciscana é mais modesta, mais realista, mas deve, porém, ajudar os membros a se aproximar sempre mais de uma existência seráfica de puro amor. Na quarta-feira passada, falei sobre essa síntese entre o realismo sóbrio e o radicalismo evangélico no pensamento e no agir de São Boaventura.
2. São Boaventura, no entanto, encontrou nos escritos de Psudo-Dionísio um outro elemento, para ele ainda mais importante. Enquanto para Santo Agostinho o intellectus, o ver com a razão e o coração, é a última categoria da consciência, o Pseudo-Dionísio faz ainda um outro passo: na subida rumo a Deus, pode-se chegar a um ponto em que a razão não mais enxerga. Mas, na noite do intelecto, o amor ainda vê – vê aquilo que permanece inacessível à razão. O amor se estende para além da razão, vê mais, entra mais profundamente no mistério de Deus. São Boaventura foi fascinado por essa visão, que ia ao encontro da espiritualidade franciscana. Exatamente na noite escura da Cruz aparece toda a grandeza do amor divino; onde a razão não mais enxerga, enxerga o amor. As palavras finais de seu Itinerarium mentis in Deum, em uma leitura superficial, podem parecer expressões exageradas de uma devoção sem conteúdo; lidas, ao contrário, à luz da Teologia da Cruz de São Boaventura, são uma expressão límpida da espiritualidade franciscana: "Se agora deseja saber como isso acontece, [a comunhão mística com Deus] solicita a graça, não a doutrina; o desejo, não o intelecto; os gemidos da oração, e não o estudo da letra; […] não a luz, mas o fogo que tudo inflama e transporta em Deus" (VII, 6). Tudo isso não é anti-intelectual e nem antirracional: supõe o caminho da razão, mas o transcende no amor de Cristo crucificado. Com essa transformação da mística de Pseudo-Dionísio, São Boaventura se coloca ao início de uma grande corrente mística, que muito elevou e purificou a mente humana: é um ápice da história do espírito humano.
Esta Teologia da Cruz, nascida do encontro entre a Teologia de Pseudo-Dionísio e da espiritualidade franciscana, não deve fazer-nos esquecer que São Boaventura compartilha com São Francisco de Assis também o amor pelo criado, a alegria pela beleza da criação de Deus. Cito, sobre este ponto, uma frase do primeiro capítulo do Itinerarium: "Aquele […] que não vê os esplendores incontáveis das criaturas é cego; aquele que não acorda pelas tantas vozes é surdo; aquele que por todas estas maravilhas não louva a Deus é mudo; aquele que, diante tantos sinais, não se lança ao primeiro princípio é estúpido" (I, 15). Toda a criação fala em voz alta de Deus, do Deus bom, belo; do seu amor.
Toda a nossa vida é, então, para São Boaventura, um "itinerário", uma peregrinação – uma subida rumo a Deus. Mas, somente com as nossas forças, não podemos subir rumo à altura de Deus. Deus mesmo deve nos ajudar, deve "levar-nos" para o alto. Por isso é necessário a oração. A oração – assim diz o Santo – é a mãe e a origem da elevação – sursum actio, ação que nos leva para o alto, diz Boaventura. Concluo, por isso, com a oração com a qual começa o seu Itinerarium: "Oremos e digamos ao Senhor nosso Deus: 'Conduzi-me, Senhor, no Teu caminho e eu caminharei na Tua verdade. Alegra-se o meu coração no temer do Teu nome" (I, 1).
Siga o Canção Nova Notícias no twitter.com/cnnoticias
Conteúdo acessível também pelo iPhone – iphone.cancaonova.com