em 1998, por ocasião do Ano Mariano, o Venerável João Paulo II escreveu uma Carta Apostólica intitulada Mulieris dignitatem, tratando do papel precioso que as mulheres desenvolveram e desenvolvem na vida da Igreja. "A Igreja – ali se lê –agradece todas as manifestações do 'gênio' feminino surgidas no curso da história, no meio de todos os povos e Nações; agradece todos os carismas que o Espírito Santo concede às mulheres na história do Povo de Deus, todas as vitórias que deve à fé, à esperança e caridade das mesmas: agradece todos os frutos de santidade feminina" (n. 31).
Também naqueles séculos da história que nós habitualmente chamamos de Medievo, diversas figuras femininas destacaram-se pela santidade da vida e a riqueza do ensinamento. Hoje, desejo começar a apresentar-vos uma dessas: santa Hildegarda di Bingen, que viveu na Alemanha, durante o século XII. Nasceu em 1098, na Renânia, em Bermershein, nas proximidades de Alzey, e morreu em 1179, com 81 anos, não obstante a permanente fragilidade da sua saúde. Hildegarda pertencia a uma família nobre e numerosa e, desde seu nascimento, foi dedicada por seus pais ao serviço de Deus. Aos oito anos, para receber uma adequada formação humana e cristã, foi confiada aos cuidados da professora Giuditta de Spanheim, que havia abandonado a clausura do mosteiro beneditino de São Disibodo. Ia formar um pequeno mosteiro feminino de clausura, que seguia a Regra de São Bento. Hildegarda recebeu o véu do Bispo Ottone di Bamberga e, em 1136, com a morte da Madre Giuditta, então Superiora da comunidade, as irmãs a chamaram para lhe suceder. Desenvolve essa missão explorando suas habilidades de mulher culta, espiritualmente elevada e capaz de afrontar com competência os aspectos organizativos da vida claustral. Alguns anos depois, também devido ao número crescente de jovens mulheres que batiam às portas do mosteiro, Hildegarda fundou outra comunidade, em Bingen, dedicada a São Ruperto, onde transcorre o resto da vida. O estilo com que exercia o ministério da autoridade é exemplar para toda a comunidade religiosa: isso suscitava uma santa emulação na prática do bem, tanto que, como é evidente a partir de testemunhos da época, a madre e as filhas competiam no estimar-se e no servir umas às outras.
Já nos anos em que era superiora do mosteiro de São Disibodo, Hildegarda tinha começado a ditar as visões místicas, que recebia há tempos, ao seu conselheiro espiritual, o monge Volmar, e à sua secretária, uma irmã a que era muito afeiçoada, Richardis di Strade. Como sempre acontece na vida dos verdadeiros místicos, também Hildegarda desejou submeter-se à autoridade de pessoas sábias para discernir a origem das suas visões, temendo que fossem fruto de ilusões e que não viessem de Deus. Destinou-se, por isso, à pessoa que, nos seus tempos, gozava de máxima estima na Igreja: São Bernardo de Claraval, do qual já falei em algumas Catequeses. Ele tranquilizou e encorajou Hildegarda. Mas, em 1147, ela recebeu outra aprovação importantíssima. O Papa Eugenio III, que presidia um sínodo em Treviri, leu um texto ditado por Hildegarda, apresentando-lhe ao Arcebispo Enrico di Magonza. O Papa autorizou a mística a escrever as suas visões e a falar em público. A partir daquele momento, o prestígio espiritual de Hildegarda cresceu sempre mais, tanto que seus contemporâneos lhe atribuíram o título de "profetiza teutônica". É isto, queridos amigos, o selo de uma experiência autêntica do espírito Santo, fonte de todo o carisma: a pessoa depositária de dons sobrenaturais nunca se orgulha, não os ostenta e, sobretudo, mostra total obediência autoridade eclesial. Todo o dom distribuído pelo Espírito Santo, de fato, é destinado à edificação da Igreja, e a Igreja, através de seus pastores, reconhece sua autenticidade.
Falarei novamente, na próxima quarta-feira, sobre esta grande mulher "profetiza", que fala com grande atualidade também hoje a nós, com a sua corajosa capacidade de discernir os sinais dos tempos, com o seu amor pela criação, a sua medicina, a sua poesia, a sua música, que hoje é reconstruída, o seu amor por Cristo e pela Sua Igreja, sofredora também naquele tempo, ferida também naquele tempo pelos pecados dos padres e dos leigos, e tanto mais amada como corpo de Cristo. Assim, Santa Hildegarda fala a nós; conversaremos novamente na próxima quarta-feira. Obrigado pela vossa atenção.
Ao final da Catequese, o Papa dirigiu aos peregrinos de língua portuguesa a seguinte saudação:
de modo especial ao grupo de irmãs salesianas e aos fiéis da paróquia de Évora. Seguindo o exemplo de Santa Hildegarda de Bingen, possais sempre colocar os dons de Deus a serviço da edificação das vossas comunidades. Desça a minha bênção sobre vós e vossas famílias.
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