Palavra do Papa

Catequese de Bento XVI na proximidade do Natal

Queridos irmãos e irmãs!

Com esta última Audiência antes das Festividades Natalícias, aproximamo-nos, estremecidos e cheios de admiração, no "lugar" onde, para nós e para a nossa salvação, tudo começou, onde tudo encontrou um cumprimento, lá onde se encontraram e se cruzaram as expectativas do mundo e do coração humano com a presença de Deus. Podemos, já agora, antecipar a alegria por aquela pequena luz que se entreviu, que da gruta de Belém começa a irradiar sobre o mundo. No caminho do Advento, que a liturgia nos convidou a viver, fomos acompanhados para acolher com disponibilidade e reconhecimento o grande Acontecimento da vinda do Salvador e a contemplar, maravilhados, a sua entrada no mundo.

A alegre espera, característica dos dias que precedem o Santo Natal, é certamente a atitude fundamental do cristão que deseja viver frutuosamente o renovado encontro com Aquele que vem habitar em meio a nós: Cristo Jesus, o Filho de Deus feito homem. Re-encontremos essa disposição de coração, e a façamos nossa, naqueles que por primeiro acolheram a vinda do Messias: Zacarias e Isabel, os pastores, o povo simples e, especialmente, Maria e José, os quais, em primeira pessoa, experimentaram as adversidades, mas, sobretudo, a alegria pelo mistério deste nascimento. Todo o Antigo Testamento constitui uma única grande promessa, que devia se cumprir com a vinda de um salvador poderoso. Disso nos dá particular testemunho o livro do profeta Isaías, o qual nos fala do percurso da história e de toda a criação na direção de uma redenção destinada a dar novas energias e nova orientação a todo o mundo. Assim, ao lado da expectativa dos personagens das Sagradas Escrituras, encontra espaço e significado, através dos séculos, também a nossa expectativa, aquela que, neste dias, estamos experimentando e que nos mantém despertos ao longo de todo o caminho de nossa vida. Toda a existência humana, de fato, é animada por esse profundo sentimento, pelo desejo de que o que há de mais verdadeiro, de mais belo e maior que entrevimos e intuímos com a mente e o coração possa vir ao nosso encontro e, diante de nossos olhos, possa tornar-se concreto e nos levante.

"Eis que vem o Senhor onipotente: será chamado Emanuel, Deus conosco" (Antífona de entrada, Santa Missa de 21 de dezembro). Frequentemente, nestes dias, repetimos essas palavras. No tempo da liturgia, que reatualiza o Mistério, está às portas Aquele que vem para nos salvar do pecado e da morte, Aquele que, depois da desobediência de Adão e Eva, abraça-nos e abre para nós o acesso à vida verdadeira. Explica-o Santo Irineu, em seu tratado "Contra as heresias", quando afirma: "O Filho mesmo de Deus veio 'em uma carne similar àquela do pecado' (Rm 8,3) para condenar o pecado e, depois de tê-lo condenado, excluí-lo completamente do gênero humano. Chamou o homem à semelhança consigo mesmo, o fez imitador de Deus, colocou-o sobre a estrada indicada pelo Pai para que pudesse ver a Deus, e lhe deu como dom o próprio Pai" (III, 20, 2-3).

Aparecem-nos algumas ideias preferidas de Santo Irineu, como a de que Deus, com o Menino Jesus, chama-nos novamente à semelhança consigo mesmo. Vemos como é Deus. E, assim, recordamo-nos que nós devemos ser semelhantes a Deus. E devemos imitá-lo. Deus se doou, Deus se deu a nossas mãos. Devemos imitar Deus. E, finalmente, a ideia de que, assim, podemos ver Deus. Uma ideia central de Santo Irineu: o homem não vê Deus, não pode vê-lo e, assim, está nas trevas com relação à verdade, com relação a si mesmo. Mas o homem, que não pode ver Deus, pode ver Jesus. E, assim, vê Deus, assim começa a ver a verdade, assim começa a viver.

O Salvador, portanto, vem para reduzir à impotência a obra do mal e tudo aquilo que pode manter-nos distantes de Deus, para restituir-nos ao antigo esplendor e à primitiva paternidade. Com a sua vinda entre nós, Deus indica-nos e dá-nos também uma missão: exatamente aquela de ser semelhantes a Ele e de tender à verdadeira vida, de chegar à visão de Deus no rosto de Cristo. Ainda Santo Irineu afirma: "O Verbo de Deus colocou a sua morada entre os homens e se fez Filho do homem, para acostumar o homem a perceber Deus e para acostumar Deus a colocar sua morada no homem segundo a vontade do Pai. Por isso, Deus nos deu como 'sinal' da nossa salvação aquele que, nascido da Virgem, é o Emanuel" (ibidem). Também aqui há uma ideia central muito bela de Santo Irineu: devemos acostumar-nos a perceber Deus. Deus está normalmente distante da nossa vida, das nossas ideias, do nosso agir. Ele veio ser próximo a nós e devemos habituar-nos a estar com Deus. E, audaciosamente, Irineu ousa dizer que também Deus deve se habituar a estar conosco e em nós. E que Deus, talvez, deveria acompanhar-nos no natal, habituar-nos a Deus, como Deus se deve habituar a nós, à nossa pobreza e fragilidade. A vinda do Senhor, por isso, não pode ter outro propósito senão aquele de ensinar-nos a ver e amar os acontecimentos, o mundo e tudo aquilo que nos circunda, com os olhos próprios de Deus. O Verbo feito criança ajuda-nos a compreender o modo de agir de Deus, a fim de que sejamos capazes de deixar-nos sempre mais transformar pela sua bondade e pela sua infinita misericórdia.

Na noite do mundo, deixemo-nos ainda surpreender e iluminar por esse ato de Deus, que é totalmente inesperado: Deus se faz criança. Deixemo-nos surpreender, iluminar pela Estrela que inundou de alegria o universo. Jesus Menino, chegando a nós, não nos encontre despreparados, empenhados somente em tornar mais bela a realidade exterior. O cuidado que temos para tornar mais brilhantes as nossas estradas e as nossas casas incentive-nos ainda mais a predispor o nosso ânimo para encontrar Aquele que virá para visitar-nos, que é a verdadeira beleza e a verdadeira luz. Purifiquemos, portanto, a nossa consciência e a nossa vida daquilo que é contrário a essa vinda: pensamentos, palavras, atitudes e ações, dispondo-nos a realizar o bem e contribuir para realizar, neste nosso mundo, a paz e a justiça para todo o homem e a caminhar assim ao encontro do Senhor.

Símbolo característico do tempo natalício é o presépio. Também na Praça de São Pedro, segundo o costume, ele está quase pronto e idealmente se mostra à Roma e ao mundo todo, representando a beleza do Mistério do Deus que se fez homem e armou sua tenda em meio a nós (cf. Jo 1,14). O presépio é expressão da nossa expectativa, de que Deus se aproxima de nós, de que Jesus se aproxima de nós, mas é também expressão de dar graças Àquele que decidiu partilhar da nossa condição humana, na pobreza e na simplicidade. Alegro-me porque permanece viva e, também, se redescobre a tradição de preparar o presépio nos lares, nos lugares de trabalho, nos espaços de encontro. Esse genuíno testemunho de fé cristã possa oferecer também hoje, para todos os homens de boa vontade, um sugestivo ícone do amor infinito do Pai por nós todos. Os corações das crianças e dos adultos possam ainda surpreender-se frente a ele.

Queridos irmãos e irmãs, a Virgem Maria e São José ajudem-nos a viver o Mistério do natal com renovada gratidão ao Senhor. Em meio à atividade frenética dos nossos dias, esse tempo dê-nos um pouco de calma e de alegria e nos faça tocar com a mão a bondade do nosso Deus, que se faz Menino para nos salvar e dar nova coragem e nova luz ao nosso caminho. É esse o meu desejo para um santo e feliz Natal: dirijo-o com afeto a vós aqui presentes, aos vossos familiares, em particular aos doentes e aos sofredores, bem como às vossas comunidades e a quantos vos são queridos.





Ao final da Catequese, o Papa dirigiu aos peregrinos de língua portuguesa a seguinte saudação:

Amados peregrinos de língua portuguesa,

a minha cordial saudação de boas vindas para todos, com votos de um santo Natal, portador das consolações e graças do Deus Menino: nos vossos corações, famílias e comunidades, resplandeça a luz do Salvador, que nos revela o rosto terno e misericordioso do Pai do Céu. Em seu Nome, eu vos abençoo, pedindo a Deus um Ano Novo sereno e feliz para todos.

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