Justiça determinou desligamento dos aparelhos que mantêm a vida do menino de apenas dez meses, mas pais discordam
Da Redação, com Rádio Vaticano em italiano
Continua repercutindo nos meios de comunicação tradicionais, sobretudo nas redes sociais, o caso Charlie Gard. O menino inglês de dez meses possui uma doença rara, síndrome de miopatia mitocondrial; a justiça determinou o desligamento dos aparelhos, mesmo contra a vontade dos pais.
Os médicos do hospital Great Ormond Street, de Londres, concederam um pouco mais de tempo aos pais antes de desligar as máquinas que mantém Charlie vivo. Os pais apelaram contra a decisão, mas esta foi validada por três cortes inglesas e pela própria Corte Europeia de Direitos do Homem.
Comoção, empatia, solidariedade são os sentimentos que se entrelaçam com análises médico-científicas, bioéticas e jurídicas sobre o caso. As redes sociais têm apresentado um misto de opiniões a respeito, tendo em vista a complexidade da situação. Com as hashtags “#CharlieGard”, “#Charliesfight” e “#pray4Charlie”, multiplicam-se informações sobre diversas vigílias de oração que estão surgindo em prol do menino – só na Itália são mais de cem – além de manifestações e petições para que Charlie possa ir aos Estados Unidos para um tratamento experimental.
Entre os artigos, ontem foi publicado um de Dom Elio Sgreccia, presidente emérito da Pontifícia Academia para a Vida e atualmente confirmado como membro ad honorem da instituição. Dom Sgreccia mencionou em sua análise o parecer médico de que morte seria a melhor solução nesse caso, mas destacou que mesmo que a pessoa não possa ser curada ela tem direito de receber assistência e cuidado.
Quem também comentou o assunto foi o diretor do Instituto de Bioética da Universidade Católica do Sagrado Coração, Antônio Spagnolo. “O que podemos dizer é que, seguramente, antecipar a morte de uma criança, de uma pessoa em geral, nunca representa uma resposta a uma necessidade: se há dor, se há sofrimento, há cuidados paliativos, há todo um modo de cuidar, de ajudar os pais a elaborar o luto, fazer com que a morte possa acontecer em um lugar conhecido, na casa, na família…Parece que faltou tudo isso neste caso em que parece quase um imperativo que a única coisa a fazer seja antecipar a morte”, declarou.
Spagnolo vê com preocupação essa medida, que traz também questões relacionadas a projetos de lei que no país seriam implementados e que referem a juízes reflexões ou resoluções de problemáticas que precisam ser enfrentadas dentro de uma relação entre médicos e pacientes, entre médicos e os pais desta criança.
O Papa Francisco também se pronunciou sobre o assunto. Ele expressou seu desejo de que não seja negligenciado o desejo dos pais de Charlie de acompanhar seu filho até o fim. Spagnolo considera inexplicável que os médicos não tenham aceitado isso, tendo em vista que há tempos existem os cuidados oferecidos aos pacientes, às crianças que não têm perspectivas de tratamento, mas que sempre podem ser cuidadas.
“Este elemento que o Papa destacou deveria ser a atitude mais correta no caso dessas crianças, assim como desejam os pais, de acompanhá-lo. Por que motivo se deveria remover instrumentos que, na realidade, podem, no entanto, acompanhar a criança com a melhor qualidade de vida possível, com analgesia, o conforto da nutrição, da hidratação…”.
Hospital de Roma oferece ajuda
Entre as várias intervenções que têm aparecido na mídia a respeito do caso, está a do Hospital Pediátrico Menino Jesus, em Roma, que se disponibilizou a receber Charlie.
“Estamos próximos aos pais na oração e, se esse é o desejo deles, disponíveis para acolher a criança deles conosco, pelo tempo que lhe restará de vida”, disse a presidente do hospital, Mariella Enoc.
Ela explicou que pediu ao diretor de saúde para verificar com o Hospital Great Ormond Street, de Londres, onde Charlie está hospitalizado, se há condições de saúde para uma eventual transferência do menino.
Mariella referiu-se também ao tweet do Papa Francisco na sexta-feira passado: “Defender a vida humana, sobretudo quando é ferida pela doença, é um compromisso de amor que Deus confia a cada ser humano”. Ela destacou que as palavras do Santo Padre, referidas ao pequeno Charlie, resume bem a missão do hospital Menino Jesus.