Agora é a hora de derrubar os muros do ódio, de lavar as vestes encharcadas de sangue e violência no perdão e na reconciliação, disse Parolin em Missa em Juba, no Sudão do Sul
Da redação, com Vatican News
O secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, está em seu penúltimo dia de visita ao Sudão do Sul. Na manhã desta quinta-feira, 7, ele celebrou a Santa Missa para cerca de 15 mil pessoas, no Parque do Mausoléu John Garang. O lugar é um memorial dedicado ao falecido líder do Movimento/Exército de Libertação Popular do Sudão e primeiro vice-presidente do Sudão após os Acordos de Paz. É o mesmo local onde o Papa Francisco celebraria.
Todos os bispos do Sudão do Sul fizeram-se presentes e concelebraram com o cardeal. Nas primeiras filas, estavam sentados líderes anglicanos, pentecostais, evangélicos e outros cristãos que são membros do Conselho de Igrejas que, antes da missa, tiveram um encontro particular com o cardeal. Além de representantes religiosos, autoridades civis também participaram da missa, como o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir Mayardit e o primeiro vice-presidente, Riek Machar.
Antes da celebração, o cardeal foi acolhido por um grupo de moças e rapazes que, descalços, com camisetas brancas e vestes tribais, dançaram ao som de tambores.
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A bênção do Papa
O cardeal iniciou sua homilia levando a saudação e a bênção do Papa Francisco. E suas palavras, o Santo Padre quis muito estar no Sudão hoje para uma peregrinação ecumênica pela paz e reconciliação neste jovem país tão cheio de oportunidades e tão gravemente afligido.
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Cardeal Parolin moveu sua reflexão a partir da realidade do povo sul-sudanês. Diante das dificuldades e desafios, indicou o caminho que, como disse, é o do Evangelho e não o de “nossas formas habituais de agir e reagir para enfrentar o mal”.
A mensagem é “diferente”, enfatizou o cardeal, é “recusar-se a responder ao mal com o mal”. “Renunciem à vingança… Sempre amem e perdoem”, pediu o cardeal àquele povo do Sudão do Sul atormentado por anos de guerra civil. “A carne nos leva a responder ao mal de algumas maneiras”, mas Jesus nos convida a nos abrir “à coragem do amor”. Um amor que “não se aprisiona na mentalidade do ‘olho por olho, dente por dente’, não responde ao mal com vingança, não resolve conflitos com violência”. No entanto, enfatizou o Parolin, “isso não significa tornar-se vítima passiva, ou ser fraco e resignado diante da violência. Ao contrário, significa desarmar o mal, a violência e resistir à opressão”.
O único caminho para o futuro: viver como irmãos
“O mal do mundo não pode ser vencido com as armas do mundo”, comentou o cardeal, interrompido por aplausos. “Se você quer paz, não pode obtê-la através da guerra. Se você quer justiça, não pode obtê-la por métodos injustos e corruptos. Se você quer reconciliação, não pode usar a vingança. Se você quer servir seus irmãos e irmãs, não pode tratá-los como escravos. Se queremos construir um futuro de paz, então só há um caminho a percorrer: amar-nos uns aos outros para viver como irmãos e irmãs”. Porque “quando deixamos muito espaço para o ressentimento e a amargura do coração, quando envenenamos nossas memórias com ódio, quando cultivamos a raiva e a intolerância, nos destruímos”.
Ações concretas para o processo de paz
O representante do Papa disse ainda que “agora é o momento em que Deus, que sempre ouve o clamor de seu povo oprimido, nos pede que sejamos artífices de um novo futuro. Agora é a hora da responsabilidade e das ações concretas, a hora de derrubar os muros do ódio, de quebrar o jugo de toda injustiça, de lavar as vestes encharcadas de sangue e violência no perdão e na reconciliação”.
Daí, a oração para que “o Senhor toque o coração de todos, e em particular daqueles que ocupam cargos de autoridade e grande responsabilidade, para que cesse o sofrimento causado pela violência e pela instabilidade e que o processo de paz e reconciliação possa avançar rapidamente com ações concretas e efetivas”, afirmou o cardeal, diante do povo e de governantes do país.
Encontro com o Parlamento Nacional
A mesma esperança foi reiterada na reunião desta manhã com os deputados da Assembleia Legislativa Nacional de Transição Revitalizada, o Parlamento Nacional de Transição, o parlamento nacional criado para facilitar a implementação dos Acordos de Paz de 2018. O convite para visitar a sede do Parlamente chegou ontem à tarde.
“Aceitei imediatamente porque estou ciente da sua importância para a democracia”, disse o secretário de estado do Vaticano, reunindo na Blue Room (Sala Azul) uma representação dos cerca de 500 parlamentares, dos quais – sublinhou o orador – mais de 20% são mulheres. “Vocês representam o povo e seus interesses”, observou Parolin, e para o povo devemos cumprir as exigências de “justiça, liberdade e prosperidade” impressas no emblema do Parlamento.
Como na conversa com o presidente do país, o cardeal também repetiu aos parlamentares as palavras do Papa em seu retiro no Vaticano com os líderes do Sudão do Sul em 2019: “Sabemos que haverá dificuldades, mas, por favor, sigam adiante. Não fiquem presos nas dificuldades. Você devem ir para a frente pelo bem e segurança do povo”.
Diálogo com líderes ecumênicos
Aos representantes do Conselho de Igrejas, o Cardeal Parolin deixou três indicações em nome do Papa. O Pontífice faria, no Sudão do Sul, uma peregrinação ecumênica com o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, e o moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia.
A primeira indicação: “Anunciar Cristo, que é a resposta às expectativas, desejos e sonhos de todas as pessoas”. Depois, a “unidade”, apesar das “diferenças” e, finalmente, “satisfazer as demandas da população por justiça, paz, liberdade e prosperidade”.
“É um trabalho árduo, mas temos que fazê-lo e fazê-lo juntos”, disse Parolin, que confidenciou sua emoção pessoal na visita de ontem ao campo de deslocados de Bentiu. “A experiência no campo realmente me chocou. Pessoas que vivem em condições elementares. Muitas crianças… Elas nos dão esperança para o futuro. Devemos nos unir e unir forças religiosas e políticas para dar justiça a essas pessoas”.