As conversas particulares com Ir. Lúcia dos Santos, a terceira dos pastorinhos de Fátima que morreu em 13 de fevereiro de 2005, é uma ampla visão do terceiro Segredo. São alguns dos tópicos do livro-entrevista “a última vidente de Fátima”, escrito pelo secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone e pelo jornalista De Carli. O livro é editado pela RAI-Eri Rizzoli. Recentemente, o Cardeal mostrou pela primeira vez durante um programa televiso italiano, o documento original no qual a Ir. Lúcia anotou a terceira parte do segredo revelado pela Virgem Maria.
O Cardeal Bertone fala da Irmã Lúcia como uma mulher extraordinariamente iluminada, pacata, tranqüila, rica de espiritualidade, muito alegre também. “Embora não fossem visíveis em seu rosto os sinais de todos os dramas, de todos acontecimentos históricos que marcaram a humanidade e sua vida, sinais que carregou consigo por muito tempo. Era, certamente, uma amiga de Deus, uma devota extraordinária de Maria e uma grande amiga da humanidade”.
O livro descreve todas as etapas que conduziram em 2000, por vontade de João Paulo II, a revelação da parte então não revelada do segredo. Foi o próprio autor do livro, antes de ser cardeal e secretário da Congregação para a Doutrina da Fé a cuidar do delicado processo. As 190 páginas levam o leitor a reviver a experiência do encontro com Deus vivido pelos pastorinhos, a “gramática celeste” do anúncio mariano, a figura e a personalidade de uma carmelita “tenaz, insistente e exuberante”. Nele é revelado também argumentos para calar teorias sobre o “quarto Segredo”, que insinua cenário apocalíptico e silêncios culposos.
“Acusar os papas João XXIII e Paulo VI de haver impedido a publicação do segredo me parece fantasmagórico. Não quero entrar em polêmica. João XXIII e Paulo VI leram o texto do segredo na íntegra, o texto autêntico escrito por Ir. Lúcia, e acharam melhor não publicá-lo. É um julgamento. Ir. Lúcia mesma, em uma das conversas, me disse: ‘eu ofereço o que eu ouvi, o que eu percebi, o que eu gravei e o que eu escrevi, mas cabe ao Papa tomar uma decisão sobre este texto e sobre tudo o que me diz respeito’. Ele desejava, de fato, a publicação de seu livro para responder globalmente a todas as cartas que os fiéis lhe escreviam. Os dois papas decidiram não publicá-lo porque não achavam tão significativo, provavelmente, pela realidade da Igreja naquele momento histórico. Infelizmente, há esta expectativa, meio atormentada, de uma profecia sobre a apostasia da Igreja. Eu diria que há uma obstinação na espera desta profecia sobre a apostasia da Igreja”. Afirmou o Secretário
Clara também é a resposta à pergunta sobre a aparente contradição entre a visão, segundo a qual o Papa morre, e os dramáticos fatos de 13 de maio, quando a loucura de Ali Agca se lançou sobre um “bispo vestido de branco”. "A oração e a penitência são mais fortes que o mal e as armas", explica o Cardeal Bertone. "Por isso, muitos que pensavam que o Segredo não foi revelado porque João Paulo II não morreu, simplesmente não pensaram que a profecia não é guiada por uma fatalidade que deve acontecer a todo custo”.
“Quando Ir. Lúcia soube do atentado ao papa, em 13 de maio, ela e todo o convento rezaram durante toda à noite. Ela mesma me disse que pensou que fosse o momento da realização daquela terrível profecia e que João Paulo II fosse o papa do terceiro segredo. Portanto, há um sufrágio, uma prova da bondade da interpretação que foi dada, que escrevemos. Não é uma interpretação infalível obviamente, não exige a fé de ninguém, porém a lógica, a dinâmica das coisas e a interpretação da profecia, do evento conduzem a estas conclusões”. Concluiu o cardeal ao encerrar a entrevista.