Papa Francisco visitará Genebra, na Suíça, por ocasião dos 70 anos do Conselho Ecumênico de Igrejas
Denise Claro
Da redação
O Papa Francisco visitará a Suíça nesta quinta-feira, 21, por ocasião dos 70 anos do Conselho Ecumênico de Igrejas. O evento tem, para Francisco, uma grande importância ecumênica, dadas as boas relações entre o Conselho Ecumênico e a Igreja Católica através do Pontifício Conselho para a Unidade dos cristãos.
Esta não é a primeira viagem de Francisco como “peregrino ecumênico”. Em 2016, esteve na Suécia, para a comemoração dos 500 anos da Reforma Luterana. Também não se pode esquecer as relações fraternas do Pontífice com o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, e com o Patriarca de Moscou, Kirill.
O bispo da diocese de Cornélio Procópio (PR) e membro da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da CNBB, Dom Manoel João Francisco, ressalta que esta viagem do Papa a Genebra é um gesto de grande simbolismo, mas lembra que a Igreja nem sempre contribuiu, em sua história, para a unidade dos cristãos.
“Nós católicos também somos culpados pelas separações que aconteceram no decorrer dos tempos. Com certeza, disso somos conscientes, até já pedimos perdão, mas as cicatrizes que ficaram são profundas e não desaparecem com facilidade. Precisamos ter gestos concretos de colaboração com os irmãos das outras Igrejas e também das outras religiões. Neste sentido, temos um longo caminho a percorrer”, ressalta Dom Manoel.
Nos últimos tempos, especialmente, a partir do Concílio Vaticano II, a Igreja católica tem dado passos significativos na caminhada ecumênica, em nível mundial, e também em nível local. Um exemplo concreto são as Semanas de Oração pela Unidade Cristã.
“No início, achava-se que a unidade aconteceria quando todos se tornassem católicos. Rezava-se, por isso, pela catolicização dos “irmãos separados”. Era esta a expressão e era assim que se entendia. Hoje, a oração é para que sejamos sempre mais irmãos e para que um dia vivamos a mesma fé, embora expressa de formas diversas, quer na liturgia, quer na organização eclesial e, até mesmo na expressão teológica.”, explica Dom Manoel.
São vários os documentos da Igreja que aprofundam o tema do Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso. Três são frutos do Concílio Vaticano II: “Unitatis Redintegratio”, sobre o Ecumenismo; “Dignitatis Humanae”, sobre a Liberdade Religiosa; “Nostra Aetate”, sobre as Relações da Igreja com as Religiões Não-Cristãs.
Depois do Concílio Vaticano II, a Igreja católica publicou também diversos documentos para orientar os fieis.
Como exemplo, temos o Diretório Ecumênico “Ad totam Ecclesiam” (1967); Diálogo e Anúncio (Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso – 1991); Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo (1994); A dimensão ecumênica na formação dos que trabalham no ministério pastoral (1998); Diálogo católico-pentecostal: evangelização, proselitismo e testemunho comum (1999); Ut unum sint (1995) – em que o Papa São João Paulo II destaca que “na Igreja Católica, a caminhada ecumênica é irreversível”; O cristianismo e as religiões (1997).
Para Dom Manoel, o ecumenismo deve ser vivido por todos os cristãos, e cada fiel pode vivê-lo a partir do respeito mútuo, evitando todo o tipo de proselitismo e intolerância. “Algo que já acontece nas nossas pastorais são as parcerias em trabalhos sociais como na Pastoral da Criança, da Saúde, da Pessoa Idosa, no trabalho com os migrantes.”
Há lugares de culto ecumênico, onde diversas igrejas podem celebrar seus cultos em horários diferentes, como lembra Dom Manoel. “Um bom exemplo foi o que houve em São Paulo recentemente, após o incêndio, quando a igreja luterana desabou com a queda do prédio e a paróquia católica colocou sua igreja à disposição dos luteranos até que consigam reconstruir seu templo”.
Dom Manoel espera que a ida do Papa Francisco à Suíça seja um encontro para fortalecer essas atividades que acontecem entre os fieis das diversas igrejas.
“Que estimule a Semana de Oração pela Unidade Cristã; incentive os Conselhos Nacionais de Igrejas; fortaleça a reflexão teológica com enfoque ecumênico; motive o empenho pela superação da intolerância religiosa, e todo o trabalho das Igrejas na luta contra o tráfico e exploração das pessoas; encoraje as iniciativas em favor da paz, e defesa da dignidade das pessoas. Enfim, que seja para todos os católicos uma oportunidade de descoberta que a dimensão ecumênica é constitutiva do ser cristão e consequentemente do ser católico.”