O bispo Agapitus Nfon refletiu a respeito da crise sócio-política que atinge o país e agradece as palavras do Santo Padre
Da redação, com Vatican News
“É muito doloroso. Desde então, as pessoas não têm sido felizes. As crianças estão de luto, os pais estão de luto.”
Essas palavras de pesar foram expressas pelo bispo Agapitus Nfon de Kumba, ao dar uma descrição sombria da reação do povo de Kumba depois que homens armados atacaram uma escola particular e mataram pelo menos seis alunos no sábado.
O Bispo Nfon explicou a situação em Kumba e destacou o longo conflito nas regiões Noroeste e Sudoeste do país.
A proximidade do Papa à Kumba
Durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 28, o Papa Francisco expressou tristeza pelos trágicos assassinatos e rezou para que “as regiões atormentadas do Noroeste e Sudoeste do país possam encontrar a paz”. O Papa também expressou sua proximidade com as famílias, a cidade de Kumba e todo o Camarões.
O Bispo Nfon agradeceu ao Papa Francisco por condenar o ataque bárbaro, acrescentando que as palavras de Francisco percorrerão um longo caminho para tocar muitos corações. “Muitas pessoas saberão que a Igreja é contra o que está acontecendo”, disse o bispo. “E as pessoas da Diocese de Kumba se sentirão consoladas com as palavras do Santo Padre”, reiterou.
Medo e tristeza
O bispo explicou que, desde os trágicos assassinatos de sábado, as crianças da região não vão à escola, embora as escolas continuem abertas, por um misto de medo e tristeza. Ele observou que muitas pessoas estão de luto pelas vítimas do ato hediondo.
“Eles ficaram em casa por causa do medo; todos estão muito assustados”, disse ele. No entanto, o religioso expressou seu desejo de ver as crianças voltando à escola após superarem estes tristes acontecimentos.
Algumas escolas em Camarões reabriram recentemente após fecharem por quatro anos devido à luta contínua de grupos que pedem a criação de um estado independente a ser conhecido como Ambazonia.
Situação sócio-política
O conflito de quatro anos em Camarões deixou vítimas para trás. Dom Nfon lembrou que a província eclesiástica de Bamenda, formada por cinco dioceses da região noroeste e sudoeste, foi particularmente atingida pela crise.
O bispo explicou que algumas das pessoas vivem entre arbustos e outras tornaram-se deslocadas internamente em cidades por todo o país. Muitos outros — cerca de 50 mil — fugiram para a vizinha Nigéria como refugiados, fugindo do sofrimento e da insegurança que o conflito trouxe.
“Os civis, as pessoas inocentes estão contra a parede”, explicou o bispo. “Eles estão sofrendo muito e têm medo dos militares e daqueles que lutam pela independência. Eles estão na miséria”, lamentou.
Apelo dos bispos
Dom Nfon disse que, no início do conflito, os bispos da província eclesiástica de Bamenda redigiram um memorando explicando a situação e sugerindo possíveis medidas para conter as tensões. Mas ele disse que seus esforços foram em sua maioria ignorados por todas as partes.
“Nossa mensagem foi que deve haver um diálogo inclusivo entre o governo e aqueles que lutam pela independência”, disse o bispo, acrescentando que mesmo os líderes do movimento pela independência que estão na prisão deveriam ser libertados e autorizados a participar nas negociações com o governo.
Em outubro de 2019, o governo camaronês, em uma tentativa de acabar com a crise, convocou negociações que foram nomeadas de “Diálogo Nacional”. O governo também concedeu “status especial” às regiões Noroeste e Sudoeste de língua inglesa em dezembro de 2019.
Dom Nfon, porém, disse que esta iniciativa de diálogo do governo “não era um diálogo”, porque os representantes dos interessados não estavam presentes.
“Como você dialoga com pessoas que não estão lá?”, indaga o bispo.
Apelando para o fim da violência, o bispo exortou as forças militares e “os meninos que lutam entre os arbustos” a baixarem as armas, porque “não podemos discutir, não podemos encontrar a paz, não podemos encontrar justiça, não podemos encontrar tranquilidade em uma sociedade em que todos estão lutando”.