Bento XVI recebeu em audiência, esta manhã, na Sala dos Suíços, da residência pontifícia de verão, em Castel Gandolfo, cerca de 200 membros do Comitê Executivo do "Internacional dos Democrata-cristãos e de Centro" (IDC), um movimento político que reúne mais de 100 partidos em todo o mundo.
O Papa iniciou seu discurso, falando dos princípios compartilhados por todos esses partidos, apesar da variedade de sua proveniência: a centralidade da pessoa e o respeito aos direitos humanos, o compromisso pela paz e a promoção da justiça para todos. Princípios fundamentais _ afirmou o pontífice _ e que estão relacionados entre si.
"Com efeito, quando os direitos humanos são violados, é a própria dignidade da pessoa a ser ferida; se a justiça vacila, a paz está em perigo. Por sua vez, a justiça pode-se dizer realmente humana, se a visão ética e moral sobre a qual se funda é centralizada na pessoa e na sua inalienável dignidade".
A seguir, Bento XVI fala das profundas transformações que as nossas comunidades vivem. Na economia, por exemplo, há uma tendência que identifica o bem com o lucro e, de tal modo, se dissolve a força do ethos (moral ou ética), acabando por ameaçar o próprio lucro. Na família, quando suas bases são ameaçadas, é a própria paz que é ameaçada e, conseqüentemente, se vai ao encontro de injustiças e violências.
Diante dessa realidade, o Papa encoraja os políticos a prosseguirem seus esforços de servir ao bem comum, trabalhando para que não se difundam nem se reforcem ideologias que podem obscurecer ou confundir as consciências, e veicular a ilusória visão da verdade e do bem.
Outro âmbito importante de ação dos democrata-cristãos é a liberdade religiosa, direito fundamental que o Santo Padre define como "inextinguível, inalienável e inviolável". Um direito radicado na dignidade de todo ser humano e reconhecido em vários documentos internacionais.
O exercício de tal liberdade, afirma o Papa, compreende também o direito de mudar de religião, que deve ser garantido, não apenas juridicamente, mas também na prática cotidiana. "A abertura à transcendência constitui uma garantia indispensável para a dignidade humana, porque existem anseios e exigências no coração de toda pessoa, que encontram compreensão e resposta somente em Deus".
A liberdade religiosa deu ao Papa a ocasião para introduzir um tema que, na sua opinião, está diretamente relacionado com essa questão: o terrorismo.
"O terrorismo é um fenômeno gravíssimo que, muitas vezes, desvirtua Deus e despreza de maneira injustificável a vida humana. Reconheço que a sociedade tem o direito de se defender, mas esse direito, como qualquer outro, deve ser sempre exercitado no pleno respeito das regras morais e jurídicas, inclusive no que concerne à escolha dos objetivos e dos meios".
O pontífice advertiu que, "nos sistemas democráticos, o uso da força nunca justifica a renúncia aos princípios do Estado de direito". Não é possível proteger a democracia, ameaçando seus alicerces. Assim sendo _ frisou o Papa _ o terrorismo deve ser combatido com determinação e eficácia, conscientes de que, se o mal é um mistério infiltrado, a solidariedade dos homens no bem é um mistério ainda mais difuso.
Nessa perspectiva, a Igreja Católica oferece elementos de reflexão úteis, para promover a segurança e a justiça, por meio de sua Doutrina Social. Mas a Igreja sabe que não é sua tarefa fazer valer politicamente essa sua doutrina. Seu objetivo é servir à formação da consciência na política e contribuir para que cresça a percepção das verdadeiras exigências da justiça e, com ela, a disponibilidade a agir com base nelas.
Por isso _ continua o Papa _ a coerência dos cristãos com o Evangelho é indispensável também na vida política, para que o "sal" do compromisso apostólico não perca o seu "sabor" e a "luz" dos ideais evangélicos não seja obscurecida na sua ação cotidiana.
Antes do discurso de Bento XVI, o presidente do Comitê Executivo dos democrata-cristãos, o deputado italiano Pier Ferdinando Casini, saudou o Santo Padre, afirmando que os políticos vêem no seu magistério, um chamado simples, mas profundo e cristalino, à centralidade do homem e à ética da responsabilidade, sem esquecer a referência determinante à identidade cristã.
Casini ilustrou ao Santo Padre, o campo de ação de seus membros em várias partes do mundo. Em áreas do mundo difíceis como a Ásia, os democrata-cristãos lutam contra toda forma de integrismo religioso. Na África, estão comprometidos na construção de uma sociedade mais justa, contra a pobreza e a miséria.
"Na América Latina _ sublinhou Casini _ a luta é contra o populismo, que se propõe como fácil, mas enganadora solução contra a exploração dos mais fracos."