Bento XVI lançou um apelo, neste domingo, em Nápoles, sul da Itália, em favor da "luta contra todas as formas de violências". O apelo do pontífice foi feito durante uma missa campal presidida por ele, no contexto de sua visita a Nápoles, durante a qual também denunciou a atuação, na cidade, da "Camorra", como é conhecida a máfia napolitana.
O pontífice chegou a Nápoles, à Praça da Estação Marítima, no porto napolitano, pouco depois das 9h deste domingo. Logo após, na Praça do Plebiscito, presidiu à concelebração eucarística que se concluiu com a recitação da oração mariana do Angelus.
Esta manhã, o Santo Padre celebrou a missa na principal praça de Nápoles, a Praça do Plebiscito _ para milhares de fiéis, sob chuva e forte vento. Em sua homilia, o papa reconheceu que, para muitos, nessa cidade do sul da Iália, a vida é bastante difícil, em virtude "da pobreza, da falta de moradia, do desemprego e da falta de perspectivas para o futuro".
"Não se trata apenas do número lamentável de crimes da "Camorra", analisou o pontífice _ mas também do fato que a violência tende a se tornar uma mentalidade difusa, que se insinua na trama da sociedade… particularmente entre a juventude", sublinhou.
Bento XVI pediu mais esforços, voltados para a prevenção da violência, tanto na escola quanto no trabalho, e exortou as instituições a ajudarem os jovens, para que ocupem de modo sadio seu tempo livre.
"É necessária uma intervenção que envolva todos na luta contra toda e qualquer forma de violência, partindo da formação das consciências e transformando as mentalidades, as atitudes e os comportamentos cotidianos", disse o pontífice.
A missão da Igreja, ressaltou o papa, é nutrir sempre, a fé e a esperança do povo cristão. Nesse contexto, sublinhou que a semente da esperança existe em Nápoles e pode germinar, apesar dos problemas e dificuldades. "Peçamos ao Senhor, exortou o Santo Padre, que faça crescer na comunidade cristã napolitana, uma fé autêntica e uma esperança sólida, capazes de combater, eficazmente, o desânimo e a violência." Embora reconhecendo que Nápoles necessita de uma séria intervenção política, para solucionar seus problemas, o papa disse que a cidade precisa, porém, antes de tudo, de uma "profunda renovação espiritual", de fiéis que confiem plenamente em Deus e que, com a Sua ajuda, se empenhem em difundir na sociedade, os valores do Evangelho.
Na reflexão que precedeu a oração mariana do Angelus, recitada ao término da celebração eucarística, o pontífice dirigiu uma saudação particular às numerosas delegações provenientes de todo o mundo, para participar, na capital partenopéia _ Nápoles _ do Encontro Internacional de Oração pela Paz, promovido pela comunidade romana de Santo Egídio, no marco do 21º aniversário do primeiro desses encontros, realizado em Assis, a convite de João Paulo II.
O encontro deste ano tem como tema: "Por um mundo sem violência, Religiões e culturas em diálogo". O papa fez votos para que essa importante iniciativa cultural e religiosa "possa contribuir para a consolidação da paz no mundo", recordando que a Igreja celebra neste domingo, o Dia Mundial das Missões, com um tema muito significativo: "Todas as Igrejas para todo o mundo".
Após o Angelus, a visita do pontífice a Nápoles prosseguiu, com seu encontro _ no Seminário Arquiepiscopal de Capodimonte _ com os numerosos expoentes das diversas religiões do mundo, no contexto desse Encontro Internacional de Oração pela Paz. Presentes o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, o arcebispo anglicano de Cantuária, Dr. Rowan Williams, o grão-rabino de Israel, Yona Metzger, e o imame dos Emirados Árabes Unidos, Ibrahim Ezzedin.
Rememorando o inesquecível encontro de Assis, em 1986, a convite de João Paulo II, Bento XVI evocou o autêntico "espírito de Assis", que "se opõe a toda e qualquer forma de violência e ao abuso da religião como pretexto para a violência", e que nos convida, sublinhou, no respeito às diferenças entre as várias religiões, "a trabalhar pela paz e a um efetivo empenho para promover a reconciliação entre os povos".
"Diante de um mundo lacerado por conflitos, onde, às vezes, se busca justificar a violência, em nome de Deus, é importante reiterar que as religiões jamais podem se tornar veículos de ódio; que jamais, invocando o nome de Deus, se pode chegar a justificar o mal e a violência. Ao contrário, as religiões podem e devem oferecer preciosos recursos para construir uma humanidade pacífica, porque falam de paz ao coração do homem", sublinhou Bento XVI.
"A Igreja Católica, concluiu o Santo Padre, pretende continuar a percorrer o caminho do diálogo, para favorecer o entendimento entre as diversas culturas, tradições e sabedoria religiosas. "Desejo que este espírito se difunda sempre mais, foram os votos do papa, sobretudo onde as tensões são mais fortes, e onde a liberdade e o respeito pelo outro são negados a homens e mulheres que sofrem as conseqüências da intolerância e da incompreensão.