Palavras do Papa

Bento XVI à Assembleia Plenária do Conselho para a Família

Às 12h15min desta segunda-feira, 8, na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, o Santo Padre Bento XVI recebeu em audiência os participantes da XIX Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Família, que acontece até quarta-feira, 10, sobre o tema dos direitos da criança, no vigésimo aniversário da Convenção Internacional sobre medidas para proteger a Criança, adotada pelas Nações Unidas em 20 de Novembro de 1989.

Publicamos, a seguir, o discurso que o Papa dirigiu aos presentes:

Cardeais,
Veneráveis Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos irmãos e irmãs!

No início da XIX Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Família, tenho o prazer de recebê-los com minha cordial boas-vindas! Neste ano, vosso dicastério vive um particularmente renovado momento institucional, não somente no Cardeal Presidente e no Bispo Secretário, mas também em alguns cardeais e bispos da Comissão Presidencial, bem como funcionários e alguns membros casados, além de vários consultores. Ao mesmo tempo em que agredeço, de coração, aos que concluem os seus serviços ao Pontifício Conselho e aos que ainda prestarão seu valioso trabalho, invoco sobre todos os dons abundantes do Senhor. Meu pensamento de gratidão se dirige, em particular, ao saudoso Cardeal Alfonso López Trujillo, que durante mais de 18 anos guiou a Congregação com a sua apaixonada dedicação à causa da família e da vida no mundo de hoje. Desejo, finalmente, expressar ao Cardeal Ennio Antonelli as manifestações de minha profunda gratidão pelas amáveis palavras que dirigiu em nome de todos, e por ter ilustrado os temas desta importante Assembleia.

Esta atividade do dicastério se coloca entre o VI Encontro Mundial das Famílias, celebrado na Cidade do México em 2009, e o VII, programado para Milão, em 2012. Da mesma forma que renovo minha gratidão ao Cardeal Norberto Rivera Carrera pelo generoso empenho de sua Arquidiocese para a preparação e realização do Encontro de 2009, expresso agora minha afetuosa gratidão à Igreja Ambrosiana e a seu Pastor, Cardeal Dionigi Tettamanzi, pela disponibilidade em sediar o VII Encontro Mundial das Famílias. Além do cuidado com esses eventos extraordinários, o Pontifício Conselho está buscando diversas iniciativas para fazer aumentar a consciência do valor fundamental da família para a vida da Igreja e da sociedade. Entre elas, se encontram o projeto "A família, sujeito da evangelização", com o qual se deseja organizar uma coleção, a nível mundial, de valiosas experiências em diversas áreas da pastoral familiar, para que sirvam de inspiração e estímulo para novas iniciativas; e o projeto "A família, recurso para a sociedade", com o qual se põe em evidência para a opinião pública os benefícios que a família traz para a sociedade, à sua coesão e desenvolvimento.

Outro importante compromisso da Congregação é a construção de um Vademecum para a preparação ao Matrimônio. Meu amado predecessor, o venerável João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, afirmava que tal preparação é "necessária hoje mais do que nunca" e "envolve três momentos principais: uma preparação remota, outra próxima e uma outra imediata" (n. 66). Referindo-se a estas indicações, vosso Conselho se propõe a delinear convenientemente as três etapas do itinerário para a formação e e a resposta à vocação do matrimônio.

A preparação remota diz respeito às crianças, adolescentes e jovens. Ela envolve a família, paróquia e a escola, lugares em que serão educados para entender a vida como uma vocação para o amor, que se especifica, então, na modalidade do matrimônio e da virgindade para o Reino dos Céus, mas é sempre vocaçã de amor. Nesta etapa, também, deverá progressivamente emergir o significado da sexualidade como uma capacidade de relação e positiva energia a ser incorporada no amor autêntico.

A preparação próxima deve ser engajada e configurada em um caminho de fé e vida cristã, que conduza a um conhecimento aprofundado do mistério de Cristo e da Igreja, do sentido da graça e das responsabilidades do matrimônio (cf. ibid.). A duração e condições de atuação serão necessariamente diferentes de acordo com as situações, possibilidades e necessidades. Mas é desejável que se ofereça um caminho de catequese e experiências na comunidade cristã, que inclua a ação do sacerdote e de vários especialistas, bem como a presença de dirigentes, o acompanhamento de um casal cristão exemplar, o diálogo em duplas e em grupo e um clima de amizade e oração. Também deve-se tomar um cuidado especial, nesta ocasião, para que os namorados revivam a própria relação pessoal com o Senhor Jesus, especialmente ouvindo a Palavra de Deus, achegando-se aos sacramentos e, sobretudo, participando da Eucaristia. Somente colocando Cristo no centro da existência pessoal e de casal é possível viver o amor autêntico e dá-lo aos outros: "Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer", lembra-nos Jesus (Jo 15, 5).

A preparação imediata se realiza próximo ao casamento. Além do exame dos fiéis, previsto no Direito Canônico, ela poderia incluir uma reflexão sobre o Rito do matrimônio e seu significado, o retiro espiritual e os cuidados para que as celebração do matrimônio sejam vistas pelos fiéis e, especialmente, por aqueles que estão se preparando para a união como um presente para toda a Igreja, um dom que contribui para seu crescimento espiritual. Também é positivo que os bispos incentivem o intercâmbio de experiências mais significativas, ofereçam estímulo para um sério compromisso pastoral nesta área importante e mostrem particular cuidado para que a vocação dos esposos se torne um tesouro para toda a comunidade cristã, especialmente no contexto atual, um testemunho missionário e profético.

Vossa Assembleia Plenária tem por tema "Os Direitos da Criança", escolhidos com referência ao vigésimo aniversário da Convenção adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1989. A Igreja, ao longo dos séculos, a exemplo de Cristo, tem promovido a proteção da dignidade e dos direitos das crianças e, de muitas maneiras, tomou conta delas. Infelizmente, em diversos casos, alguns dos seus membros, agindo em contraste com este empenho, têm violado tais direitos: um comportamento que a Igreja não admite e não deixará de lamentar e condenar. A ternura e o ensinamento de Jesus, que considerou as crianças um modelo a se imitar para entrar no reino de Deus (cf. Mt 18,1-6; 19,13-14), sempre foram um apelo urgente para que se alimente por elas um profundo respeito e cuidado. As duras palavras de Jesus contra aqueles que escandalizam um desses pequenos (cf. Mc 9,42) leva todos a não concordar que se diminua o nível de tal respeito e amor. Por isso, também, a Convenção sobre os Direitos da Criança tem sido bem acolhida pela Santa Sé, já que contém declarações positivas sobre a adoção, saúde, educação, a proteção das pessoas com deficiência e a proteção dos pequenos contra a violência, o abandono e a exploração sexual e pelo trabalho.

A Convenção, no preâmbulo, indica a família como "aquele ambiente natural para o crescimento e o bem-estar de todos os seus membros e, em particular, das crianças". De fato, é a família, fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher, a maior ajuda que pode ser oferecida às crianças. Elas querem ser amadas por um pai e uma mãe que se amam, e precisam habitar, crescer e viver com ambos os pais, porque as figuras materna e paterna são complementares na educação dos filhos e na construção de sua personalidade e sua identidade. É importante, portanto, que se faça todo o possível para que elas cresçam em uma família unida e estável. Para este fim, devesse incentivar os casais a não perder de vista as razões profundas e a sacramentalidade de seu pacto conjugal, a reforçá-lo através da escuta da Palavra de Deus, da oração, do diálogo constante, da aceitação mútua e do perdão recíproco. Um ambiente familiar não sereno, a divisão do casal e, em particular, a separação com o divórcio não possuem conseqüências sadias para as crianças, ao passo que destinar apoio à família e promover seu bem-estar verdadeiro, os seus direitos, sua unidade e estabilidade são a melhor maneira de proteger os direitos e as autênticas exigências das crianças.

Veneráveis e caros Irmãos, muito obrigado por vossa visita! Estou espiritualmente próximo a vós e ao trabalho que desenvolvem em favor das famílias e transmito de coração, a cada um de vós e a quantos compartilham este valioso serviço eclesial, a Bênção Apostólica.

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