"Para descobrir o sentido escondido na Sagrada Escritura é preciso um particular exercício interior graças ao qual a razão se abre ao caminho seguro em direção à verdade", explicou Bento XVI na audiência geral desta quarta-feira, 10, na Praça de São Pedro. O Papa dedicou a sua catequese de hoje a "um importante pensador do Ocidente cristão": João Escoto Eriúgena, um destacado filósofo do renascimento carolíngeo.
Bento XVI afirmou que "a autoridade e a razão não podem jamais estar em contraste uma com a outra". E ao recordar o ensino de João Escoto, teólogo irlandês do século IX acrescentou que "toda autoridade não confirmada pela razão, não é verdadeira autoridade, ainda que tivesse sido transmitida pelos santos padres", observou o Papa, explicando como a "'autoridade verdadeira' provém da razão, enquanto Deus é a razão criadora".
João Escoto distinguia-se por um grande conhecimento dos Padres da Igreja, tanto latinos como gregos, com uma particular predileção pelo chamado Pseudo-Dionísio, que classificava de "autor divino" por excelência e cujas intuições tentou prolongar, traduzindo para latim as suas obras escritas em grego.
Toda a teologia de Escoto do século IX tende à contemplação e à adoração silenciosa de Deus. Em toda a sua produção ele se esforça por exprimir o inefável de Deus, baseando-se no mistério do Verbo feito carne em Jesus de Nazaré.
Embora o seu pensamento não tenha feito escola, ele continua ainda hoje a oferecer interessantes perspectivas, em especial no que diz respeito à leitura da Sagrada Escritura. Esta – sublinha ele – "foi-nos dada por misericórdia divina, depois do pecado, para que o homem possa reencontrar tudo o que se encontrava inscrito no seu coração no momento em que foi criado 'à imagem e semelhança de Deus'".
Isto quer dizer que para a compreensão da Palavra de Deus requer-se ao mesmo tempo uma análise rigorosa do texto bíblico e uma disponibilidade permanente à conversão. A clarividência da inteligência nunca pode se separar da purificação do coração.
Saudação aos peregrinos
Presentes nesta audiência geral um certo número de peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente os "Pequenos Cantores" de Amorim, no norte de Portugal, que o Papa saudou expressamente:
"Dirijo agora uma cordial saudação a todos os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente ao grupo brasileiro de Santa Catarina e aos 'pequenos cantores' de Amorim, Portugal, pedindo à Virgem Mãe que guarde a vida e a família de cada um como um canto de louvor perene a Deus e de bênção generosa para quantos cruzam o seu caminho. Obrigado pela vossa jubilosa participação neste encontro com o Sucessor de Pedro. Sobre vós e vossos entes queridos, desça a minha Bênção!"
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