Ao parlamento europeu, Papa fala do presente e futuro da Europa

Em discurso a deputados, Francisco falou dos problemas e caminhos para o continente europeu, colocando no centro a dignidade humana

Jéssica Marçal
Da Redação

Papa discursa na sede do Parlamento Europeu / Foto: Reprodução CTV

Papa discursa na sede do Parlamento Europeu / Foto: Reprodução CTV

Levar uma mensagem de esperança e encorajamento ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na França. Este foi o objetivo do Papa Francisco em sua visita, nesta terça-feira, 25, à sede que reúne 751 deputados dos 28 Estados-Membros da União Europeia nesta terça-feira, 25. Um discurso longo, que perpassou questões econômicas, sociais, o cuidado com a criação e, principalmente, a centralidade da pessoa humana, indicando os problemas do continente e os possíveis caminhos.

A visita de Francisco acontece mais de 25 anos depois daquela realizada por João Paulo II. Desde então, muita coisa mudou, como a quebra da divisão do mundo em dois blocos: socialismo e capitalismo. Com sua visita, o Papa quis encorajar uma Europa capaz de superar divisões e promover a paz no continente.

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.: Na íntegra, o discurso do Papa ao parlamento europeu

“Dignidade” e transcendente” foram os dois fios condutores do discurso do Papa, que enfatizou a necessidade de promover a dignidade do homem. Esta é uma tarefa que, segundo ele, inclui o reconhecimento de direitos inalienáveis que não podem ser privados para benefícios de interesses econômicos.

O contexto europeu

Concentrando-se na realidade do continente, Francisco falou da solidão, particularmente dos idosos abandonados, dos jovens sem oportunidades para o futuro, dos pobres e dos imigrantes. Essa solidão foi agravada pela crise econômica que ainda traz efeitos sociais.

Além de solidão e desconfiança por parte dos cidadãos nesse contexto de crise, o Papa ressaltou alguns estilos de vida egoístas, indiferentes ao sofrimento dos pobres. “O ser humano corre o risco de ser reduzido a mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo a ser utilizado”.

Acaba-se caindo na cultura do consumismo exacerbado e do descarte, explicou o Papa, defendendo que seja reconhecida a preciosidade da vida humana que, sendo dada gratuitamente, não pode ser objeto de troca ou comércio. “Na vossa vocação de parlamentares, sois chamados também a uma grande missão, ainda que possa parecer não lucrativa: cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas. Cuidar da fragilidade quer dizer força e ternura, luta e fecundidade no meio dum modelo funcionalista e individualista que conduz inexoravelmente à ‘cultura do descarte’”.

Caminhos para a Europa

Como, então, desenvolver esperança no futuro na Europa? Para Francisco, a resposta está na redescoberta do nexo entre dois elementos: o céu, que indica abertura transcendente, e a terra, que representa capacidade concreta de enfrentar problemas.

Ao falar do aspecto transcendente, Francisco destacou a contribuição dada pelo cristianismo, não só com o patrimônio histórico, mas nos dias de hoje e no futuro. Trata-se de uma contribuição que não é um perigo para a laicidade do Estado, mas um enriquecimento.

“Por isso, desejo renovar a disponibilidade da Santa Sé e da Igreja Católica, através da Comissão das Conferências Episcopais da Europa (COMECE), a manter um diálogo profícuo, aberto e transparente com as instituições da União Europeia”, afirmou.

Segundo Francisco, dar esperança à Europa não é só reconhecer a centralidade da pessoa, mas promover os seus dotes. Para isso, é preciso investir na pessoa e nos âmbitos onde seus talentos são desenvolvidos, e o primeiro deles é a educação, começando pela família, depois passando por escolas e universidades.

Problemática da migração

A questão migratória é um dos desafios para a União Europeia. “Não se pode tolerar que o Mar Mediterrâneo se torne um grande cemitério!”, enfatizou, ao explicar que, se falta apoio mútuo no seio da União Europeia para os migrantes que chegam em busca de um futuro melhor, há o risco de incentivar soluções que não levam em conta a dignidade dessas pessoas.

“A Europa será capaz de enfrentar as problemáticas relacionadas com a imigração, se souber propor com clareza a sua identidade cultural e implementar legislações adequadas capazes de tutelar os direitos dos cidadãos europeus e, ao mesmo tempo, garantir o acolhimento dos imigrantes; se souber adotar políticas justas, corajosas e concretas que ajudem os seus países de origem no desenvolvimento sociopolítico e na superação dos conflitos internos – a principal causa deste fenômeno – em vez das políticas interesseiras que aumentam e nutrem tais conflitos. É necessário agir sobre as causas e não apenas sobre os efeitos”.

Francisco encerrou o discurso recordando a tarefa dos legisladores de preservar e fazer crescer a identidade europeia, para que os cidadãos reencontrem confiança nas instituições e em seu projeto de paz. A Europa, segundo ele, precisa redescobrir o seu rosto.

“Queridos Eurodeputados, chegou a hora de construir juntos a Europa que gira, não em torno da economia, mas da sacralidade da pessoa humana, dos valores inalienáveis”.

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