Nas prisões, passagem pela cela tem o mesmo “valor” que a passagem pela Porta Santa; capelão de presídio italiano conta como presos vivem esse tempo
Catarina Jatobá
Enviada especial a Roma
Ao estabelecer a passagem por uma Porta Santa como um sinal concreto de encontro com a Misericórdia do Pai, o Papa Francisco também pensou naqueles que, por motivos variados, não podem ir até um destes lugares, inclusive pela falta da liberdade.
Os presos foram lembrados de maneira particular pelo Pontífice na carta dirigida ao Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella, em que traçou as diretrizes para o ano Jubilar.
Além da Porta Santa nas basílicas, santuários e igrejas em todo o mundo, Francisco declarou que também nas penitenciárias ela poderia ser aberta. “Nas capelas dos cárceres poderão obter a indulgência, e todas as vezes que passarem pela porta da sua cela, dirigindo o pensamento e a oração ao Pai, que este gesto signifique para eles a passagem pela Porta Santa, porque a misericórdia de Deus, capaz de mudar os corações, consegue também transformar as grades em experiência de liberdade”.
No presídio de Rebíbbia, em Roma, foi aberta uma Porta Santa no dia 8 de dezembro. A cerimônia contou com a presença de cerca de 300 detentos de 14 departamentos diferentes na prisão.
Para o capelão do presídio, Padre Roberto Guernieri, esta abertura do Papa Francisco tem um papel importante no processo de ressocialização porque, como ensina aos detentos, “sem o Senhor é impossível retornar à sociedade”.
“É importante fazer com que os detentos entendam a importância da fé, porque eles têm momentos de desespero verdadeiramente tremendos. Isto é feito há muitos anos, por nós que estamos perto deles e os ajudamos a viver esta realidade, antes de tudo a compreender o mal que fizeram, depois entender a misericórdia de Deus e buscar, na medida do possível, ressocializá-los, voltar à sociedade novos”.
Para envolver aqueles que estão privados da liberdade, mas não da graça de Deus, está previsto como parte da programação do Ano Santo o Jubileu dos Encarcerados, marcado para 6 novembro de 2016.
O sacerdote que atua no presídio em Roma fala da expectativa que os detentos vivem neste momento. “Eles estão muito curiosos, estão tentando entender, pedem explicações, mas sobretudo eles tem referências claras: Papa Francisco. Eles rezam muito pelo Papa, em todas as missas, no rosário, quando fazemos celebrações, sempre rezam por ele. Portanto, este fato os ajuda a não se sentirem sós. E nós sabemos que quem não se sente só caminha melhor na vida”.
Para Padre Roberto, este ano é uma ocasião para que a Igreja vá ao encontro do povo, e respeite mais estas pessoas, afastadas da sociedade pelas circunstâncias da vida. “Nós amamos estes jovens e estes detentos, pessoas que erraram, porque também nós erramos, não fazemos coisas que nos mandam para a cadeia, mas tantas vezes falamos mal dos outros, somos invejosos, ciumentos, estragamos os relacionamentos, esse ano deve ajudar todos a entender que nós conseguimos viver numa igreja melhor, num mundo melhor”, concluiu o sacerdote.