Não obstante a chuva persistente que caiu sobre Roma na manhã deste Domingo, 03, cerca de trinta mil fiéis e numerosas personalidades politicas e religiosas participaram na Praça de São Pedro da Missa, durante a qual Bento XVI proclamou quatro novos Santos da Igreja Católica.
Nas primeiras filas diante do altar encontravam-se os Presidentes da Irlanda, de Malta, das Filipinas, da Polônia, o Ministro da Cultura francesa, o Ministro Belga dos Assuntos europeus e finalmente a esposa do Presidente mexicano Margarida Zavala. Os novos Santos são: Jorge Preca, da ilha de Malta, o polaco Szymon Lipnicy, a francesa Maria Eugénia de Jesus Milleret e o holandês André Houben.
Religiosos que viveram em épocas diferentes, mas tendo em comum uma forte procura espiritual.
A começar pela francesa Maria Eugénia Milleret, nascida em 1817, filha das idéias liberais de Voltaire e da Revolução francesa, mas que aos vinte anos de idade, depois da morte da mãe se converteu ao catolicismo. Tornou-se a fundadora das Religiosas da Assunção, uma ordem religiosa dedicada à evangelização da sociedade e dos indivíduos e ao mesmo tempo atenta às novidades e às aspirações da época moderna. Esta religiosa foi beatificada pelo Papa Paulo VI em Roma em Fevereiro de 1975.
Foi também intenso o percurso religioso de Jorge Preca, ordenado sacerdote em La Valleta em 1906 e promotor da Sociedade da Doutrina Cristã, uma congregação centrada na atividade missionária que no inicio foi hostilizada pelos superiores da Cúria, mas que depois teve a possibilidade de expandir-se em todo o mundo. O Padre Preca faleceu em La Valletta em 1962 e imediatamente foi considerado santo pelo seu povo. Foi beatificado por João Paulo II em Maio de 2001 em Malta.
O polaco Szymon Lipnicy nasceu na Polônia meridional e como São Francisco deixou todas as suas riquezas familiares e um futuro que lhe teria garantido sucesso e glória para dedicar as suas forças aos outros. Homem de oração e de ação, este franciscano tornou-se também famoso pelas suas pregações. Quando em Cracóvia alastrou a peste em 1482, foi um dos poucos que não fugiram; ali ficou a assistir os doentes até que contagiado pela peste, morreu. O seu culto a nível local foi autorizado já pelo Papa Inocêncio XI em 1685. A causa de canonização foi retomada em 1948.
Entre a Holanda e a Irlanda viveu João André Houben. Fora das suas paróquias rurais formavam-se longas filas de penitentes que queriam receber os seus conselhos e indicações espirituais. Adquiriu fama de santidade quando ainda era vivo. Em 1988 João Paulo II proclamou-o Bem-aventurado.
Homilia de Bento XVI – Solenidade da Santíssima Trindade
Na sua homilia, partindo das leituras do dia – solenidade da Santíssima Trindade – Bento XVI sublinhou que toda a santidade é Dom de Deus Pai, por Cristo, no Espírito.
“É por meio de Cristo que o Espírito de Deus chega a nós como princípio de vida nova, santa. O Espírito depõe o amor de Deus no coração dos crentes na forma concreta que tinha no homem Jesus de Nazaré”.
“O Espírito de verdade revela o desígnio de Deus na multiplicidade dos elementos do mundo e fá-lo sobretudo mediante as pessoas humanas, de modo especial mediante os santos e as santas. Só Jesus Cristo, o Santo e o Justo, é, propriamente, a imagem do Deus invisível”.
“Cada um dos Santos participa da riqueza de Cristo recebida do Pai e comunicada no tempo oportuno. É sempre a mesma santidade de Jesus, é sempre Ele, o Santo, que o Espírito plasma nas almas santas, formando amigos de Jesus e testemunhas da sua santidade”.
Referindo-se depois a cada um dos canonizados, Bento XVI evocou antes de mais o “amigo de Jesus e testemunha da santidade que d’Ele vem” que foi Jorge Preca, natural da ilha de Malta. “Foi um sacerdote todo dedicado à evangelização: com a pregação, com os escritos, com a direção espiritual e a administração dos Sacramentos e acima de tudo com o exemplo da sua vida”.
“A expressão do Evangelho de João – Verbum caro factum est orientou sempre a sua alma e ação, e assim o Senhor pode servir-se d’Ele para dar vida a uma benemérita obra, a Sociedade da Doutrina Cristã, que visa assegurar às paróquias o serviço qualificado de catequistas bem preparados e generosos.”
Passando depois ao polaco Simão de Lipnica, que como testemunha de Cristo seguiu a espiritualidade de São Francisco de Assis, o Papa sublinhou a atualidade do seu exemplo de cristão que, animado pelo espírito do Evangelho, se mostra pronto a dedicar a vida aos irmãos.
“Cumulado com a misericórdia que recebia da Eucaristia, ele não hesitou em levar ajuda aos doentes contagiados pela peste, contraindo ele próprio aquela doença, que o levou à morte. Hoje confiamos de modo particular à sua proteção os que sofrem por causa da pobreza, da doença, da solidão e da injustiça social”.
No caso de padre Karel Andries Houben, natural da Holanda, mas que por muitos anos desenvolveu a sua atividade na Inglaterra e na Irlanda, Bento XVI sublinhou a sua dedicação ao bem das almas.
“Nos doentes e sofredores ele reconhecia o rosto de Cristo Crucificado, pelo qual ele tinha grande devoção. Dessedentava-se profundamente com os rios de água viva que brotam do lado do Trespassado, e – no poder do Espírito – deu testemunho, perante o mundo, do amor do Pai”.
Finalmente, a referência à francesa Maria Eugénia Milleret, que soube especialmente advertir a importância de transmitir às jovens gerações uma formação intelectual, moral e espiritual, capaz de as transformar em testemunhas do Ressuscitado.
“Ao longo da vida, ela encontrou a força para a sua missão na vida de oração, associando sem cessar contemplação e ação. Possa o exemplo de Santa Maria Eugénia convidar os homens e mulheres de hoje a transmitir aos jovens os valores que os ajudarão a tornarem-se adultos fortes e testemunhas jubilosas do Ressuscitado”.
No final da celebração, entre as saudações em diferentes línguas aos múltiplos grupos de peregrinos presentes na Praça de São Pedro, o Papa teve palavras de apreço para com a Associação Nacional (italiana) de Saúde Militar”, que tem como lema “Arma pietati cedant” – Que as armas cedam à piedade, fazendo votos de que assim seja no mundo inteiro.
Finalmente, uma referência “à Igreja de Bolonha que recorda os 750 anos do ato com que o Senado daquela cidade estabelecia a abolição da escravatura no seu território. “Possa esta iniciativa suscitar um renovado empenho para a superação das novas escravidões que ainda afligem a humanidade” – auspiciou Bento XVI.