Japão

188 mártires são beatificados em país de minoria católica

Cerca de 30 mil pessoas são esperadas hoje, 24, para a cerimônia de beatificação de 188 mártires japoneses do século XVII, que acontecerá no Big-N Baseball Stadium de Nagasaki, Japão.

A Eucaristia, na qual serão beatificados Peter Kibe e 187 companheiros mártires, assassinados entre 1603 e 1639, será presidida pelo Cardeal Seiichi Peter Shirayanagi, Arcebispo emérito de Tóquio, e contará com a presença do Cardeal português Dom José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos e enviado do Papa para a ocasião.

Além da totalidade dos bispos do Japão, está previsto que participem prelados de outros países, entre eles a Coréia, Taiwan e Filipinas.

Trata-se da primeira cerimônia desse tipo que se celebra em solo japonês, pelo que está a levantar uma enorme expectativa no país, especialmente entre a minoria católica. A diocese de Nagasaki mobilizou cerca de 2000 voluntários e alugou 200 autocarros para esta ocasião, além de várias equipes médicas para ajudar as pessoas mais idosas.

Um longo martírio

O Japão foi evangelizado pelo jesuíta S. Francisco Xavier, entre 1549 e 1552, e poucas décadas depois, a nascente Igreja conhecia uma cruel perseguição. Os primeiros mártires, encabeçados por São Paulo Miki (crucificados em Nagasaki em 1597), foram canonizados em 1862 por Pio IX, e outros 205 foram beatificados em 1867.

Em 1603, com o governo de Tokugawa, começou uma forte perseguição contra os cristãos (então chegavam a cerca de 400 mil em todo o Japão), que custou a vida de milhares deles. Os mártires que serão beatificados em 24 de Novembro pertencem a esta época: entre eles há 4 sacerdotes e 184 leigos, mulheres, crianças, samurais, servos e inclusive pessoas deficientes.

Contam-se 52 fiéis de Quioto, martirizados em 1622, e 53 procedentes de Yamagata, mortos em 1629, segundo informa a Conferência Nacional dos Bispos do Japão. Além dos atrozes tormentos que se aplicaram a Pedro Kibe e outros companheiros jesuítas, um dos testemunhos mais comoventes é o de uma família inteira de Quioto, João Hashimoto Tahyoe e sua mulher Thecla, martirizados junto com todos os seus filhos a 6 de Outubro de 1619. Os católicos que sobreviveram à perseguição tiveram de ocultar-se durante 250 anos, até a chegada de missionários europeus no século XIX.

A causa destes 188 mártires foi iniciada em 1984, após a visita apostólica de João Paulo II ao país em 1981.

Recordes de beatificações

Bento XVI fez até hoje 575 beatos e 18 novos Santos, mas após a cerimônia da próxima Segunda-feira o número de beatos chegará aos 763, mais de metade do total de João Paulo II no que diz respeito às beatificações. Para este número contribuiu largamente a beatificação de 498 fiéis martirizados na perseguição religiosa durante a Guerra Civil de Espanha (1934-1939), numa cerimônia que teve lugar em Outubro de 2007.

João Paulo II fez 482 novos Santos e 1342 novos Beatos, num pontificado de 26 anos e meio.

Após a eleição de Joseph Ratzinger, em Abril de 2005, começaram as especulações em torno de um abrandamento da "fábrica de Santos" do Vaticano. O Papa delegou a presidência dos ritos de Beatificação (quase sempre no português D. José Saraiva Martins) e a Congregação para as Causas dos Santos publicou, pouco depois do início do pontificado, uma comunicação sobre os novos procedimentos nos ritos de beatificação que reflete as mudanças acontecidas, neste âmbito, centrando as cerimônias de beatificação no âmbito diocesano.

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