Há 125 anos, uma melodia mineira de Santo Antônio do Monte atravessa vales e corações. Hoje, a Lira Monsenhor Otaviano chegou à Canção Nova.
Veja na reportagem de Matheus Alves e Genilson Pacetti.
Com apenas 13 anos, ele carrega no peito um trombone de vara, pesado para os braços, mas leve para a alma. A música para João é abrigo, escola, oração e lar. A melodia que entoa resume aquilo que carrega por dentro, a certeza de que Deus se revela também pelas notas. “Eu fiz novas amizades, eu me senti melhor, eu fiz o que eu queria”, disse o trombonista, João Gonçalves Medeiros.
Dando tons à própria história, está Joyce. Fala da vida como quem fala de uma partitura dividida em dois tempos, antes e depois da música. A arte lhe deu instrumento e razão para continuar a viver e acreditar. “Você fica uma pessoa mais completa, você se transborda. Porque a música ela, assim, ela chega no nosso coração para mudar”, relatou a saxofonista, Joice Fernanda Moura Rodrigues.
Na ermida, onde o céu e a terra se encontram em prece, as músicas sacras ressoam entre os bancos e corações e emocionam os pais dos jovens músicos, entre eles a mãe de João.
A empreendedora, Janaína Gonçalves Medeiros compartilhou: “Eu tenho três filhos, dois já estão aqui, o outro tá começando e a música na vida deles e a banda foi uma benção”.
Ainda menino, hoje maestro, se deixou tocar pela história do padre Jonas, que foi músico antes de ser fundador. Hoje é ele quem inspira. Assumiu a regência da Lira com a missão de manter viva essa tradição e através dela formar jovens, afastá-los da violência e conduzi-los à dignidade. “A música é a primeira que chega no coração, né? Então você tá, quando você toca o instrumento, você tá muito encarregado, você tem uma missão muito grande. Você não tá só tocando, você tem uma missão por trás daquilo ali, sabe?”, testemunhou o maestro Igor Antônio Oliveira Silva.
Num tempo em que muitas vezes o ruído toma espaço da beleza, há quem insista em fazer da música um caminho de fé, cultura e transformação. E isso há mais de 125 anos. Essa é a Orquestra Lira Monsenhor Otaviano, lá das montanhas de Minas Gerais, que visita a Canção Nova pela terceira vez.
A lira segue em procissão pela chácara de Santa Cruz, passa pela rádio Canção Nova, é saudada por peregrinos, filmada por celulares e acolhida por olhares admirados. Onde passa deixa som e unção.
“Esse grupo quis vir até aqui homenagear a Canção Nova, homenagear a história do Padre Jonas, que também já foi regente de orquestra”, comentou Márcio Todeschini, da Comunidade Canção Nova.
O destino final da caminhada é o santuário do Pai das Misericórdias. E diante do túmulo do Padre Jonas Abib, hora de fazer o que se sabe, orar com instrumentos e de forma bonita.
Entre o público, um casal que celebra 54 anos de matrimônio. Como presente de Deus, uma serenata. “De repente a gente vê uma criançada assim voltada para para Deus, que estão cantando para Nossa Senhora. Então é um caminho diferenciado”, concluiu o peregrino de São José dos Campos, José Clovis dos Santos.
Para quem estava na Canção Nova, o dia de hoje foi um sopro antigo que ainda move corações.