Segundo Dom Odilo, arcebispo de São Paulo, a Igreja no Brasil já está atenta às diretrizes especificadas pelo Santo Padre com relação às denúncias de abuso
Thiago Coutinho
Da redação, com colaboração de André Cunha
A Igreja está preocupada com os abusos contra menores. Em maio de 2019, o Papa Francisco divulgou o Motu proprio denominado “Vos estis lux mundi – Vocês são a luz do mundo”. Trata-se de um documento legislativo e doutrinário assinado pelo Sucessor de Pedro que aborda abusos sexuais praticados por clérigos, religiosos e demais integrantes da Igreja.
Sendo assim, o Papa Francisco e a Santa Sé divulgaram, na semana passada, na Sala de Imprensa, um grupo de trabalho em Roma que auxiliará as Conferências Episcopais, institutos e demais vertentes da Igreja Católica para que casos que envolvam a exploração sexual de menores sejam veementemente coibidos.
Em São Paulo, Dom Odilo Scherer, arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, convocou a imprensa para uma coletiva e discutiu como o este Motu proprio será aplicado no Igreja do Brasil. Segundo o arcebispo, pouco a pouco uma comissão vai apurar denúncias recebidas a respeito de abusos de menores no âmbito eclesiástico.
“No início da próxima semana, no dia 8, entra em vigor este novo serviço. Temos esperança de que isto não ajudará apenas nossos clérigos e religiosos, mas a todo o povo, a comunidade a ficarem alerta com esta questão do abuso sexual de menores e vulneráveis”, ponderou Dom Odilo.
As Comissões Episcopais atuarão de maneiras distintas, mas, segundo Dom Odilo, deverão estar dentro do que o Santo Padre pede no Motu proprio. “Pelo mundo afora, as comissões podem ter formatos diferentes”, ressalta o arcebispo. “Mas procuramos ser fiéis ao pedido do Papa, ou seja, a aplicação do Motu proprio, e não a alguns detalhes. É um esforço interior que a Igreja faz para superar um problema que está aí”, reiterou.
O mínimo de integrantes nas comissões é de oito pessoas. Na Arquidiocese de São Paulo os integrantes foram nomeados e o coordenador geral será o padre Ricardo Anacleto. “Temos mais alguns padres, teólogos, pastoralistas e psicólogos, são várias as competências. Veja, a comissão não é um tribunal, mas sim uma ouvidoria. O tribunal é o passo seguinte, a investigação mais aprofundada, tem uma comissão própria”, detalhou o arcebispo.
Denunciar sim, mas com cautela
A atual comissão formada pela Arquidiocese de São Paulo ainda não recebeu denúncias. A Igreja, incentiva que as pessoas que têm ciência de um crime como este sendo cometido, devem denunciar ― inclusive às autoridades civis. Mas Dom Odilo pede cuidado.
“É de todo cidadão, tendo ciência de um crime, denunciar, sob pena de ser considerado conivente [com o crime]”, assevera o arcebispo. “Agora, ‘ouviu falar de’ é não ter ciência em primeira pessoa do que houve. É minha obrigação ir atrás [dos fatos]”.
A comissão organizada em São Paulo terá entre suas diretrizes um capítulo específico que vai orientar como essas denúncias podem ser feitas. “As vítimas e seus representantes devem ser orientados a apresentar suas denúncias às autoridades civis competentes, nos termos da legislação civil brasileira”, detalhou Dom Odilo.