Oração do Papa

Violência contra a mulher desestrutura a humanidade, diz padre

Sacerdotes comentam oração do Papa para o mês de fevereiro, que chama a atenção para a problemática da violência contra a mulher

Julia Beck
Da redação

violência contra a mulher

Pandemia acentuou casos de violência contra a mulher/ Foto: Luis Galvez via Unsplash

A Igreja reza, neste mês de fevereiro, pelas mulheres vítimas de violência. A intenção de oração do Papa Francisco é reafirmada por sacerdotes. Reitor do Santuário Santa Cabeça em Silveira (SP), padre Pedro Cunha, e o membro da frente de missão da Canção Nova de Brasília (DF), padre Márcio Prado, destacam o valor da atenção da Igreja para as mulheres que sofrem.

“A mulher é dádiva de Deus para o mundo. Não foi à toa que Deus escolheu uma mulher para se encarnar neste mundo e nos dar a salvação”, afirma padre Pedro Cunha. Ele ressalta que a Igreja deve posicionar-se a favor da mulher, principalmente se ela é vítima de violência.

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O presbítero explica que, muitas vezes, a Igreja é o único ou um dos poucos lugares em que as mulheres vítimas de violência têm acesso. “Muitas vezes, elas não se sentem à vontade para buscar ajuda em outros ambientes. Às vezes, sequer ela tem a oportunidade de fazer isso em outros ambientes. Por isso a importância de a Igreja ser esse lugar e esse espaço”.

Dados sobre a violência contra a mulher

Dados de novembro de 2020 da ONU Mulheres apontam que, todos os dias, 137 mulheres são mortas por membros de suas próprias famílias. As mulheres adultas representam quase metade das vítimas de tráfico de pessoas em todo mundo. Globalmente, uma em cada três mulheres já sofreu violência física ou sexual (e 15 milhões de meninas adolescentes, de 15 a 19 anos, sofreram estupro em todo o mundo).

No ano passado, a situação se agravou com a pandemia. Com a restrição de movimento, isolamento social e insegurança econômica, aumentou a vulnerabilidade das mulheres à violência na esfera privada em todo o mundo.

Olhar para os mais vulneráveis

Padre Márcio Prado / Foto: Reprodução Canção Nova

A Igreja, desde o seu início, aprendeu a ter um olhar especial por aqueles que são mais vulneráveis, os pobres e os necessitados, conta padre Márcio. De acordo com o sacerdote, as mulheres são uma parte desse todo. Principalmente as mulheres marginalizadas ou deixadas de lado.

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“Em vários momentos do Evangelho, vamos perceber que Jesus atendia as mulheres. Ele as acolhia, perdoava e defendia. Então, quando o Papa reza pelas mulheres, principalmente as que são vítimas da violência, está fazendo nada mais nada menos do que o que o Cristo fazia.”

Igreja, lugar de escuta

Na Igreja, não há um protocolo para o atendimento de mulheres vítimas de violência, esclarece padre Pedro. Mas ele lembra que a Igreja, por natureza, é um lugar de escuta.

“Todo sacerdote, sem exceção, é por excelência o homem da escuta. Então, ouvir a mulher que sofreu violência e encaminhar junto com ela uma solução, uma saída, um enfrentamento disso é a missão de cada sacerdote.”

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Depois, o padre comenta que também, em muitas paróquias, existe a Pastoral da Escuta. Um grupo de leigos bem preparado para poder ouvir. “Também onde essa pastoral existe, este também é um lugar e um espaço de escuta”.

Além disso, padre Pedro recorda Jesus na Eucaristia, que, por excelência, é aquele que ouve, que escuta e acolhe. “A mulher sabe que Ele sempre estará ali, do lado dela, acolhendo sua dor, sua angústia e seu sofrimento”.

Pastoral da Mulher Marginalizada

A Pastoral da Mulher Marginalizada também é um outro recurso da Igreja a favor das mulheres vítimas de violência. Nela, as mulheres podem se encontrar e buscar ajuda, aponta padre Márcio. O grupo é orientado pelas diretrizes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Com sede em São Paulo, a pastoral procura ajudar as mulheres que são vulneráveis através da escuta. “É indicada também a lei para uma defesa contra a violência”, destaca o presbítero.

Encorajar a denúncia

“Enquanto cidadãos, leigos e leigas, devemos encorajar essas mulheres que sofrem algum tipo de violência, verbal ou física, a denunciarem. O fato de denunciar não quer dizer que a mulher não está sendo misericordiosa com aquele que está sendo violento”, explica padre Márcio.

Na verdade, o sacerdote frisa que a denúncia é um ato de misericórdia para poder ajudar a pessoa. “Ela precisa de ajuda se está agindo com violência. É preciso incentivar que as pessoas denunciem caso conheçam alguém que está sofrendo algum tipo de violência”.

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Padre Pedro Cunha/ Foto: Santuário Santa Cabeça

Padre Pedro expõe que a Igreja sempre vai anunciar a Boa Nova e denunciar a violência, a injustiça e o mal. “Este é o seu papel fundamental, porque nós seguimos Jesus Cristo. E o que Jesus Cristo fez? Veio trazer a Boa Nova do Evangelho”.

“Tudo aquilo que não se enquadra dentro dessa Boa Nova é necessário que digamos. A violência, especialmente contra a mulher e toda ela, não se enquadra no Evangelho. Isso porque o Evangelho de Jesus Cristo é o amor, a misericórdia e a compaixão. O Evangelho de Jesus não é o da violência. Por isso é fundamental que a Igreja, seguindo Jesus Cristo, possa sempre anunciar o amor e frontalmente ir contra a violência”.

A humanidade sofre com a dor das mulheres vítimas de violência

Em vídeo com a intenção de oração, o Papa sublinha que a violência contra a mulher é uma covardia e uma degradação para toda a humanidade. Padre Pedro reafirma a fala do Santo Padre.

“A maioria dos homens que agridem mulheres são profundamente inseguros de si. Querem fazer da violência um pedestal para se dizerem corajosos, valentes, superiores. Mas isso, na verdade, torna-os covardes, uma pessoa sem escrúpulos. Isso não torna uma pessoa maior, muito menos melhor, mas sim pior”, prosseguiu o sacerdote.

Padre Márcio lembra o documento do Papa São João Paulo II sobre a dignidade da mulher – Mulieris Dignitatem (1988). O santo faz menção ao fato de o filho de Deus ter sido gestado por uma mulher, além de destacar toda a defesa de Jesus à mulher e ao feminino.

O cuidado que o Papa e a Igreja têm para que não haja essa violência é porque toda a humanidade sofre quando a mulher sofre. “Os filhos sofrem, há o drama da separação, da ausência paterna. A violência contra a mulher atinge toda a humanidade, a desestrutura. A defesa e o cuidado que devemos ter com as mulheres é também para preservarmos a humanidade”, conclui o presbítero.

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