No Dia do Nascituro, sacerdote reforça: Igreja sempre sairá em defesa da vida; mãe testemunha luta pela vida dos filhos e milagre diante da prematuridade
Julia Beck
Da redação
O Dia do Nascituro – celebrado nesta terça-feira, 8, marca o fim da Semana Nacional da Vida. A celebração foi criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com o objetivo de promover, especialmente nas dioceses, a cultura da vida. O assessor da Comissão Especial de Bioética da CNBB, médico, pediatra e teólogo, padre Tiago Gurgel do Vale, frisa que o valor desse dia reside justamente no fato de que a vida é o dom mais inestimável e sagrado recebido de Deus.
O sacerdote (que é também mestre em Farmacologia, doutor em Neurociências e mestre e doutor em Bioética) sublinha que comemorar o Dia do Nascituro é lembrar que todos, um dia, já passaram por essa fase da vida.
“A infância é precedida pelo período em que nós ainda somos nascituros, que é aquele tempo em que nós vivemos no útero da nossa mãe, sob a tutela da nossa mãe, sob a tutela dos nossos pais. Portanto, o Dia do Nascituro nos faz também lembrar da importância da tutela, da vida, principalmente no que diz respeito àqueles que são mais vulneráveis”, pontua.
Ameaças
O maior atentado contra um nascituro é o aborto. A partir dessa afirmação, padre Tiago reforça que são muitas as tentativas de justificar o aborto e, consequentemente, descriminalizar essa ação, tendo em vista muitas necessidades criadas pela atual sociedade.
O presbítero reflete que “em muitas situações em que se levanta uma bandeira em prol da ‘liberdade humana’, de se fazer com o próprio corpo aquilo que se deseja”, a justificativa para a realização do aborto é de que ele é uma “resposta diante de problemas de saúde pública e violência (como o estupro)”. No entanto, o sacerdote alerta: “O mal não pode ser respondido com mal. O mal não pode justificar um outro ato mal”.
O Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – recorda padre Tiago – destaca que um ser humano é sempre sagrado, é inviolável em qualquer situação e em qualquer etapa de seu desenvolvimento. A partir dessa premissa, o presbítero afirma que o aborto é sempre um homicídio.
“O ato em si, na sua raiz, na sua moral, é ilícito, é um ato mal. Nunca um ato que vai contra a vida humana, os mais vulneráveis, poderá ser considerado lícito, bom. Por isso a Igreja sempre sai em defesa da vida, é contra o aborto e reforça: o aborto é um homicídio, é um crime contra o ser humano”.
Oração do nascituro
Nesta terça, a CNBB convida os fiéis a acenderem o maior número de velas e a rezarem juntos a oração do nascituro. Padre Tiago explica que a espiritualidade dos cristãos é fundamentada ou tem como referência o amor de Deus. Portanto, é baseando-se nessa espiritualidade de amor, que a oração se faz necessária.
O amor de Deus “é um amor ágape, um amor que transforma, um amor que é doação, um amor que é vida”, reflete. Deus, prossegue o presbítero, “no seu amor infinito nos criou a sua imagem e semelhança, dando a cada ser humano o dom mais fundamental, mais inestimável, que é o dom da vida. Vida essa que é inviolável, (…) que não pode ser destruída, muito pelo contrário, deve ser protegida, tutelada e amparada”.
Deste modo, o sacerdote afirma que a oração, adicionada a ações de defesa da vida, demonstram a sensibilidade dos cristãos na proteção, sobretudo, da vida do nascituro.
Descoberta surpreendente
A enfermeira Sarah Giovana Corrêa recorda a gestação de seus filhos gêmeos, Theo e Davi. “A descoberta foi surpreendente”, revela. Sarah conta que para engravidar de sua primeira filha, Lis, foram oito anos de tentativas e um diagnóstico que “explicava” a sua infertilidade: uma endometriose que, posteriormente, foi resolvida de forma cirúrgica.
“A gestação dos gêmeos foi uma alegria e, ao mesmo tempo, o maior desafio de todos. Toda gestação de gêmeos é de risco”, pontua. Theo e Davi eram gêmeos idênticos, dividiam uma placenta única. Desde o primeiro ultrassom, o médico já constatava que um embrião era muito menor que o outro. “Ele disse: ‘vamos esperar, mas um embrião é muito menor’. Tudo começou assim…”, lembra.
Como a gestação foi monocoriônica diamniótica (placenta de gêmeos idênticos) e o lado do bebê menor (Theo) era um espaço pequeno, ele estava com restrição de crescimento (restrição de crescimento seletiva). “A cada ultrassom, o estado dele era pior, e uma opção era a separação da placenta por cirurgia a laser. Tinha um prazo limite para decidirmos, o médico especialista em Medicina Fetal deixou claro que a técnica, nos outros países, visava salvar o feto ‘mais viável'”. Sarah afirma que, ao mesmo tempo, não realizar o procedimento poderia levar o Theo a óbito. O procedimento seria também uma tentativa, mas com os riscos de uma cirurgia.
“Com os dias, os exames foram piorando e o prazo que era de no máximo 20 semanas (se não me engano) estava acabando”, frisa. “Enfim, fizemos o procedimento, deu tudo certo, o médico injetou mais líquido (soro fisiológico), e o exame seguinte mostrou que ambos Davi (o bebê viável) e Theo estavam ótimos”. No entanto, uma internação para manter a monitorização dos bebês foi necessária.
Prematuridade e luta pela vida
Sarah revela que sentiu algumas contrações e por isso precisava de repouso. A rotina longe da filha mais velha (Lis tinha 4 anos na época) foi sendo constante. “Todos os dias fazia ultrassom e, no dia 23 de agosto, após a realização deste exame eu tive contrações. Voltei para o quarto, para repousar, e a única diferença neste dia é que voltei caminhando devagar e não na cadeira de rodas. Em seguida, eu comecei com contrações muito fortes… estava entrando em trabalho de parto”.
Por já estar internada, Sarah foi medicada. A dor aumentava cada vez mais e um parto de emergência foi necessário. “Um parto normal com 26 semanas era muito arriscado, então foi uma correria para o centro cirúrgico. Quanto medo, angústia e dor senti ali, sem nenhum familiar comigo, mas com a certeza de que tinha feito tudo que foi possível para chegar até aquele dia, o dia do nascimento”. Theo e Davi nasceram no dia 23 de agosto (a data prevista para o parto era 28 de novembro). Theo nasceu primeiro, pois era o menor, com 700g, e Davi nasceu com 900g.
Após o nascimento, ambos foram acompanhados por médicas da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e seguiram cada um em uma incubadora. Theo e Davi eram prematuros extremos. Davi ficou 65 dias na UTI e Theo 115 dias. “Foi um momento de cura da minha ansiedade”, partilha Sarah. O processo de ganho de peso dos meninos levou tempo, e “eu nada podia fazer, só esperar”.
Na vida dos gêmeos, a luta pela vida começou na gestação – impulsionados pela força de Sarah, e depois de forma individual. “Não me faltou força neste período. No pré-natal, na véspera do parto não programado, as expectativas ainda eram incertas sobre os dois bebês”, lembra. Na época, a enfermeira conta que o fundador da Comunidade Canção Nova, Monsenhor Jonas Abib, soube da situação e, em um telefonema, afirmou: “Sarah, ninguém vai morrer! Deus te deu dois filhos, e eles vão nascer. Creia no milagre de hoje e no milagre de amanhã”. Após esta oração, no dia seguinte aconteceu o parto.
Desistir da vida não foi uma opção para Sarah. Hoje, após oito anos do nascimento de Theo e Davi, a enfermeira recorda a história com fé e alegria por poder testemunhar o milagre da vida de seus filhos. “Eles são falantes, inteligente e cheios de vida”.