A fé sempre esteve presente na vida da Graziela, que cresceu entre os sacramentos e as celebrações religiosas. “A gente sempre fez parte da igreja. A nossa família já era da igreja, nós crescemos na igreja, então pra gente sempre foi muito natural”, disse a jornalista, Graziela Faria.
Graziela está entre os brasileiros que se declararam católicos, no último censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O Brasil segue como o país com o maior número de católicos no mundo e pela primeira vez o levantamento mostrou que menos de 60% da população se identifica com a fé católica. As transformações sociais e culturais do país, somadas ao envelhecimento da geração que cresceu imersa nas práticas católicas, ajudam a explicar este novo cenário.
O historiador, Rodrigo Coppe Caldeira analisou a situação atual. “Ao longo dos anos, o que a gente pode dizer é que a gente tem um processo de secularização. Esse processo de secularização tem a ver com a formação de um estado laico, que também está relacionado com a emergência da pluralidade cultural, pluralidade de valores, pluralidade religiosa. Antes a tradição ela tinha menos ruído na passagem geracional. Hoje é cada vez mais difícil. Nós temos um problema de transmissão, essa é a questão, a questão cultural de fundo”.
Se por um lado os números mudam, por outro cresce o desejo latente por uma vivência mais autêntica da fé. E a igreja tem sentido essa busca. “Como bem salientava o Papa Bento XVI, o Papa Francisco, o cristianismo não deve crescer por proselitismo, mas por atração. Nós nascemos como uma pequena comunidade. Cristo não se encontrava com multidões, mas de uma maneira pessoal e intransferível, cruzando olhares, dando-lhe sentido de vida, cada um ganhava um sentido novo e um rumo decisivo a partir do encontro com Jesus”, relembrou o diretor-geral da Rede Catedral da Comunicação Católica, padre Samuel Fidelis Donatos.
Ainda que existam os que se afastem, há famílias que seguem fiéis no propósito de viver e transmitir os valores cristãos no dia a dia. Na casa da Graziela, a fé não cabe em estatísticas. Ela pulsa nas orações do dia, nos gestos de cuidado e na busca por preceitos que conduzam à vida eterna. “A gente cresceu com esses valores e nós vimos como que isso moldou quem a gente é, moldou nosso caráter, moldou o que a gente vive hoje, o que a gente prega e o que a gente faz. Então, a gente quer que os meninos também tenham esse mesmo caminho”, completou ela.
Aprendizados que já conquistaram o coração dos pequenos. “Eu adoro ajudar nas coisas que tem aqui de igreja, tipo assim, tem uma barraquinha, eu gosto de ajudar na barraquinha. Eu sinto que eu tô ajudando não só uma pessoa ou outra, eu tô ajudando uma comunidade inteira aqui da igreja”, disse o garoto de 11 anos, José Luís Faria Silveira.
“Já aconteceu alguma coisa aqui na igreja que você guarda com muito, muito carinho no seu coração?” -” Ir na missa”, contou José.
Mais do que provocar alarde, os dados do censo convidam a uma reflexão profunda. Os novos tempos trazem desafios que não só podem, como devem ser convertidos em aprendizados. “A igreja é convidada mais uma vez a voltar às suas fontes, porque na medida em que se encontra com Jesus Cristo neste primeiro amor, certamente irá atrair outras pessoas para o reino”, concluiu padre Samuel.