DOUTRINA DA FÉ

Vaticano declara supostas aparições de Dozulé como não sobrenaturais

Segundo relatos, Jesus teria aparecido 49 vezes a mulher no interior da França e pedido construção de uma cruz totalmente iluminada com 738 metros de altura

Da Redação, com Vatican News

Cruz erguida no local das supostas aparições, em Dozulé / Foto: Cyrille161 via Wikimedia Commons

O Dicastério para a Doutrina da Fé considerou o fenômeno das supostas aparições ocorridas em Dozulé, na França, como não sobrenatural. A decisão foi aprovada pelo Papa Leão XIV e comunicada em uma carta assinada pelo prefeito do dicastério, Cardeal Victor Manuel Fernández.

Segundo os relatos, Jesus teria aparecido 49 vezes na pequena cidade de Dozulé, entre 1972 e 1978, a Madeleine Aumont. Durante as aparições, pediu a construção de uma cruz que deveria ser toda iluminada e atingir a altura de 738 metros, com braços de 123 metros. A “Cruz Gloriosa de Dozulé” garantiria a remissão dos pecados e a salvação àqueles que se aproximassem dela.

Em abril de 1983, o então bispo de Bayeux-Lisieux, Dom Jean-Marie-Clément Badré, afirmava que “em nenhum caso a construção de uma cruz monumental empreendida em Dozulé (…) pode ser um sinal autêntico da manifestação do Espírito de Deus”. O mesmo bispo declarou, em dezembro de 1985, que a ação e a agitação, a arrecadação de fundos por pessoas que agem por conta própria sem qualquer respeito pela autoridade do bispo e a condenação sem apelo daqueles que não aderem à mensagem levavam-no a não conseguir discernir os sinais que o autorizassem a declarar autênticas as “aparições”.

Mais recentemente, o atual bispo dicoesano, Dom Jacques Habert, propôs uma “declaração de não sobrenaturalidade” das aparições. O pedido foi atendido pelo Dicastério, que o autorizou a “declarar definitivamente que o fenômeno das supostas aparições de Dozulé é reconhecido como não sobrenatural, ou seja, que não tem uma origem divina autêntica”.

Elementos problemáticos

Entre os elementos problemáticos destacados nas mensagens, está a comparação entre “a cruz solicitada em Dozulé e a de Jerusalém”. Segundo a carta, este aspecto “corre o risco de confundir o sinal com o mistério e dar a impressão de que se pode ‘reproduzir’ ou ‘renovar’ em sentido físico o que Cristo já realizou de uma vez por todas”.

Salienta-se ainda que “algumas formulações contidas nas supostas mensagens de Dozulé insistem na construção da Cruz Gloriosa, como um novo sinal, necessário para a salvação do mundo, ou meio privilegiado para obter o perdão e a paz universal. Às vezes se fala em ‘multiplicar o sinal’, como se tal difusão constituísse uma missão imposta pelo próprio Cristo”.

O Dicastério para a Doutrina da Fé observa que “a Cruz não precisa de 738 metros de aço ou cimento para ser reconhecida: ela se eleva cada vez que um coração, sob a ação da graça, se abre ao perdão, que uma alma se converte, que a esperança ressurge onde parecia impossível, e também quando, beijando uma pequena cruz, um crente se entrega a Cristo”.

Afirmações incompatíveis com a Doutrina

A carta reitera que “a Igreja encoraja as expressões de fé que conduzem à conversão e à caridade, mas adverte contra qualquer forma de ‘sacralização do sinal’ que leve a considerar um objeto material como garantia absoluta da salvação”.

De fato, nas mensagens de Dozulé, é dito que “todos aqueles que vierem se arrepender aos pés da Cruz Gloriosa serão salvos”, que “a Cruz Gloriosa perdoará todos os pecados” e que todos aqueles que “com fé chegarem lá para se arrependerem, serão salvos nesta vida e para a eternidade”. Tais afirmações são consideradas pelo Dicastério como “incompatíveis com a doutrina católica da salvação, da graça e dos sacramentos”.

A carta cita ainda outras mensagens que foram desmentidas pelos fatos, como, por exemplo, aquela segundo a qual Jesus teria pedido que se realizasse a “Cruz Gloriosa e o Santuário” até o final do de 1975, ano jubilar, “porque será o último Ano Santo”. São também enumeradas afirmações apocalípticas, como a de que Jesus teria dito: “se o homem não erguer a Cruz, eu a farei aparecer, mas não haverá mais tempo”.

“A cruz como sinal de devoção”, conclui o Dicastério para a Doutrina da Fé, “nunca é pura exterioridade. Quando um cristão venera a cruz, não adora a madeira ou o metal, nem pensa que uma cruz material possa substituir a obra salvífica já realizada na Páscoa de Cristo, mas adora Aquele que nela deu a vida”.

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