Meio Ambiente

Trabalhar em prol da cultura da vida e não da morte, salienta Papa

Em audiência, Papa destaca mudanças climáticas, desigualdades globais e insegurança alimentar, e defende que problemas representam ameaças existenciais para a humanidade

Da Redação, com Vatican News 

Papa Francisco: "Estamos trabalhando em prol de uma cultura de vida ou de uma cultura da morte?" / Foto: Globelet reusable via Unsplash

Papa Francisco: “Estamos trabalhando em prol de uma cultura de vida ou de uma cultura da morte?” / Foto: Globelet reusable via Unsplash

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira, 16, na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de duzentos participantes, de diversas partes do mundo, do encontro promovido pelas Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais sobre o tema “Da crise climática à resiliência climática”.

Em seu discurso, o Papa afirmou que “os dados sobre as mudanças climáticas pioram a cada ano e, portanto, é urgente proteger as pessoas e a natureza”. Francisco parabenizou “as duas Academias por liderarem este esforço e produzirem um protocolo de resiliência universal. As populações mais pobres, que pouco têm a ver com as emissões de poluentes, precisarão receber maior apoio e proteção”.

“A destruição do ambiente é uma ofensa a Deus, um pecado que não é apenas pessoal, mas também estrutural, que coloca seriamente em perigo todos os seres humanos, especialmente os mais vulneráveis, e ameaça desencadear um conflito entre gerações”, disse o Papa, que perguntou: “Estamos trabalhando em prol de uma cultura da vida ou de uma cultura da morte?”

As consequências das mudanças climáticas

O Pontífice reiterou que estamos diante de desafios sistêmicos distintos, mas interligados: “As mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, a degradação ambiental, as desigualdades globais, a insegurança alimentar e uma ameaça à dignidade das populações envolvidas. Se não forem abordados de forma coletiva e urgente, esses problemas representam ameaças existenciais para a humanidade, para outros seres vivos e os ecossistemas.

Ao falar sobre os mais afetados pela crise climática, Francisco deixou claro: “São os pobres da Terra que mais sofrem, apesar de serem os que menos contribuem para o problema. As nações mais ricas, cerca de um bilhão de pessoas, produzem mais da metade dos poluentes que retêm o calor. Contrariamente, os três bilhões de pessoas mais pobres contribuem com menos de 10%, mas arcam com 75% das perdas resultantes. Os 46 países menos desenvolvidos, em sua maioria africanos, são responsáveis por apenas 1% das emissões globais de CO2. Ao invés disso, as nações do G20 são responsáveis por 80% dessas emissões”. 

As mulheres e as crianças na crise climática 

Em seguida, o Papa ressaltou que a pesquisa feita pelas Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais também apresenta a realidade das mulheres e das crianças que carregam um fardo desproporcional na crise climática.  

“As mulheres geralmente não têm o mesmo acesso aos recursos que os homens, e cuidar da casa e dos filhos pode dificultar a possibilidade de migrar em caso de desastre. No entanto, as mulheres não são apenas vítimas das mudanças climáticas, elas também são poderosas agentes de resiliência e adaptação. Com relação às crianças, quase um bilhão delas residem em países que enfrentam um risco extremamente alto de devastação relacionada ao clima. Sua idade evolutiva as torna mais suscetíveis aos efeitos, tanto físicos quanto psicológicos, das mudanças climáticas”.

A importância de uma abordagem universal e decisiva

Segundo Francisco, “o progresso ordenado é então dificultado pela busca voraz de ganhos a curto prazo por parte das indústrias poluentes e também pela desinformação, que gera confusão e dificulta os esforços coletivos para inverter a rota”.

De acordo com o Papa, “o espectro das mudanças climáticas paira sobre todos os aspectos da existência, ameaçando a água, o ar, os alimentos e os sistemas de energia. Igualmente alarmantes são as ameaças à saúde pública e ao bem-estar. Assistimos à dissolução de comunidades e ao deslocamento forçado de famílias”.

Mais de três bilhões e meio de pessoas vivem em regiões altamente sensíveis à devastação das mudanças climáticas, o que leva à migração forçada. Defender a dignidade e os direitos dos migrantes climáticos significa afirmar a sacralidade de cada vida humana e exige honrar o mandato divino de salvaguardar e proteger a nossa casa comum. 

Diante dessa crise planetária, o Papa destacou, em primeiro lugar, a necessidade de “uma abordagem universal e uma ação rápida e decisiva para promover mudanças e decisões políticas”, e em segundo, a urgência de uma “inversão da curva de aquecimento, buscando reduzir pela metade a taxa de aquecimento no curto espaço de um quarto de século”.

Papa reforça as ações que precisam ser feitas pelo planeta terra, nossa casa comum: “Ao mesmo tempo, devemos ter como meta a descarbonização global, eliminando a dependência de combustíveis fósseis. Em terceiro lugar, grandes quantidades de dióxido de carbono devem ser retiradas da atmosfera, através de uma gestão ambiental que abranja várias gerações.

O Pontífice também reconheceu: “É um trabalho longo, mas também de grande alcance. Todos nós devemos empreendê-lo juntos”. A seguir, ele exortou a salvaguardar as riquezas naturais: “As bacias da Amazônia e do Congo, as turfeiras e os manguezais, os oceanos, as barreiras de corais, as terras agrícolas e as calotas polares, por sua contribuição para a redução das emissões globais de carbono”. 

Combater a crise climática: um trabalho conjunto 

Essa abordagem integral combate as mudanças climáticas e também enfrenta as crises da perda de biodiversidade e da desigualdade, cultivando os ecossistemas que sustentam a vida”. 

Segundo Francisco, “a crise climática exige uma sinfonia de cooperação e solidariedade global. O trabalho deve ser sinfônico, harmonioso, todos juntos. Por meio de reduções de emissões, educação sobre estilos de vida, financiamento inovador e o uso de soluções comprovadas baseadas na natureza, fortalecemos a resiliência, especialmente a resiliência à seca”.

O Papa ressaltou a necessidade de desenvolver “uma nova arquitetura financeira que responda às necessidades do Sul do mundo e dos Estados insulares gravemente afetados por catástrofes climáticas. A reestruturação e redução da dívida, junto com o desenvolvimento de uma nova Carta financeira global até 2025, reconhecendo uma espécie de “dívida ecológica” – é preciso trabalhar nesta palavra: dívida ecológica – podem ser uma ajuda válida na mitigação das mudanças climáticas.

Por fim, o Papa agradeceu e incentivou os membros das Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais a continuarem trabalhando “na transição da atual crise climática para a resiliência climática com equidade e justiça social”, advertindo que é necessário agir com urgência, paixão e determinação.

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