Aparecida e Nazaré

Títulos marianos revelam proximidade de Deus com seu povo, diz teólogo

Irmão Afonso Murad destaca a pluralidade de rostos de Maria, com foco nos títulos de Aparecida e Nazaré, celebrados neste domingo, 12

Julia Beck
Da Redação

Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de Nazaré /Fotos: Canva

Neste domingo, 12, o Brasil celebra sua Padroeira, Nossa Senhora Aparecida, em comunhão com toda a Igreja que vive o Jubileu da Espiritualidade Mariana — um tempo de graça que convida os fiéis a redescobrirem a presença materna de Maria ao longo da história e nas diversas culturas do mundo.

Ao refletir sobre essa presença, o teólogo e membro da Academia Marial, Irmão Afonso Murad, recorda que Maria se manifesta de formas diferentes em cada país e contexto, revelando o rosto de uma Mãe que fala a linguagem de cada povo.

“A mãe de Jesus vai assumindo traços diferentes conforme a espiritualidade daquele tempo, conforme o contexto histórico e geográfico.”, explica o religioso. “Essa pluralidade de rostos marianos, afirma o membro da Academia Marial, mostra que a Mãe de Jesus se manifesta de formas diferentes, às vezes no mesmo país, dependendo da região, da cultura, ou das culturas, das etnias e da experiência mística que um vidente ou uma vidente realiza”.

Segundo o teólogo, essa diversidade é expressão da liberdade de Deus de se comunicar de modos novos e próximos. “A partir da Idade Média, quando a imagem de Jesus assume especialmente uma fisionomia daquele que julga e que condena, Maria cada vez mais é interpretada e vivida pelos cristãos como o rosto misericordioso de Deus, manifestado numa mulher que já está glorificada junto ao seu filho Jesus”, afirma.

Ele lembra que, no processo histórico, as manifestações marianas também se relacionaram com contextos de colonização. “Nossa Senhora e Jesus eram apresentados como reis e rainhas que defendiam e eram mensageiros dos colonizadores. Mas, ao mesmo tempo, os povos colonizados, os mestiços, os indígenas, afrodescendentes e africanos fizeram uma reinterpretação de Maria como santa próxima, que ouve” adicionando elementos culturais próprios.

Uma mesma Mãe, diferentes linguagens de amor

Irmão Afonso Murad/ Foto: Arquivo Pessoal – Irmão Afonso

Ao comentar sobre os principais títulos marianos, Irmão Afonso destaca como cada manifestação revela a proximidade de Deus com a realidade local. “Guadalupe é um exemplo claríssimo de como Maria fala na linguagem do povo que sofre e clama a Deus. Ela se manifesta ao índio, Juan Diego, na língua dele”, e a imagem que surge na tilma apresenta uma mulher mestiça, grávida, com símbolos compreensíveis para aquele povo, explica o religioso.

A luz, as estrelas e a lua sob os pés remetem tanto à cultura indígena quanto à tradição cristã. Segundo o membro da Academia Marial, Guadalupe é o rosto de uma mulher de misericórdia, sinal de esperança para um povo que sofria com a violência e a morte provocadas por seus colonizadores.

Já Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, aparece como uma mulher envolta em luz, com o terço nas mãos. “É a mesma Maria, Mãe de Jesus, manifestada num tempo e num contexto diferente”, “que retoma algo fundamental na piedade católica: o Terço, o Rosário. 

Expressões do rosto mariano do povo brasileiro

A celebração de Nossa Senhora Aparecida tem um significado especial para o povo brasileiro. “Uma imagem da Imaculada Conceição, de origem portuguesa, que sai das águas”, frisa o teólogo. A água, destaca o religioso, é sinal da vida que nasce e se expande.

É importante destacar que em Belém do Pará, outro título de forte expressão é celebrado neste domingo, 12, Nossa Senhora de Nazaré. A devoção a esse título de Maria nasceu de uma imagem encontrada num igarapé e que foi interpretada pelo povo — na época de caboclos, indígenas e afrodescendentes — “como a Senhora da misericórdia e da bondade”, conta Irmão Afonso. De acordo com o teólogo, igarapé é caminho, fonte e esperança. Maria, disse Murad, conduz o povo ao grande rio que é Jesus, que conduz todos ao Pai.

O membro da Academia Marial lembra que Aparecida e Nazaré não são os único títulos de devoção dos brasileiros. Em cada região, Maria tem um rosto: no Sul, Nossa Senhora Medianeira, e no Espírito Santo, Nossa Senhora da Penha.

Para o teólogo, a pluralidade mariana é dom e riqueza para a Igreja. Ele destaca que cada povo reconhece em Maria uma presença próxima, materna e misericordiosa. Isso, prossegue o religioso, mostra que o Evangelho se encarna na história, e que o amor de Deus tem muitos rostos.

Fé popular: diálogo criativo com o sagrado

A devoção mariana no Brasil, tão viva nas romarias e nas festas de fé, expressa o modo como o povo se relaciona com Deus. Para o religioso, a fé popular é uma forma criativa e dinâmica de evangelização.

A transmissão divina inclui a recepção, que não é passiva, mas criativa, prossegue. Murad recorda que o Papa Francisco, na Alegria do Evangelho, lembra que a cultura é viva e está movimento. Essa vitalidade, continua o teólogo, explica como as manifestações marianas apresentam peculiaridades. 

A devoção a Aparecida, lembra ele, nasceu simples — entre pescadores — e cresceu até se tornar nacional. “Com o processo missionário dos redentoristas, primeiro pela rádio, depois por outros meios”, a devoção se espalhou, até tornar-se a mais importante do Brasil. 

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