MEMÓRIAS

Sinos de São João del-Rei mantêm viva tradição religiosa e cultural de MG

Há dezesseis anos, os sinos de São João del-Rei receberam o título de patrimônio imaterial brasileiro. Desde então, as badaladas que ecoam pelas montanhas de Minas Gerais seguem como símbolo vivo da fé, da cultura e da memória coletiva da cidade.

Reportagem de Emerson Tersigni, Messias Junqueira e Luiz Carlos dos Santos

São João del-Rei encanta não somente quem a observa, mas também quem a ouve. Em meio aos telhados, lá estão eles. Esta é a cidade onde os sinos falam.

“É interessante os sinos na tradição católica, eles nos chamam a atenção para o eterno, nesse mundo tão confuso, os sinos é sempre um chamado para pensarmos na eternidade”, explicou o Cura da Catedral Nossa Senhora da Piedade, o Monsenhor Geraldo Magela. 

Igreja de São Francisco, das Mercês, do Carmo, do Rosário e Catedral do Pilar. Estes são alguns dos antigos templos que, até hoje, preservam em suas torres o badalar do anúncio do Cristo.

A linguagem dos sinos é diversa. Estes foram os toques fúnebres que anunciaram a morte do Papa Francisco, um dia após a páscoa, no mês de abril.

“Isso traz, não é, a Igreja presente, não só na hora da alegria, quando o Papa assume o Pontificado, mas também o sino está lembrado que é a morte do Papa, porque o sino chama o povo, convoca o Clero, afugenta os raios e tempestades e alegram as festas e chora os defuntos”, apontou sobre a tradição o historiador, Luiz Miranda.

E acredite: existe até uma profissão para exercer este ofício: a de sineiro. Cada toque comunica. O amor do sineiro e artista sacro Miguel Anderson Gomes, que por tanto tempo subiu e desceu das torres, traduziu-se em arte, orgulhosamente, em suas mãos. “Eu comecei a tocar sino por volta de 1990. Tive facilidade para desenhar, gosto muito de desenhar, e comecei a desenvolver a réplica dos sinos em 2001, e estou até hoje graças a Deus e sou apaixonado pelo o que eu faço”, relembrou.

Já o João Vitor Braga é sineiro da catedral. Seu amor pelos sinos começou quando pequeno. “Eu sempre tive curiosidade, sempre ajudei na missa, sempre fui coroinha, ajudava na trezena, na festa de Santo Antônio, e sempre gostei de ir na torre, acabava a missa corria para a torre. Depois que eu fui no Santo Antônio, eu fui para a Igreja do Rosário, lá eu comecei a especializar mas o repique, aí depois vindo pro lado de casa que é da Matriz, fui pro Carmo, depois que já ganha experiência, já vai nos domingos e em todas as torres. Que de manhã no domingo cedo todos os sinos tocam na cidade. Aí você faz uma via sacra, cada hora você toca numa torre diferente para você tocar o sino”, afirmou o jovem.

É a futura geração aprendendo com um jovem experiente. O estudante, Thiago Augusto contou sua experiência até agora. “É eu estou nas torres faz pouco tempo, três anos, e estou para começar agora fazer os repiques, mas como dobrar assim eu já tô bem”.

E aí, teria coragem? Na tradição são-joanense, isto significa ‘dobrar o sino’, ou seja, em uma posição favorável que permita o seu giro sincronizado.

Durante o dia foi possível observar esta prática. Bonita, e ao mesmo tempo, emocionante. “A meninada hoje em dia que está vindo aprender, deixar subir na torre mesmo, começar a pegar na corda do sino sem medo, porque é uma tradição que não pode morrer. Então preciso dessa criançada para vir ajudar”, reforçou João.

Comunicação divina. Voz de Deus. Convite à oração. Cidade que se movimenta em meio aos movimentos.  Piedosa e solene tradição de uma terra que respira espiritualidade.

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