Celebrado nesta sexta-feira, 25, padroeiro dos motoristas e viajantes configura-se como lição de busca pela santidade e serviço ao próximo, refletem sacerdotes
Gabriel Fontana
Da Redação

Imagem de São Sebastião / Foto: Carolina Valtuille via Canva
Uma das devoções mais populares do Brasil, São Cristóvão é celebrado pela Igreja nesta sexta-feira, 25. Com o título de padroeiro dos motoristas e viajantes, o santo normalmente é invocado por aqueles que se preparam para pegar a estrada.

Padre Robinson Veronezze / Foto: Arquivo pessoal
A origem desta devoção remonta à história do santo que, devido à sua grande estatura, costumava ajudar viajantes a atravessar um rio de leito agitado e perigoso. Membro do clero de Jundiaí (SP), o padre Robinson Veronezze detalha que, um dia, uma criança pediu ajuda, e São Cristóvão logo a colocou no ombro para realizar a travessia. À medida que cruzava o rio, porém, o peso do menino aumentava mais e mais, de forma que o santo somente conseguiu completar o percurso com muito esforço.
Ao chegar à outra margem, a criança revelou sua identidade: era o Menino Jesus, e o peso que havia carregado era o do mundo inteiro, salvo pelo sangue de Cristo. “São Cristóvão, cujo nome significa ‘aquele que carrega a Cristo’, é para nós cristãos um modelo de fé, caridade, coragem, constância e disponibilidade em servir ao Senhor da Vida”, reflete o sacerdote.

Maria de Fátima Ceratti / Foto: Arquivo pessoal
Maria de Fátima Ceratti frequenta a Paróquia São Cristóvão em Itu (SP), onde o padre Robinson é pároco. Ela partilha que, servindo na comunidade a partir do exemplo de seu padroeiro, cresce na fé e na busca pela santidade.
Da mesma forma, a aposentada costuma pedir a intercessão de São Cristóvão, especialmente quando vai viajar. Além disso, recorre ao auxílio do santo em outras questões difíceis da vida – mais recentemente, recebeu algumas graças relacionadas à saúde, o que deu forças para continuar servindo.
Ajuda sobre duas rodas
Original de São José dos Campos (SP), o Motoclube Ruah vive a devoção a São Cristóvão não apenas pedindo sua intercessão ao rodar pelas estradas, mas também no serviço aos necessitados. O grupo, que completa dez anos, está vinculado à Paróquia Espírito Santo e costuma arrecadar doações para asilos.
Fundador e presidente do Ruah, José Luiz recorda que, em 2015, teve a inspiração de criar o grupo por conta do seu irmão, que integrava um outro motoclube. Junto a um amigo, ele escreveu uma carta para o então pároco, padre Luiz Fernando, explicando a ideia. O sacerdote autorizou a criação do grupo e foi o responsável por batizá-lo com o nome de Ruah.
Com o motoclube fundado e tudo pronto, os participantes começaram a realizar ações sociais. Atualmente, o “carro-chefe” do grupo são as sobremesas nas festas da paróquia. “A gente faz 100 pudins a cada dois meses, e todos os ingredientes são doações do próprio grupo ou até mesmo de parceiros. Depois, todo o lucro arrecadado é destinado a asilos – fraldas geriátricas, produtos de limpeza, alimentos não perecíveis”, conta José Luiz.
As doações são entregues pessoalmente, durante as “viagens-missão”, cujos destinos normalmente são cidades do interior de Minas Gerais. “Nós escolhemos uma cidade, entramos em contato com o asilo, perguntamos quais são as necessidades e programamos a data da visita. Então nós vamos, ajudamos o asilo, conhecemos a cidade, participamos da Missa e voltamos para São José dos Campos”, detalha o presidente do motoclube.

Motoclube Ruah / Foto: Reprodução Instagram
Passar para a outra margem
Padre Denis Campos, da Arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ), comenta que São Cristóvão também ensina aos fiéis lições sobre a busca pela santidade. O sacerdote aponta que o santo percebia um grande vazio interior, que acreditava poder ser preenchido se servisse o rei mais poderoso do mundo. “Foi diante de tantas buscas que ele fez – muitas vezes uma busca árdua, uma busca lenta – que ele um dia foi encontrado pelo Senhor”, afirma.
“São Cristóvão representa a nós, que sentimos esse vazio, essa necessidade de Deus”, prossegue. “No início ele buscava Deus sem perceber que era de Deus que ele tinha sede. Da mesma forma, nós, que somos sedentos de Deus, muitas vezes vamos procurando saciar essa sede, esse vazio em falsos deuses, até ter experiência mesmo com o Deus verdadeiro”.
Recordando os Evangelhos, padre Denis indica também que, algumas vezes, Jesus faz o convite aos discípulos para que passem à outra margem – um chamado que ecoa até os dias de hoje. Diante disso, São Cristóvão se apresenta como uma ajuda para atravessar para o outro lado da vida.
“Geralmente estamos na margem do nosso fechamento, nosso egoísmo, da nossa falta de amor, com um coração endurecido: daí essa necessidade de ser atravessado para a outra margem, quando começamos a tomar posse dessa vida nova que Deus dá por meio de uma experiência profunda com o amor de Deus”, finaliza.