11 de julho

São Bento: cruz de Cristo é única luz e força contra o mal, frisa monge

Santo celebrado nesta sexta-feira, 11, é tido pelos fiéis como um intercessor na luta contra o mal; religioso fala sobre oração e medalha de São Bento, enquanto missionários partilham devoção

Julia Beck
Da Redação

Imagem de São Bento na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma /Foto: Nick Castelli na Unsplash

“A Cruz Sagrada seja a minha luz, não seja o dragão meu guia. Retira-te, satanás! Nunca me aconselhes coisas vãs. É mau o que tu me ofereces, bebe tu mesmo o teu veneno! Amém!”.

Esta antiga oração associada a São Bento – celebrado nesta sexta-feira, 11, é rezada por fiéis católicos do mundo todo para renovar “a decisão de rejeitar sugestões vazias e perigosas” e “reafirmar que a direção” de suas vidas “vem de Cristo crucificado”, reflete o monge beneditino, Dom Anselmo Giaretta.

Monge beneditino, Dom Anselmo Giaretta/Foto: Arquivo Pessoal

O religioso explica que, embora tradicionalmente atribuída a São Bento, essa oração provavelmente não foi composta por ele. Sua primeira menção documentada data de 1647, no mosteiro de Metten (Alemanha), onde foi encontrada num livro ilustrado com a imagem do santo, confeccionado por volta de 1415. Isso indica que a oração pode ser anterior ao século XV, mas não da época de São Bento.

Dom Anselmo acredita ser mais provável que a oração tenha sido escrita por um piedoso monge que confiava plenamente no poder da cruz e à intercessão de São Bento.

“Por ter sido descoberta num mosteiro beneditino, associada à imagem e à cruz, a oração passou a ser vinculada ao santo, e as medalhas com a cruz e as iniciais da oração, ficaram conhecidas como medalhas de São Bento”, conta o monge beneditino.

A oração, prossegue o religioso, efetivamente, resume de forma breve e poderosa a espiritualidade de São Bento: confiança na cruz de Cristo como única luz e força contra o mal. O “dragão” simboliza o demônio e todas as tentações que desviam do caminho de Deus.

“Essa fórmula curta pode ser repetida em momentos de tentação, medo ou desânimo, fortalecendo o espírito no combate interior. Além de proteger contra influências malignas, lembra o cristão de sua vocação batismal de lutar diariamente contra o pecado. Assim, mesmo sendo breve, contém uma profundidade espiritual capaz de sustentar muitos fiéis na caminhada rumo à santidade”, sublinha.

Devoção

Elias Júnior /Foto: Arquivo Pessoal

Os missionários da Comunidade Canção Nova, Elias Júnior e Alex Silva, rezam diariamente esta oração associada a São Bento. Elias conta que, depois, geralmente faz uma oração em línguas, invocando o Espírito Santo, “pois não tem plena consciência das batalhas espirituais que enfrenta, mas Deus sabe”, pontua. Alex revela a preferência por rezar a fórmula em latim.

A medalha de São Bento também é utilizada por ambos os missionários. “Já perdi a conta de há quanto tempo conheço e uso a medalha de São Bento. Me lembro de que, em certo momento, cheguei a deixá-la de lado — não me recordo exatamente o motivo —, mas logo que reencontrei a medalha que uso até hoje (isso já faz uns 10 anos), senti, diante dos combates que enfrentava, que não poderia mais deixá-la de lado”, revela Elias.

O missionário, que também é músico e cantor, afirma que faz questão de usar uma medalha grande — ela tem 5 cm de diâmetro —, com o objetivo de afastar o mal. No entanto, ele frisa a consciência de que a força vem de Deus, de que é Ele quem realiza, quem age.

“A medalha, seja grande ou pequena, sem Deus, é apenas um objeto. Mas, com o propósito certo e com a bênção de Deus, ela se torna um sacramental, que tem o poder de exorcizar o mal. E eu testemunho que fui livrado de muitas ciladas e investidas malignas por meio do uso desse sacramental, que é a medalha. Inclusive, vale destacar que não basta apenas usá-la: além da oração diária, existe um rito de bênção e imposição da medalha, realizado por um sacerdote”, pondera.

Imitando as virtudes do santo

Alex Silva /Foto: Arquivo Pessoal

Alex reafirma que usa a medalha no pescoço por devoção e que busca imitar as virtudes do santo. Ele faz questão de frisar que o símbolo recorda o compromisso de amor a Deus vivido pelo santo.

“Estudando São Bento tive conhecimento de fatos sobre a medalha. Um deles, foi o relato de que bruxas não conseguiam realizar seus feitiços e encantos nos locais marcados pela cruz (…). Como missionário morei em Portugal e lá ganhei a medalha de São Bento (…), um detalhe muito significativo para mim é que a medalha foi abençoada por padre Jonas Abib (fundador da Canção Nova)”, recorda Alex.

Medalha de São Bento

Dom Anselmo explica que a medalha de São Bento é um sacramental católico que reúne símbolos e inscrições relacionadas à vida e à proteção do santo. O elemento principal da medalha é a Cruz de Nosso Senhor. Além da cruz, aparecem várias letras: C.S.S.M.L./ N.D.S.M.D./V.R.S.N.S.M.V./S.M.Q.L.I.V.B., que são as iniciais latinas da tradicional oração descrita no início desta matéria.

A medalha não é um amuleto, ressalta o monge beneditino, mas um sinal de fé que deve ser usado com devoção sincera, acompanhada de oração e confiança em Deus. Pode ser usada com a pessoa, colocada em casa ou sobre objetos.

“O valor da medalha está no compromisso do fiel em rejeitar o pecado e buscar a luz de Cristo. Para não cair em superstição, é importante lembrar que ela não possui poder em si mesma, mas remete à fé em Nosso Senhor e à intercessão de São Bento”, recorda.

Medalha de São Bento /Foto: Canção Nova

Combate espiritual

São Bento é tido pelos fiéis como um intercessor na luta contra o mal – característica esta reforçada pelos missionários Elias e Alex. O combate espiritual que o santo travou por meio da oração foi o que chamou atenção de Elias para a devoção ao santo.

“Desde pequeno, aprendi sobre a existência do mundo espiritual e que o demônio existe, sempre tentando nos afastar do caminho de Deus. Para isso, ele se utiliza de diversas formas e maneiras, que só conseguimos perceber por meio da oração e da comunhão com Deus. Aprendi com São Bento a estar atento e a combater o demônio por meio da oração, para que eu permaneça na graça de Deus”, conta o missionário.

Diante desta atribuição, Dom Anselmo confirma que o santo, de fato, é venerado desta forma por causa de diversos episódios de sua vida, narrados por São Gregório Magno. Ele enfrentou tentações severas e resistiu a ataques demoníacos durante sua vida.

O santo ficou famoso, neste sentido, pelas grandes vitórias que teve contra o demônio e as tentativas que sofreu de assassinato, lembra o monge beneditino. “A tradição conta que ele abençoou um cálice envenenado que se quebrou e, por meio de um corvo, foi prevenido de comer pão envenenado”.

Quem foi São Bento?

O primeiro contato de Alex com o santo foi através da sua medalha. A partir de então, começou a descobrir sobre a vida de São Bento, os desafios que enfrentou e como a misericórdia do Senhor foi se manifestando em sua vida e através dele.

O monge beneditino destaca que São Bento de Núrsia (480-547) foi um dos grandes homens da Igreja e é considerado o pai do monaquismo ocidental. Ao escrever uma Regra para seus monges, trouxe à Igreja uma espiritualidade baseada no equilíbrio entre oração e trabalho e leitura (ora et labora et lege).

“Seus ensinamentos insistem na busca constante de Deus no silêncio, na meditação cotidiana e na vida comunitária. A oração, segundo ele, não é apenas verbal, mas deve ser vivida em cada ação. Para ele, a santidade é um processo diário de conversão interior, guiado pela disciplina espiritual e pela caridade fraterna. Sua influência se estende até hoje, inspirando os batizados a buscarem uma vida interior profunda e dedicada a Deus”, enfatiza Dom Anselmo.

Ademais, os mosteiros beneditinos tornaram-se centros de oração, cultura, hospitalidade e formação cristã, revela o religioso. Ele sublinha que, graças aos monges seguidores da Regra de São Bento, preservaram-se muitas fontes da fé cristã e das ciências humanas ao longo dos séculos, além do que, tiveram papel decisivo na cristianização dos povos, inclusive no Brasil, já que os quatro primeiros mosteiros beneditinos do país foram fundados, respectivamente, nos anos de 1582, 1586, 1596 e 1598, antes dos 100 anos da chegada dos portugueses.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo