Igreja

Rede Clamor lança campanha contra o tráfico humano

Tema da campanha continental contra o tráfico humano é “A vida não é mercadoria à venda”

Da redação, com Vatican News

“A vida não é mercadoria à venda” é o tema da campanha continental contra o tráfico de pessoas lançada neste domingo, 7. A campanha é uma iniciativa da Rede Clamor, Rede Eclesial Latino-Americana e Caribenha sobre Migração e Tráfico de Pessoas.

O evento foi apresentado, em modo virtual, na véspera do “Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Seres Humanos”. A data é celebrada nesta segunda-feira, 8, memória litúrgica de Santa Josefina Bakhita, escrava sudanesa, libertada e que se tornou religiosa canossiana.

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Vida humana transformada num objeto

Segundo os organizadores, a iniciativa pretende “denunciar o quanto a vida humana se transforma num objeto que é colocado à venda e oferecido no mercado”.

“O tráfico de seres humanos é um grave flagelo”, reiterou a Rede Clamor. Por isso, devemos pedir ao Senhor, Deus da vida e da esperança, para nos acompanhar e nos encorajar na proteção da vida, especialmente a mais frágil e ameaçada”.

“Embora nos pareça que existam muitas instituições e pessoas da Igreja que são sensíveis a este flagelo contemporâneo, a este câncer da humanidade, existem também muitas outras pessoas, dentro e fora da Igreja, que ignoram esta terrível realidade, ou que simplesmente permanecem indiferentes”, disse o presidente da Clamor, dom Gustavo Rodríguez Vega, arcebispo de Yucatán, no México.

Por isso, a campanha deve “criar consciência da realidade atual do tráfico de pessoas, que não terminou realmente, mas é um negócio ininterrupto”, agravado por um mundo globalizado. O prelado também denunciou que “o tráfico de pessoas não poderia ocorrer sem a corrupção das autoridades e a presença de criminosos que se enriquecem às custas do sofrimento e da morte de milhares de pessoas, nossos irmãos e irmãs”.

Decomposição social

Por sua vez, o secretário-geral do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam), dom Jorge Eduardo Lozano, arcebispo de San Juan de Cuyo, na Argentina, definiu o tráfico como “uma realidade criminosa que nos envergonha como seres humanos, pois considera o outro como um objeto que pode ser vendido de acordo com a lei da oferta e da procura”.

“Estamos diante de uma decomposição social, um drama muito sério que nos mostra a baixeza em que conseguimos cair”, lamentou o prelado, recordando também as dificuldades que as vítimas, uma vez libertadas da rede do tráfico, têm que enfrentar para recuperar uma vida normal. Com frequência, elas “não voltam a viver com sua família de origem ou em seu vilarejo, por medo ou vergonha”.

Por isso, a campanha da Rede Clamor é um exemplo do “rosto de uma Igreja samaritana que se aproxima com o coração de uma mãe e se inclina diante do enorme sofrimento que não encontra consolo”. “Não nos viremos para o outro lado”, concluiu o secretário-geral do Celam, “mas façamos crescer a esperança em Jesus que é Amor”.

Humanizar as relações

Por sua vez, a presidente da Conferência Latino-americana de Religiosos (Clar), Liliana Franco, insistiu na urgência de “humanizar as relações, purificando-as de todas as nuances do utilitarismo e violência”. “É preciso rezar para deter a impunidade deste crime, romper o silêncio cúmplice e fortalecer as redes de ajuda”, ousando “denunciar as estruturas que oprimem, usam e comercializam o ser humano”.

Olhar e sentir o outro como um irmão

O presidente da Caritas da América Latina e Caribe, dom José Luis Azuaje, arcebispo de Maracaibo, na Venezuela, destacou como hoje “tudo seja medido com o poder e ter, mas não para partilhar, mas para excluir e agir com violência, para que as pessoas, sociedades e povos possam ser cada vez mais dominados”. Ele convidou a “olhar e sentir o outro como um irmão, uma irmã, porque ou somos salvos juntos ou não somos”. Como Igreja, “continuamos a fazer esforços não apenas para denunciar, mas também para despertar em cada um de nós o entusiasmo esperançoso de que este flagelo termine”.

Opor-se a modelos econômicos injustos

Todos os participantes do evento fizeram um apelo a opor-se a modelos econômicos “injustos, cruéis, que beneficiam poucos às custas de muitos que acabam sendo descartados”. Ao mesmo tempo, emergiu a esperança de que se estabelecesse “uma verdadeira economia de comunhão e partilha de bens, um cuidado com os direitos humanos que esteja acima de interesses desprovidos de valores humanitários e que ponha um fim à vergonhosa especulação sobre a escravidão”.

“Nós cristãos somos chamados a vencer a desigualdade, a discriminação e uma economia que mata”, porque “diante de tanta dor e tantas feridas, a única saída é ser como o Bom Samaritano, a fim de reconstruir uma comunidade a partir de homens e mulheres que fazem sua a fragilidade dos outros e que não permitem a construção de uma sociedade de exclusão”.

“É essencial proteger a dignidade da pessoa humana e promover o desenvolvimento humano integral, denunciando a mercantilização e exploração das pessoas”, concluiu a Rede Clamor, exortando ao mesmo tempo ao início de “uma economia do encontro, animada pelos valores de uma verdadeira comunhão universal”.

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