No dia de Santa Teresinha, conheça a história da paróquia dedicada a ela na zona norte de São Paulo, fruto da promessa de um padre em meio à Revolta Paulista de 1924
Aline Imercio
De São Paulo

A paróquia de Santa Teresinha na zona norte de São Paulo / Foto: Gilberto Pereira
Quem vê a imponente igreja de Santa Teresinha, que deu nome ao bairro na zona norte de São Paulo, não imagina que o local é fruto de uma promessa feita em meio a um dos piores conflitos armados que já aconteceram na capital paulista: a Revolta de 24, movimento liderado por alguns militares tenentistas contra o então governo de Arthur Bernardes.
O padre Silvio César, salesiano, é pároco da igreja em questão. Ele explicou um pouco mais sobre essa história. Confira na entrevista:
Padre, qual é a história desta Paróquia de Santa Teresinha na zona norte de São Paulo?
Padre Silvio César: A história da Paróquia Santa Terezinha é muito interessante, muito bonita, porque marca um tempo que foi uma surpresa para nós, os salesianos. A nossa sede aqui no Liceu (colégio) em São Paulo era no Campos Elíseos. Mas aqui (onde é a atual igreja) era a chamada Chácara Chora Menino. Um ambiente em que os meninos vinham para passear e jogar bola.
E aí veio, em 1924, uma revolução interna em São Paulo, que marcou muito bairros e regiões. E foi se tornando uma coisa meio pesada e bem difícil. Até mesmo bombas caíram no espaço do Liceu. E, na época, um padre salesiano, padre Marcigaglia, por conta de uma promessa, fez um pedido de que, nessa região, se construísse a Paróquia de Santa Teresinha.
Por que foi feita essa promessa a Santa Teresinha?
Padre Silvio César: Em uma das fugas dos meninos do Liceu, eles vinham para cá e traziam a pequena imagem de Santa Teresinha nos braços. E mesmo com os bombardeios, nada aconteceu com eles.
Então, Padre Marcigaglia quis construir essa capela dedicada a Santa Teresinha em agradecimento. Foi construída uma capela muito bonita, toda branquinha, toda dedicada a Santa Teresinha. A igreja foi inaugurada em 1927, no mês de dezembro, depois foi se tornando popular. As pessoas começaram a frequentar e o bairro foi se construindo ao redor, tanto que o bairro hoje aqui se chama Santa Teresinha, dentro dessa região, Santana, zona norte de São Paulo.
Depois construímos o Colégio Santa Teresinha, aqui ao lado. Este ano, a paróquia de Santa Teresinha celebra seus 85 anos como paróquia e em, 2027, será o centenário da inauguração da nossa igreja. (…) O início dessa história, infelizmente, se deu por uma questão tão triste, mas hoje é um presente de Deus para nós e um carinho de Santa Teresinha estarmos nessa paróquia tão movimentada aqui nessa região de São Paulo.

Imagem de Santa Teresinha / Foto: Gilberto Pereira
E é um marco da aliança dos salesianos com Santa Teresinha, não é?
Padre Silvio César: Pois é, muitos salesianos têm esse vínculo, esse carinho com Santa Teresinha. (…) Mas aí, quando ganhamos esse presente, e hoje o Colégio Santa Teresinha, é uma das maiores expressões dentro da rede de colégios salesianos. Foi um marco para nós. Eu falo que é um privilégio a gente ter Santa Teresinha como nossa padroeira, uma das padroeiras das nossas paróquias, e também ver aqui hoje o quanto de pessoas visitam essa igreja.
E Santa Teresinha foi contemporânea de Dom Bosco?
Padre Silvio César: Exatamente. É interessante que quando a gente lê o relato de Dom Bosco, não há uma citação da Santa Teresinha. Mas o mundo conhece a Santa Teresinha, né? Então ela está muito bem dentro das nossas casas. Toda a Casa Salesiana tem uma Santa Teresinha, porque ela é apresentada inclusive no nosso caminho de formação. Nos estudos para a nossa vida religiosa é imprescindível ler “A história de uma Alma” (obra de Santa Teresinha). Ele é considerado um dos principais livros para que a gente compreenda também como concentrar, como direcionar toda a nossa alma, toda o nosso caminho de espiritualidade, como viveu Santa Teresinha essa profunda experiência de um amor a Cristo, a ponto de dizer “Eu vou passar o céu rezando, enviando bênçãos, enviando uma chuva de rosas a todos”, ou seja, quase que dizendo assim “Eu não descansarei, continuarei com vocês fazendo o que eu posso fazer de melhor, que é viver uma vida, um testemunho de uma santidade incrível”.
E Santa Teresinha também intercedeu em outros conflitos?
Padre Silvio César: O mundo todo conhece a espiritualidade de Santa Teresinha, a sua história e não tem como a gente não invocá-la. É bonito, a gente recebe o tempo todo pessoas relatando “Padre, eu comecei uma novena para Santa Teresinha e já no segundo, terceiro dia a graça chegou” e a gente sabe da intercessão dela em outras tantas situações que o mundo viveu e vive.
Hoje a gente vive um tempo tão terrível, de tanta violência, quantas pessoas estão devotando a ela né? Que Santa Teresinha, continue derramando essa chuva de rosas sobre nós que a gente precisa de mais, né? Famílias e realidades, a juventude nos desafios que nós temos hoje. Então é, sobretudo, colocar essa situação de violência mundial que vivemos, esse desconforto mundial sob o seu carinho, sob a sua intercessão. E com certeza, ela vai continuar nos trazendo esses presentes e essas graças de que precisamos.