Recorde práticas tradicionais entre os católicos que ajudam na vivência da espiritualidade do Advento; padre reitera: foco do Natal é Jesus

Julia Beck 
Da Redação

Cantata, presépio vivo e novena são algumas das práticas tradicionais entre os católicos neste tempo do Advento. Na Catedral São João Batista, na Diocese de Almenara (MG), desde 2016, os fiéis acompanham a apresentação do presépio vivo. Neste ano, a encenação acontecerá neste sábado, dia 20. Pároco do local há três anos, padre Rafael de Oliveira Pereira afirma que iniciativas como essa são importantes, pois ajudam a resgatar o verdadeiro sentido do Natal, mantendo o foco naquele que é o centro da vida cristã: Jesus Cristo.

Logo no primeiro domingo do Advento, o sacerdote destaca que incentiva os fiéis a montarem o presépio e a iniciarem os preparativos para a chegada do Menino Deus. “O Natal tem a característica forte de ser recordação, lembrança da encarnação do Senhor no seio da humanidade. Um Deus que se revestiu da fragilidade humana e veio morar no meio de nós, que em tudo foi igual a nós, menos no pecado”, reflete.

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A cada missa, em cada domingo do Advento, padre Rafael ressalta que os fiéis recebem uma orientação e uma espiritualidade próprias desse tempo. “Acredito muito forte que quando nós, presbíteros, damos ali a bênção final, na verdade, damos uma bênção de envio. Os fiéis são então enviados para fazer cantatas de Natal, presépios vivos, novenas… tudo isso visando uma vivência profunda. Considero essas tradições como um ‘prolongamento da Santa Missa’”.

Segundo o sacerdote, as iniciativas natalinas nascem do próprio povo de Deus, de pessoas tocadas pela Palavra e pela Eucaristia, que sentem no coração o desejo de oferecer algo a mais ao Senhor. Dessa forma, padre Rafael acredita que a vida comunitária se nutre profundamente da Palavra e da Eucaristia para proporcionar essas vivências cristãs no Natal.

Momento artístico, de oração e contemplação

Victor Gabriel Nogueira, de 33 anos, integra a direção do presépio vivo que será apresentado na Catedral São João Batista. A iniciativa, que conta com outros coordenadores, é do grupo Jovens Unidos a Cristo (JUNIC), que neste ano completa 16 anos de existência. Segundo Nogueira, tudo começou com uma espécie de cantata natalina realizada na praça da cidade e, com o tempo, ganhou o formato atual.

“Estar à frente do presépio vivo não foi algo planejado de forma elaborada ou pensado como um ‘projeto’. Ele nasceu naturalmente da vivência na comunidade e do desejo sincero de meditarmos em comunidade os mistérios do nascimento de Jesus. É uma forma simples de preparar o nosso coração e o de toda a comunidade para a chegada do Menino Deus. Nada é feito com grandes produções ou pretensões artísticas, mas com simplicidade e verdade, rememorando, com amor, os acontecimentos que marcaram a nossa história”, sublinha o diretor.

De acordo com Nogueira, as semanas de ensaios e preparativos inserem os envolvidos de maneira mais ativa no espírito do Advento. “O serviço e o encontro com a comunidade de fé, com os jovens e com os amigos para cada decisão, os momentos de organização, oração e as expectativas que vão se criando sempre deixam marcas profundas em cada um de nós”, conta.

Durante a apresentação, o diretor destaca que a comunidade participa de forma intensa. Trata-se de um momento musical e artístico, mas marcado pelo silêncio, pela oração e pela contemplação.

Em sintonia com o Natal

Em 2017, um projeto surgiu no coração da missionária da Canção Nova, Juliana Moraes, de 44 anos: conduzir cantatas de Natal para ajudar os católicos a se prepararem para celebrar a natividade de Jesus. Com o aval do então reitor do Santuário do Pai das Misericórdias — localizado na sede da comunidade, em Cachoeira Paulista (SP) —, padre Márcio Prado, a primeira apresentação foi realizada.

“A música tem o poder de ordenar a alma, de ordenar os afetos (…). Nós católicos apaixonados por Deus, usamos a música como uma ferramenta de evangelização que tem esse poder de tocar no mais profundo das almas. O Padre Jonas [fundador da Canção Nova] dizia que ela é como uma lança que fere o coração para que aquele coração acolha a Palavra de Deus, acolha aquilo que Deus quer falar, quer realizar. Muitas vezes, o que uma palavra não consegue atingir o coração de uma pessoa, a música bem executada, consegue”, reflete.

Nesse sentido, Juliana ressalta que a mensagem da música natalina é uma mensagem de fé, esperança, alegria, amor e unidade. “Ela cria expectativas em nosso coração. Ela nos coloca em sintonia com o mistério da salvação, do menino Deus que nasce para nos trazer a paz, para nos trazer a salvação, o Emmanuel, o Deus conosco”, complementa.

A missionária explica ainda que as músicas que compõem a cantata têm justamente essa finalidade: trabalhar o coração que se alegra com o nascimento do Menino Deus.

Oração e caridade

Entre as iniciativas do Advento, a oração da novena é uma das mais populares. Na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Cachoeira Paulista (SP), essa ação de preparação para o Natal já começou. Integrante da Pastoral Familiar, Tatiane Novais da Silva, de 42 anos, está à frente da organização da iniciativa. O amor pela evangelização das famílias, destaca ela, é o que a motiva a se dedicar à vivência da novena.

“Não quero me preparar sozinha para a vinda do Messias, mas ajudar muitas outras famílias a se prepararem também”, conta. Neste ano, Tatiane revela que o enfoque foi dado à Palavra de Deus e a gestos concretos, como a doação de cestas básicas a famílias mais necessitadas. Segundo ela, o viés da caridade ajudou os fiéis a olharem para além do egoísmo e das próprias individualidades.

“A novena de Natal ajuda a tirar o foco das coisas que o mundo oferece nesse tempo, consumismo e capitalismo, para indicar o verdadeiro sentido que é a vinda de Jesus”, acrescenta a integrante da Pastoral Familiar. Conforme explica, a Palavra de Deus também auxilia no processo de conversão dos corações.

Tocando corações

A preparação da casa para receber o Menino Jesus, bem como a alegria e o testemunho de cada família ao final dos encontros da novena, foram momentos destacados por Tatiane como especialmente marcantes. “Esse ano exercitei o que mais pedi para Deus: o dom da paciência e da escuta, olhar o outro com empatia. Em cada casa que fui, as pessoas sentiam a necessidade de partilhar suas dores e dar testemunhos”. Para a integrante da Pastoral Familiar, todas essas vivências a aproximaram ainda mais do verdadeiro sentido do Natal.

Juliana também partilhou estar profundamente feliz com o impacto espiritual que a Cantata provoca no público. “As pessoas fazem questão de vir partilhar, de dividir com os coralistas que a apresentação toca no coração, emociona, traz alegria, esperança, um renovo no coração (…). Saber que o nosso trabalho, de alguma forma, contribui para isso, é muito gratificante e especial”, comenta.

Além da Cantata realizada na Canção Nova, a missionária conta que existe também o projeto “Cantata de Natal na Estrada”. Segundo ela, a iniciativa busca levar a apresentação a paróquias e cidades. Em janeiro, serão disponibilizadas datas para que os interessados possam iniciar as reservas para o final de 2026.

“É emocionante ver como as pessoas reagem. Percebemos que elas rezam, se emocionam e entendem a profundidade na simplicidade de cada personagem, cena e canção”, frisa Victor sobre o presépio vivo. “Já vivemos momentos memoráveis, milagres reais e encontros tocantes. Em cada canto é possível ver a bondade de Deus. Ele se faz mesmo presente na humildade e no serviço, e estarmos juntos em comunidade contemplando este mistério é de encher os olhos e o coração”, recorda.

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