Igreja celebra, nesta sexta-feira, 4, São Francisco – ao que tudo indica, o primeiro santo estigmatizado; “pobrezinho de Assis” inspirou o nome e o pontificado do atual Papa
Laura Lo Monaco
Da Redação
O santo que inspirou o nome do atual Papa é celebrado nesta sexta-feira, 4: São Francisco de Assis. Popular entre os católicos, ao que tudo indica foi o primeiro santo estigmatizado, ou seja, o primeiro a receber em seu corpo as chagas de Jesus. Neste ano, a Ordem dos Franciscanos – fundada pelo santo – celebrou os 800 anos do recebimento dos estigmas.
O franciscano da Basílica de Santo Antônio, em Pádua (Itália), e membro da Ordem dos Frades Menores Conventuais, Frei Giambattista Scalabrin, indica que, em 1224, no Monte La Verna, ao receber os estigmas, São Francisco recebeu o “sinal da caridade da paixão vivida por Cristo”. “Francisco, ‘outro Cristo’, aderiu”, frisa. De acordo com o religioso, este fato sobrenatural aconteceu dois anos antes da morte do santo, enquanto ele fazia uma quaresma em honra a Virgem Maria, Mãe de Deus, e a São Miguel Arcanjo.
São Francisco tinha ciência do valor dos estigmas, tanto que “escreveu louvores com sua própria mão, rendendo graças ao Senhor pelo benefício que lhe foi concedido”, relata Frei Giambattista. O religioso menciona a “Chartula”, relíquia deixada pelo santo, como uma nota preciosa que documenta um emaranhado de acontecimentos dolorosos e luminosos da vida de Francisco – atualmente presente na Capela de São Nicolau, em Assis.
Estigmas
Em artigo publicado em seu site, padre Paulo Ricardo explica que os estigmas podem ser visíveis ou invisíveis, permanentes ou transitórias, aparecerem simultânea ou sucessivamente. Ao longo da história da Igreja, ele afirma que cerca de 300 pessoas receberam os estigmas, dessas, aproximadamente 60 foram canonizadas.
Ainda de acordo com o sacerdote, os estigmas podem ter três causas: origem natural (caráter histérico), origem demoníaca e origem sobrenatural. Um dos sinais de que os estigmas são de origem sobrenatural é que eles, geralmente, são precedidos por sofrimentos agudos, nos quais a pessoa se santifica, num processo de purificação.
Amor de Deus
Muitos católicos podem se questionar sobre o porquê dos estigmas. Frei Giambattista afirma que este acontecimento reflete a caridade da paixão: “O drama de Jesus acontece na cruz, rejeitado e condenado a uma morte infame, mas que nunca deixa de amar e de ser amado pelo Pai”.
Francisco também faz parte disso, explica o religioso: não se sabe realmente o que ele sentiu, mas, no cântico de louvor, relatado na Chartula, ele escreve: “Tu és santo, Senhor único Deus, que faz maravilhas” e continua com um louvor direto.
“É Francisco quem se une a Jesus, o Filho que ama o Pai, na contemplação do Deus vivo e verdadeiro: uma experiência bela, mas também dilacerante, porque o Amor não é amado, e isso dói. Ele era tão ‘amigo de Cristo’ que quis ser completamente semelhante e transformado n’Ele e no Senhor. E Cristo respondeu!”, complementa.
Frei Giambattista ressalta que o misterioso episódio dos estigmas deve levar os fiéis a refletir e se questionar sobre a direção de seus corações, sobre os seus desejos mais profundos, sobre os “estigmas” que desejam “marcar e também ferir a própria carne”. Membro da Ordem dos Frades Menores desde 1995, o religioso ressalta que “o objetivo dos franciscanos é tornarem-se como São Francisco, um ‘alter Christus’, um ‘novo Jesus Cristo’ entre os homens da nossa pobre e estupenda humanidade”.
O Papa e São Francisco
Francisco, o nome inédito escolhido pelo atual Papa, é como um programa de seu pontificado. Em 11 anos, o Santo Padre demonstrou seu interesse latente por questões que circundavam a vida do santo de Assis: ecologia, pobreza evangélica, luta pela paz e impulso na tradição do presépio.
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A “Laudato Si” (Louvado Sejas), publicada em 2015, é um documento de destaque na luta de Francisco pela proteção da “casa comum” e alerta para o futuro do planeta. Já a pobreza evangélica do Pontífice pode ser notada em comportamentos corriqueiros até o seu impulso de ir ao encontro dos mais pobres, esquecidos e marginalizados.
Os incontáveis apelos pela paz e impulsos diplomáticos do Papa – que pediu como presente para os seus 10 anos de pontificado, em 2023, a paz mundial, relembram a oração popular de São Francisco, que tem como um dos trechos: “Onde houver Ódio, que eu leve o Amor. Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão. Onde houver Discórdia, que eu leve a União. Onde houver Dúvida, que eu leve a fé (…)”.
“Admirável sinal” (Admirabile Signum), Carta Apostólica que o Santo Padre dedicou ao presépio, valoriza a origem desta tradição com São Francisco de Assis. A assinatura em 2019, na cidade de Greccio, onde o primeiro presépio foi montado pelo santo, em 1223, arrematam o preciosismo desta prática.
Quem foi São Francisco
Francisco nasceu em 1182 na pequena cidade de Assis, filho de uma rica família da região. Quando jovem, sonhava em ser nobre e, em 1201, se aventurou a lutar como cavaleiro na batalha de Assis contra Perúgia, na região da Úmbria.
Após um período de enfermidade e com dúvidas sobre a vontade de Deus em sua vida, Francisco se retirou em oração na pequena Igreja de São Damião. Neste momento com Deus, ouviu uma voz que vinha do crucifixo de São Damião: “Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”.
Este foi um momento decisivo para o jovem italiano que, recordando as palavras do evangelho “Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim” (Mt 19,29), abraçou definitivamente a pobreza e buscou viver a radicalidade do evangelho dia após dia.
Sua missão evangelizadora, junto com seus irmãos da Ordem Franciscana, foi marcada pela vida de oração, sempre atento ao próximo, cuidando dos doentes, pobres e marginalizados.
A Igreja enxerga Francisco como um santo que se configurou a Cristo pobre e sofredor.