Em carta aberta à Igreja no Brasil, pastoral destacou que as “pessoas presas, muitas vezes esquecidas, são também filhos de Deus”
Da redação, com Vatican News
A Pastoral Carcerária Nacional divulgou uma carta aberta à Igreja no Brasil, denominada “um clamor pelas pessoas presas”. No texto, eles citam a Assembleia Nacional da Pastoral Carcerária, realizada nos dias 15 a 17 de novembro de 2024, que reuniu 31 representantes das Coordenações Estaduais/Regionais de 18 Estados brasileiros.
Segundo a Pastoral, inspirados pelo Documento 100 da CNBB, “Comunidades de Comunidades”, os participantes da Assembleia Nacional sentiram o desejo de reafirmar a urgência do reconhecimento de cada unidade prisional, como uma comunidade de fé e sofrimento – “portanto, parte integrante da responsabilidade pastoral de nossa Igreja”, assinalaram.
“A unidade prisional, invisível a muitos, é o lugar onde habita o Cristo que nos disse: ‘Estive preso, e fostes me visitar’ (Mt 25,36). Como podemos ignorar os gemidos de uma comunidade que clama por libertação, dignidade e esperança? O Documento de Aparecida nos recorda que ‘os pobres e excluídos estão presentes em nossas comunidades como sujeitos ativos de evangelização e libertação’ (DAp, 407). Não podemos nos esquecer de que as pessoas privadas de liberdade, feridas pelo abandono social e pela exclusão, também são parte dessa missão”.
Igreja Sinodal e Jubileu da Esperança
A realidade prisional, lê-se na carta, desafia os católicos a serem “uma Igreja sinodal, comprometida em escutar os clamores amordaçados” dos encarcerados. O silêncio das pessoas presas não é ausência de voz, pontuou a Pastoral Carcerária, mas “a prova mais evidente de uma sociedade eclesial que, muitas vezes, lhes vira as costas”.
A mensagem do Papa Francisco para o Ano Jubilar de 2025 foi citada. O texto recordou que o Pontífice convida a Igreja a reavivar a sua sensibilidade para com os marginalizados, entre os quais se destacam os encarcerados.
“O Jubileu é um tempo de graça, e a libertação espiritual e social daqueles que estão presos deve estar no centro de nossa missão. Precisamos, como clero e leigos, assumir o chamado profético de anunciar a reconciliação, a esperança e a misericórdia de Deus no cárcere”, escreveram os participantes da assembleia.
Compromissos práticos e pastorais
O Jubileu, prosseguiram, interpela os católicos a serem agentes de transformação, assumindo, como Igreja, cinco compromissos práticos e pastorais: reconhecer as unidades prisionais como comunidades de fé; capacitar os párocos e agentes de pastoral para o acompanhamento das pessoas privadas de liberdade; promover ações concretas de ressocialização e acolhimento; denunciar as injustiças e violações dos direitos humanos no sistema prisional; e incluir, nos orçamentos anuais, destinados às atividades pastorais, a missão da Pastoral Carcerária.
“A Igreja não pode continuar adormecida diante da dor das pessoas presas. Devemos despertar para a realidade de que somos corresponsáveis por seu abandono, seja pelo silêncio, pela indiferença ou pela omissão. O Documento de Aparecida é claro: ‘É dever de toda a Igreja acompanhar e defender os direitos das pessoas privadas de liberdade’ (DAp, 429)”, declara a Pastoral.
Filhos de Deus
Por fim, é enfatizado que este é um apelo à consciência e ao coração. Segundo os participantes do evento, as pessoas presas, muitas vezes esquecidas, são também filhos de Deus, marcados pela dignidade que lhes foi dada no batismo. “Não podemos deixar que as grades os separem da nossa missão de acolher, cuidar e amar”.
“Que este Jubileu de 2025, sob a inspiração do Santo Padre, seja para a Igreja do Brasil um tempo de renovação e compromisso com os mais vulneráveis. Não há evangelização plena enquanto ignorarmos o grito de nossos irmãos presos”, lê-se no final da carta.