Celebrando a Instituição da Eucaristia nesta Quinta-Feira Santa, a Igreja também faz memória da instituição do sacerdócio ministerial
Mauriceia Silva
Da Redação
Nesta Quinta-Feira Santa, 6, a Igreja celebra a Instituição da Eucaristia e, consequentemente, a Instituição do Sacerdócio ministerial. É o dia em que se faz memória da Última Ceia dos Apóstolos com o seu Senhor, dia da Primeira Missa. Neste dia, padres do mundo inteiro são convidados a concelebrar a Eucaristia com seus respectivos bispos e a fazer a renovação de seus compromissos sacerdotais a serviço de Cristo e da Igreja.
Mas como “nasce” um padre? Neste dia da instituição do sacerdócio, dois padres contam como se deu o chamado à vocação sacerdotal.
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“Com sete anos eu já falava que queria ser padre”
O missionário da Comunidade Canção Nova, padre Elenildo Pereira, conta que, já na infância, dizia: “Eu quero ser igual a esse homem”, quando o padre chegava para celebrar missa em sua comunidade. “Eu descobri a minha vocação muito cedo, por volta de sete anos de idade eu já falava que queria ser padre. Na verdade eu não tinha muita consciência do que seria esse ser padre.”
Segundo ele, toda vez que o padre ia em sua comunidade era sempre uma alegria. À medida que os anos se passaram, ele foi tomando gosto pela santa missa.
Por volta de 14 anos, no período da adolescência, chegou a namorar. Mesmo tendo sido uma experiência boa, algo inquietava o seu coração, como se não fosse aquilo que Deus quisesse para ele. “Eu olhava o exemplo dos meus pais e achava belíssimo. Os meus pais tiveram 17 filhos. Desses, 14 estão vivos, e eu achava aquilo maravilhoso também: ter esposa, ter filho. Mas algo lá no fundo do coração dizia ‘não é isso que eu quero para você.’ ”
Após o término do namoro, o jovem Elenildo começou a experiência do caminho vocacional. Encantou-se pela vocação sacerdotal, compreendendo bem qual seria o seu chamado.
O medo de deixar tudo
Padre Elenildo recorda que seu discernimento para o sacerdócio se deu num encontro em que o palestrante falava sobre vocação. Quando tocou no aspecto de deixar tudo – casa e família – o palestrante convidava a não ter medo.
“E logo em seguida essa pessoa cantou a música da Adriana: ‘Quem deixa seu pai por mim, sua mãe por mim, me encontrará, me encontrará’. Naquele momento eu tomei consciência de que de fato Deus me chamava para uma vocação tão sublime que era a vocação do sacerdócio.” E então, ele começou a chorar. “Eu até queria corresponder à vocação, mas eu tinha medo de deixar meus treze irmãos, meus pais e o aconchego ali da roça.”
Mas com aquela música e motivado por aquela pregação, deu seu “sim” para seguir Jesus no sacerdócio. “Ali foi algo definitivo como decisão, tanto é que dura até hoje. Eu sou padre e não foi uma decisão qualquer, foi uma decisão muito séria.”
Em seu contexto vocacional, padre Elenildo já possuía bons exemplos de vocação, que são as suas irmãs religiosas. “Tem a minha irmã Luciene, já tem mais de vinte anos que ela está no convento das Preciosinas. E ela sempre foi o meu modelo de correspondência vocacional. Depois veio outra, a irmã Leidiane, e hoje somos três na vida religiosa. É muito bom e saudável essa convivência nossa e a convivência com o restante também da família.”
Ordenado durante a Pandemia
Padre Elenildo recorda que um fato marcante em sua vocação foi ele ter sido ordenado no contexto da pandemia, em 7 de julho de 2020. “Foi muito marcante porque estava tudo fechado, não tinha perspectiva de abrir as coisas. Eu tomei a decisão de mesmo naquele contexto ser ordenado e isso implicou numa coisa: a não presença da minha família. Foi muito duro”.
Segundo ele, esta foi a primeira entrega sacerdotal que ele pôde viver. “Foi uma oferta grandiosa, mas que hoje produz os seus frutos sem dúvida. Hoje tenho dois anos e sete meses de padre. Sou muito feliz, realizado, cumprindo a minha missão. Posso dizer que sou muito feliz por ser padre, e padre Canção Nova.”
“O nome marca a identidade e uma missão”
Observando o seu segundo nome, “Gregório”, o pároco da Paróquia Santa Maria em Baependi (MG), padre Cleiton Gregório Evaristo, ficou pensativo em relação à semelhança do seu nome com o do Papa Gregório.
“No batismo, dizemos que o nome marca a identidade e uma missão, eu sempre gostei que no meu nome tem Gregório e como adolescente no grupo de jovens e na RCC tomei o conhecimento que houve na história da Igreja santo e papa com esse nome. Fiquei alegre com a descoberta e cheguei a pensar: “Padre Gregório”, mas com o tempo, esse pensamento se perdeu quando adolescente.”
Padre Cleiton recorda com alegria como foi dar os primeiros passos para discernir a sua vocação. O jovem Cleiton era bem atuante na liturgia, catequese, missão popular, pastoral social e na RCC.
“Em 2002 fui convidado para fazer missão no Mato Grosso pela Congregação dos Padres Dehonianos. Eram 20 dias de missão e decidi ficar e iniciar os encontros vocacionais. Logo depois comecei os estudos de Filosofia. Morei em Várzea Grande e frequentava a casa de Missão da Canção Nova em Cuiabá. Foi uma experiência que mudou muitas coisas em minha vida.”
O seminarista Cleiton concluiu os estudos de Filosofia após ter retornado para Minas Gerais em 2005. Após ter saído do seminário para um discernimento melhor, o jovem viveu um momento marcante, no qual sentiu novamente o chamado.
“Durante um show do Padre Fábio de Melo em Varginha, no ano de 2010, o padre cantava ‘e eu espero por você e não me canso de esperar, a porta aberta eu vou deixar, se quiser pode voltar’”, conta o sacerdote. “Então solicitei o retorno para os estudos de Teologia e fui recebido pelo reitor do Seminário Maria Mater Eclesiae na cidade Itapecerica da Serra, São Paulo.”
“Coragem, eu venci o Mundo!”
Neste retorno, um fato marcante para o padre Cleiton foi o acolhimento, um ponto fundamental no tempo de seminário. “Interessante que eu não sabia que precisava estar vestido de social para a entrevista com o reitor e fui de calça jeans e tênis. Logo que entrei na sala, pedi perdão pelos trajes e o bispo que ali estava disse: ” queremos ver o seu coração e não suas roupas”.
Padre Cleyton diz que uma referência para o seu sacerdócio é Dom Bosco. “Como dizia Dom Bosco: ‘Dai-me almas e ficai com o resto’! Minha alegria é viver no Amor de Meu Deus e transmitir isso aos homens e mulheres de todos os cantos. Creio que este seja o desafio a que o Papa Francisco tanto nos convida. Há o cansaço, a incompreensão, mas Jesus disse: ‘Coragem, eu venci o Mundo’!”