Testemunho

Padre perde irmãos e pais na pandemia, mas garante: sua fé segue forte

Uma história de superação: em uma semana, padre Gilvan perdeu seus pais e dois irmãos para a Covid-19, mas garante que sua fé permaneceu intacta

Thiago Coutinho
Da redação

Padre Gilvan no aniversário de seu pai / Foto: Arquivo Pessoal

Na Semana Santa, mais precisamente entre 31 de março 4 de abril, padre Gilvan Manuel da Silva, sacerdote que pertence à Congregação da Missão, em Quintino Cunha, em Fortaleza, perdeu seus pais e dois irmãos para a pandemia. Em um intervalo curtíssimo de seis dias.

O mundo de padre Gilvan, de repente, virou de cabeça para baixo. Mas, numa demonstração de fé e resiliência, o padre, em uma postagem numa rede social, disse: “Senhor, tu podes levar tudo de mim, mas, mesmo assim, continuarei te amando”. A repercussão foi tão positiva, que o sacerdote da pequena cidade chamou a atenção da Arquidiocese de Fortaleza, que publicou uma mensagem de apoio.

“Senti que todos estes acontecimentos eram para mim uma prova de fé e amor”, afirma padre Gilvan. “Tive todos os motivos para revoltar-me com Deus, mas continuei sabendo que tudo aquilo não poderia abalar o amor que tenho pelo Senhor, pois escolhi como lema de ordenação sacerdotal a passagem bíblica ‘Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que Te amo’ (Jo 21, 17)”, reforça o religioso.

Tenhamos fé e discernimento

Padre Gilvan tem a fé muito clara em seu coração. Quando questionado a respeito, não titubeia acerca do que o levou adiante: fé e amor. “Um cristão com uma fé fraca e um amor fragilizado por Jesus Cristo, não conseguirá vencer as provações”, pondera.

Mas também entende que é necessário se prevenir com as medidas impostas pela ciência. “Sempre fui muito cauteloso no sentido de não me expor aos perigos do vírus e acatar a obediência das normas sanitárias para evitar sua proliferação, que não é uma mentira, mas uma verdade trágica para a humanidade”, assegura.

Para o padre, ouvir a ciência e guardar a fé são a chave para que esta situação seja enfrentada. “É urgente aproveitar as orientações e estudos da ciência sobre o vírus. Cada pessoa deve fazer sua parte e aplicar as regras de prevenção em tudo o que for possível. Eu tive essa experiência aqui em casa. É doloroso perder nossos entes queridos”, lamenta.

A Páscoa

Este momento de agitação coletiva vivenciado pela humanidade se deu próximo à Páscoa, maior festa da Igreja. O Padre encontrou na força da ressurreição o sentido para este momento de dor e angústia. 

Muitas vezes celebrei algumas missas sozinho, na sala de minha irmã e transmitia aos outros familiares que estavam muito abalados com as internações dos pais e dos irmãos. Só seremos cristãos cristificados se a Páscoa for uma realidade em nós e para nós. A Páscoa não é só uma alegria vivida uma vez por ano, mas é o mistério de Jesus Cristo e o mistério da vida humana”, exaltou.

Confiança em Deus

Os registros de óbitos causados pela pandemia são muito expressivos. E algumas pessoas, por vezes, questionam a existência de Deus. Ou por que Ele permite que tamanha tristeza se abata a tantas pessoas. Para padre Gilvan, no entanto, essas perdas só o encorajaram a fortalecer sua fé.

É muito bom culpar Deus por tudo que acontece na humanidade. Jesus nunca enganou seus discípulos e obviamente a cada um de nós que os caminhos da humanidade não seriam fáceis”, observa o pároco. “A fé é um abandono nas mãos de Deus. Não devemos questionar Deus, mas dizer com a mais pura convicção Senhor tu sabes que eu te amo. Quem não ama, não está preparado para sofrer. A nossa vida é um evangelho vivo, por isso no final de tudo diremos: Palavra da Salvação”, finaliza.

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