Nesta terça-feira, 5, Igreja celebra São Zacarias e Santa Isabel – casal que enfrentou a infertilidade; missionária dá testemunho da chegada dos filhos após anos sem conseguir engravidar
Fernanda Lima
Da Redação
A Igreja celebra nesta terça-feira, 5, o dia de São Zacarias e Santa Isabel. Os pais de São João Batista são narrados pelo Evangelista Lucas como um casal que confiou inteiramente em Deus diante de um tempo de sofrimento: a demora na concepção de um filho, por conta da idade avançada. A esterilidade era um verdadeiro sofrimento para os casais que viviam naquela época.
O assessor da Comissão Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Rodolfo Chagas Pinho, destaca São Zacarias e Santa Isabel como um casal que manteve sua esperança em Deus. “Eles nos ensinam que não podemos perder a esperança, porque nada é impossível para Deus. Estes dois grandes santos nos ensinam que um coração que realmente ama, experimenta o poder do Senhor que não é baseado em projetos pessoais, mas na vontade Dele”, enfatiza.
O sacerdote comenta que a Igreja apoia os recursos da medicina para os casais que vivem a infertilidade, contanto que não firam a dignidade humana. “O desejo de construir uma família é intrínseco no ser humano e, por isso, os casais que encontram essa dificuldade sofrem muito. A Igreja é mãe e também é favorável aos recursos da medicina. A fé e a razão precisam caminhar juntas. Porém, ela não apoia os recursos que ferem a dignidade humana. A Igreja desconsidera a forma em que a vida é tratada apenas como algo que pode ser descartado”, pontua.
Segundo o presbítero, o embrião tem seu próprio futuro e não deve ser tratado como um objeto. “Ele tem sua própria potencialidade e não deve ser visto como uma coisa”, salienta. Padre Rodolfo reforça que o matrimônio não deixa de ser fecundo por causa da esterilidade. “A fecundidade do matrimônio está no amor-doação. Quando o casal se une, decidem doar-se um ao outro. Os casais nunca devem perder a esperança”.
Infertilidade
De acordo com o relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2023, muitas pessoas são afetadas pela infertilidade ao longo de suas vidas. Cerca de 17,5% da população adulta – 1 em cada 6 em todo o mundo. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) afirma que é grande o sofrimento de casais que descobrem que são estéreis, mas nem por isso, eles devem ser infelizes. “Os esposos, a quem Deus não concedeu ter filhos, podem, no entanto, ter uma vida cheia de sentido, humana e cristã. Seu matrimônio pode irradiar uma fecundidade de caridade, acolhimento e sacrifício” (cf CIC n° 1654).
Kathia Teodoro é missionária da Comunidade Canção Nova e conta como precisou lidar com uma espera de seis anos antes de engravidar do seu primeiro filho. “Sempre pensamos em ter filhos e até brincávamos sobre os nomes. Tinha que ter ‘Th’ como Kathia e Thiago. Só não imaginávamos que teríamos que esperar seis anos enquanto estávamos semeando entre lágrimas os filhos que tanto sonhávamos”, expressa.
A missionária sublinha que nesse período precisou contar com ajuda espiritual e médica. “Após anos de exames e sem diagnóstico, resolvemos parar e viver nosso matrimônio da melhor forma. Lancei-me na fé. Um dia, em um ato profético, cheguei em casa, fui em um dos quartos e disse: ‘Aqui será o quarto do meu filho’. Meu esposo achou engraçado, mas eu fiquei firme em minha convicção. O tempo passou e, no dia do meu aniversário, em 24 de junho, desejei ardentemente aquele bebê. Fiz o teste de gravidez no dia 26, dia de São Josemaria Escrivá, e pela primeira vez contemplei um teste positivo”, relata.
Uma dor transformada
Para Kathia, o longo tempo de espera para sua primeira gestação foi necessário na vida do casal. “Deus nos deu esse tempo para que pudéssemos crescer no amor e no companheirismo. Mesmo se não conseguíssemos ter filhos , precisávamos viver bem nosso matrimônio”.
A missionária salienta que por muito tempo ela e o esposo se sentiram excluídos pelo fato de não terem filhos. “Muitos nos olhavam com olhar de pena. Era difícil ver minhas amigas engravidando e eu não. No fundo, eu carregava uma inveja porque alguns tinham tantos e eu nenhum. É um sentimento doloroso sentir falta de alguém que não existe”, destaca.
Após nove meses do nascimento do filho primogênito Mathias, o casal engravidou novamente. Dessa vez, da Catharina, que atualmente tem dois meses de nascida. “A infertilidade não pode ser a última resposta na vida de um casal. Precisamos lutar para que nosso matrimônio não seja estéril e isso vai além de ter filhos. O casal precisa primeiramente fazer florescer os dons do matrimônio e ser feliz no momento presente”.
Kathia afirma que o casal não deve começar a ser feliz apenas quando chegarem os filhos. “É preciso ser fecundo hoje. Ser feliz hoje. Acreditar naquilo que os olhos não veem, mas que dentro do coração já podemos contemplar o milagre de Deus”, concluiu.