“Chegou a hora de pastores e leigos caminharem juntos em cada âmbito da vida da Igreja, em todas as partes do mundo”, disse o Papa em audiência no Vaticano na manhã deste sábado, 18
Da redação, com Vatican News
Os leigos não são “hóspedes” na Igreja, mas estão em sua casa: foi o que disse o Papa ao receber em audiência este sábado, 18, os participantes do Congresso dos presidentes e referentes das Comissões para o Laicato das Conferências Episcopais. O Congresso é uma iniciativa do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, com a finalidade de refletir sobre a corresponsabilidade de pastores e fiéis a caminharem juntos na Igreja.
Em seu discurso, o Papa se deteve sobre a dimensão “sinodal” desta caminhada, pedindo a superação de modos de agir autônomos, já que a sinodalidade encontra sua fonte e fim último na missão: “pastores e fiéis leigos juntos. Não indivíduos isolados, mas um povo que evangeliza”.
“Esta é a intuição que devemos ter sempre: a Igreja é o santo povo de Deus. Na Lumen gentium 8, 12 isto é, não é populismo nem elitismo. Não. É o santo povo fiel de Deus. E isto não se aprende teoricamente, se entende vivendo.”
O sonho de uma Igreja missionária
Francisco resgatou sua Exortação apostólica Evangelii gaudium, onde expressa o sonho de uma Igreja missionária, mas para isso a Igreja precisa ser sinodal.
“Sonho uma Igreja missionária. E me vem à mente uma figura do Apocalipse, quando Jesus diz: ‘Estou à porta e bato’. É verdade, era para entrar: ‘Se alguém me abrir, entrarei e comerei com eel’. Mas hoje o drama da Igreja é que Jesus continua a bater à porta, mas a partir de dentro, para que o deixem sair! Muitas vezes a Igreja acaba prisioneira que não deixa o Senhor sair, o tem como propriedade, e o Senhor veio para a missão e nos quer missionários.”
Papa o Pontífice, este horizonte oferece a justa chave de leitura para o tema da corresponsabilidade, da valorização dos leigos. Isto não depende de uma alguma novidade teológica nem se trata de “reivindicações de categoria, mas se baseia numa correta visão da Igreja como Povo de Deus, dos quais os leigos fazem plenamente parte com os ministros ordenados. “Eles não são donos, são os servidores”.
Francisco afirmou que é preciso recuperar uma “eclesiologia integral”, onde deve ser acentuada a unidade, não a separação. O leigo não é um “não clérigo” ou um “não religioso”, mas batizado como membro do Povo santo de Deus. No Novo Testamento, afirma o Papa, não aparece a palavra leigo, mas se fala de fiéis, discípulos, irmãos – termos aplicados a todos: leigos e ministros ordenados. Portanto, o único elemento fundamental é a pertença a Cristo. Os mártires, por exemplo, não se declaram bispo ou leigos, mas cristãos.
“Também hoje, num mundo que se seculariza sempre mais, o que realmente nos distingue como Povo de Deus é a fé em Cristo, não o estado de vida. Somos batizados cristãos, discípulos de Cristo. Todo o resto é secundário.” Sacerdote, bispo ou cardeal que seja.
Leigos não são “hóspedes” em sua própria casa
Certamente os leigos são chamados a viver sua missão em ambientes seculares, mas isso não exclui que tenham capacidades, competências para contribuir para a vida da Igreja.
Neste processo, a formação dos leigos é indispensável para viver a corresponsabilidade. Formação não só acadêmica, mas prática, pois o apostolado laical é sobretudo testemunho. “Também neste ponto gostaria de destacar que a formação deve ser orientada para a missão, não só para as teorias, porque isso acaba nas ideologias. É terrível, é uma peste: a ideologia na Igreja é uma peste.” Por sua vez, os pastores também devem ser formados, desde o seminário, a uma colaboração cotidiana e ordinária com os leigos.
Esta corresponsabilidade permitirá superar dicotomias, medos e desconfianças recíprocas.
“Chegou a hora de pastores e leigos caminharem juntos em cada âmbito da vida da Igreja, em todas as partes do mundo. Os fiéis leigos não são ‘hóspedes’ na Igreja, estão em sua casa, por isso são chamados a cuidar da própria casa.”
Francisco pediu uma maior valorização dos leigos, sobretudo das mulheres, na vida das paróquias e dioceses. E oferece exemplos de colaboração com os sacerdotes: na formação de crianças e jovens, na preparação ao matrimônio, no acompanhamento da vida familiar, na organização de iniciativas, trabalhando nos escritórios das dioceses e contribuindo inclusive na formação de seminaristas e religiosos, recordando que um leigo também pode ser diretor espiritual.
Clericalismo, uma peste na Igreja
“Poderemos dizer: leigos e pastores juntos na Igreja, leigos e pastores juntos no mundo”, concluiu o Papa, citando o livro Meditations sur l’Eglise, em que o cardeal De Lubac alerta para o clericalismo.
“O clericalismo deve ser expulso. Um sacerdote, um bispo que cai nesta atitude faz muito mal à Igreja. Mas é uma doença contagiante e pior que um padre ou bispo clerical são os leigos clericalizados: por favor, são uma peste na Igreja. Leigo é leigo.”
Francisco finalizou seu discurso recomendando que todos tenham no coração e na mente esta bela visão da Igreja: “Uma Igreja propensa à missão e onde de unificam as forças e se caminha juntos para evangelizar”.