Frei Rogério Lima recordou o mais recente Relatório sobre Liberdade Religiosa da ACN, que aponta o agravamento das violações à liberdade religiosa no mundo
Julia Beck
Da Redação

Foto: ACN
Celebrado nesta sexta-feira, 26, Santo Estêvão é reconhecido pela Igreja como o primeiro mártir cristão, morto por anunciar o Evangelho e testemunhar publicamente sua fé em Jesus Cristo. Seu martírio, narrado nos Atos dos Apóstolos, não se restringe ao passado: mais de dois mil anos depois, milhares de cristãos ainda enfrentam perseguições, violência e até a morte por causa da fé. Essa realidade é confirmada pelo mais recente Relatório sobre Liberdade Religiosa da Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) – publicado em outubro passado, que aponta o agravamento das violações à liberdade religiosa em diversas regiões do mundo.

Assistente eclesiástico da ACN Brasil, frei Rogério Severino /Foto: ACN
Segundo o assistente eclesiástico da ACN Brasil, Frei Rogério Lima, chama a atenção a dimensão global e alarmante da crise da liberdade religiosa. O relatório mostra que quase dois terços da humanidade — mais de 5,4 bilhões de pessoas — vivem em países onde esse direito é gravemente violado.
“Milhões de cristãos — e fiéis de outras confissões — enfrentam intolerância, discriminação e perseguição simplesmente por professarem sua fé ou viverem sua consciência religiosa. São 62 países com sérias violações desse direito humano fundamental, e em muitos deles a situação se agravou nos últimos anos”, afirma o religioso.
Para Frei Rogério, os dados revelam uma contradição dolorosa: a fé, chamada a ser caminho de alegria e esperança, em muitos lugares se torna motivo de sofrimento, opressão e privação de direitos. “Essa realidade desafia nossa responsabilidade como Igreja: testemunhar a fé não apenas em palavras, mas com solidariedade concreta para com nossos irmãos perseguidos”, sublinha.
Martírio
Na análise do relatório da ACN, o assistente eclesiástico destaca que o martírio contemporâneo nem sempre é físico, podendo assumir formas sistemáticas e “silenciosas”. Um exemplo é a intolerância e a discriminação legal, que impõem restrições ao culto, à expressão pública da fé e à igualdade jurídica.
Outra forma de martírio é a exclusão social, quando leis ou práticas discriminatórias dificultam o acesso a emprego, educação, propriedade ou assistência básica, ferindo a dignidade humana. Somam-se a isso as pressões culturais e políticas, em contextos marcados por governos autoritários, nacionalismos étnico-religiosos ou interpretações legais restritivas, que passam a enxergar a fé cristã como uma ameaça.
Exemplo para os católicos
Ao refletir sobre o testemunho de Santo Estêvão, Frei Rogério Lima destaca virtudes que continuam a inspirar os cristãos, especialmente os perseguidos por causa da fé. A primeira é a coragem e fidelidade, mantidas mesmo diante dos sofrimentos e desafios.
O religioso também ressalta o perdão radical concedido a Saulo — que, após a conversão, tornou-se Paulo, um dos pilares da Igreja. Para ele, o perdão é essencial em um mundo marcado pela linguagem do ódio e da mentira.
Outro destaque é o testemunho de vida e morte do mártir. “Estêvão transformou o sofrimento em uma oportunidade para testemunhar Cristo. O martírio dele demonstra que a fé cristã vale a pena ser defendida com a própria vida, e que o ‘sangue dos mártires é semente de novos cristãos’”, afirma.
Também se sobressaem o serviço e a caridade. Estêvão viveu com profundidade o diaconato, sendo um dos primeiros sete diáconos da Igreja, escolhido para servir os necessitados. “Isso lembra aos cristãos que a fé viva se manifesta em ações concretas de amor ao próximo”.
Por fim, Frei Rogério destaca o amor pelo anúncio da Palavra. Fiel às Escrituras, Santo Estêvão inspira os cristãos a aprofundarem o conhecimento bíblico e a anunciarem a fé com clareza.
Rejeitar a indiferença
Segundo Frei Rogério, o testemunho de firmeza dos cristãos perseguidos, a exemplo de Santo Estêvão, atua como uma força de renovação espiritual e unidade na Igreja atual. Um dos sinais desse impacto é o reconhecimento dos novos mártires. O religioso afirma que esse testemunho fortalece a fé e a esperança na evangelização, especialmente em regiões marcadas por perseguição, e desperta uma maior solidariedade.
A busca pela unidade e pelo ecumenismo de sangue foi incentivada, além do diálogo com outras religiões. Para o assessor eclesiástico da ACN, o sofrimento compartilhado une cristãos de diferentes denominações no testemunho comum de Cristo. Deste modo, o pedido de Frei Rogério é que os fiéis não sejam indiferentes, mas vivam uma espiritualidade concreta de solidariedade, sustentada pela informação, oração e ação.
A oração constante fortalece aqueles que sofrem por seguir Jesus, enquanto a informação ajuda a sensibilizar a sociedade para a gravidade das violações à liberdade religiosa. “A oração nos leva à ação concreta, como faz a ACN graças aos seus benfeitores, que ajudam os cristãos que mais sofrem em todo o mundo”, conclui.




