CONTRA ÀS DROGAS

Não naturalizemos liberação das drogas, afirma Celam em mensagem

Presidência do Conselho Episcopal Latino Americano e Caribenho publicou nota por ocasião do Dia Internacional contra os Abusos e o Tráfico Ilícito de Drogas

Da Redação, com CNBB

Sede do Celam / Foto: Celam

A presidência do Conselho Episcopal Latino Americano e Caribenho (Celam) divulgou uma mensagem por ocasião do Dia Internacional contra os Abusos e o Tráfico Ilícito de Drogas, celebrado nesta quarta-feira, 26. A data foi instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1987.

No texto, os bispos pedem para que o povo do continente não naturalize a situação gerada pelas drogas nas vidas das pessoas e na sociedade. Para a presidência do Celam, “não podemos deixar que nossos corações se encham de medo ou que entorpeçam nossa capacidade de reconhecer que o presente e o futuro da sociedade estão em jogo”.

Os bispos lamentam que, enquanto o problema cresce, ganham destaque as propostas que buscam legalizar a produção, o consumo e a distribuição de drogas como resolução para esse desafio.

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Por outro lado, encorajam a Igreja e os povos da América Latina e do Caribe a não se resignarem e continuarem a se organizar para cuidar da vida, pois estão convencidos de que toda a vida humana é sagrada e que cuidar da vida é o caminho alternativo ao domínio do dinheiro.

Confira o texto na íntegra:

Mensagem por ocasião do Dia Internacional contra os Abusos e Tráfico Ilícito de Drogas

O dia 26 de junho marca o Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas. Neste dia, queremos expressar mais uma vez a nossa mais profunda preocupação, fazendo eco das preocupações expressas pelos bispos da América Latina e do Caribe com base na realidade que vivemos nos nossos países.

Em 2007, dissemos no documento final da V Conferência em Aparecida: “O problema das drogas é como uma mancha de óleo que invade tudo. Não reconhece fronteiras, nem geográficas, nem humanas. Ataca igualmente países ricos e pobres, crianças, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres. A Igreja não pode ficar indiferente a este flagelo que destrói a humanidade, especialmente as novas gerações” (Documento de Aparecida, 422).

Hoje ratificamos a nossa avaliação desse tempo e até apontamos que a situação se agravou.

O narcotráfico demonstrou em muitos países da região sua capacidade de se infiltrar e corromper os poderes do Estado, da polícia, das forças armadas, da mídia, das empresas, enfim, de todas as instituições da democracia. Foi capaz de encontrar cumplicidade nos sistemas financeiros, fugindo de controles e fiscalizações, e até mesmo encontrando esconderijos, como o financiamento descentralizado de criptomoedas.

Em seu rastro, consagrou territórios inteiros para sua própria produção, organizou seus próprios exércitos, gangues e sistemas violentos para o controle de territórios. Milhões de jovens fecharam suas vidas no uso de substâncias, e famílias inteiras foram arruinadas.

O tráfico de drogas é a dissolução dos Estados, a substituição do Estado de Direito pelo estabelecimento de outra lei, a dos mais fortes. É um sinal do colapso da civilização ocidental. Como não expressar nossa preocupação neste dia?

Trazemos as palavras do Papa Francisco em Santa Cruz de la Sierra: E por trás de tanta dor, tanta morte e destruição, pode-se sentir o cheiro do que Basílio de Cesareia – um dos primeiros teólogos da Igreja – chamou de “esterco do diabo”, a ambição desenfreada pelo dinheiro que governa. Esse é “o esterco do diabo”. Assim, na base do problema das drogas há uma cultura que negligencia a vida porque ela é construída sobre o desejo de lucro.

Infelizmente, ao mesmo tempo em que o problema cresce, ganham voz as propostas derrotistas que apontam que é inútil lutar, que legalizar a produção, o consumo e a distribuição de drogas resolveria isso. Para além do facto de poder ou não ser conveniente alterar o estatuto jurídico do negócio da droga, não acreditamos que isso possa transformar a raiz de um problema que é mais profundo, e que tem a ver com a ambição desenfreada de dinheiro que nos governa, como assinalou o Papa.

Não naturalizemos a situação, não deixemos que nossos corações se encham de medo ou entorpeçam nossa capacidade de reconhecer que o presente e o futuro da sociedade estão em jogo.

Por isso, encorajamos a Igreja e os povos da América Latina e do Caribe a não se resignarem e a continuarem a se organizar para cuidar da vida. Estamos convencidos de que toda a vida humana é sagrada e que cuidar da vida é o caminho alternativo ao domínio do dinheiro. Em cada lugar onde os que sofrem são abraçados, onde se geram condições para o desenvolvimento humano integral, onde caminhamos no ritmo dos mais lentos, onde a mesa é ampliada para que todos possam comer, a esperança está nascendo.

A partir do Celam, há dois anos, decidimos lançar a Pastoral Latino-Americana para o Acompanhamento e Prevenção de Vícios, para nos colocarmos mais uma vez a serviço da vida e reunirmos todos os espaços que na região se organizam para cuidar dela.

Elevamos nossa oração ao Senhor pelas vítimas do narcotráfico e pedimos a Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América, que abençoe a vida de nossos povos e nos encoraje a encontrar caminhos de paz que nos levem à Vida plena.

Presidência do Conselho Episcopal Latino-Americano
26 de junho de 2024

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