Assembleia Geral

Na ONU, cardeal frisa a necessidade da paz e do fim das armas nucleares

Secretário de Estado do Vaticano discursou no Summit of the Future, durante a 79ª Sessão da Assembleia Geral da ONU: “uma Cúpula de esperança em um contexto de crise de multilateralismo”

Da redação, com Vatican News

O secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, fez seu pronunciamento na 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas de Nova York, nesta segunda-feira, 23. Em seu discurso, o purpurado fez amplas referências à realidade atual, com as suas dilacerações, as suas oportunidades, bem como aos seus riscos. O secretário de Estado do Vaticano, que estará nos EUA até a próxima segunda-feira, 30, participará da Semana de Alto Nível 2024, junto com chefes de Estado e de governo reunidos na sede das Nações Unidas em Nova York e também celebrará a Missa pelos 60 anos da Santa Sé na ONU. 

Cardeal Parolin frisou a paz, aquela que somente o diálogo pode construir. Depois, a eliminação da pobreza, a promoção do desenvolvimento humano integral, a igualdade e a dignidade soberana das nações, a eliminação total das armas nucleares e o cancelamento da dívida. E ainda, os perigos e oportunidades da Inteligência Artificial, o “sonho” de trabalhar juntos pela justiça e pela paz que parece já “ultrapassado” e “utópico”. Por fim, a rejeição do aborto, algumas reservas e esclarecimentos sobre “direitos reprodutivos”, gênero e identidade sexual.

Crise do multilateralismo

Segundo o Secretário de Estado do Vaticano, o atual contexto global parece ter colocado o sistema multilateral em grave crise. Prova disso é a “erosão da confiança entre as nações”, como evidenciado pela crescente intensidade dos conflitos.

“Essa Cúpula deveria ser fonte e motivo de esperança”, afirmou Parolin, citando o Papa. Depois, dirige seu olhar para o futuro, que, afirma, deve ser construído com base em princípios como “a intrínseca dignidade divina de cada indivíduo”, “a promoção do desenvolvimento humano integral”, “a igualdade e a dignidade soberana de todas as nações e o estabelecimento de confiança entre elas”.

A estes princípios devem corresponder ações em diversas áreas. Em primeiro lugar, ele ressaltou “a eliminação da pobreza”, objetivo que deveria ser prioritário porque “o desenvolvimento é o nome da paz”. “Um futuro pacífico e próspero requer vontade política para utilizar todos os meios possíveis para alcançar o desenvolvimento sustentável.” Isto inclui “a reforma das instituições financeiras internacionais, a reestruturação da dívida e a implementação de estratégias de cancelamento da dívida”.

Em segundo lugar, a busca da paz: um objetivo que, sublinhou o secretário de Estado, “requer a implementação de um desarmamento geral e, em particular, a eliminação total das armas nucleares”. Ou seja, é necessário “deixar de lado as restritas considerações geopolíticas e resistir aos fortes lobbies econômicos para defender a dignidade humana e garantir um futuro em que todos os seres humanos possam desfrutar de um desenvolvimento integral, quer como indivíduos, quer como comunidades”.

Riscos e oportunidades da IA

É também necessária uma ação para a Inteligência Artificial (IA), último passo da “vasta expansão das atividades industriais e das maravilhosas descobertas da ciência”. Esta tecnologia, no entanto, deve ser “urgentemente regulamentada”, defendeu o cardeal.

A Santa Sé “deseja um quadro regulamentar para a ética da IA” que aborde, entre outras coisas, “a proteção de dados, a responsabilidade, os preconceitos e o impacto da IA ​​no emprego”.

Acima de tudo, acrescentou Parolin referindo-se às jovens gerações, é um imperativo garantir a todos  um futuro digno, assegurando as condições necessárias – entre as quais um ambiente familiar acolhedor – para facilitar a prosperidade, enfrentando ao mesmo tempo a miríade de desafios que a dificultam, entre os quais aqueles resultantes da pobreza, conflitos, exploração e dependência.

Direitos reprodutivos, aborto, gênero

No final do discurso, o cardeal centrou-se no Pacto para o Futuro da ONU, do qual, afirmou, a Santa Sé reconhece embora expressando “reservas” sobre alguns conceitos utilizados. Em primeiro lugar, os termos “saúde sexual e reprodutiva” e “direitos reprodutivos”:

“A Santa Sé considera que estes termos se aplicam a um conceito holístico de saúde, que abrange, cada um a seu modo, a pessoa na totalidade da sua personalidade, da sua mente e de seu corpo, e que favorecem a conquista da maturidade pessoal na sexualidade e no amor recíproco e no processo de tomada de decisões que caracterizam a relação conjugal entre um homem e uma mulher de acordo com as normas morais”.

Ele prosseguiu frisando que a Santa Sé não considera o aborto ou o acesso ao aborto ou aos abortivos como uma dimensão destes termos. Quanto ao “gênero”, a Santa Sé sempre entende o termo “como baseado na identidade sexual biológica que é masculina ou feminina”.

Apelo ao diálogo

Neste sentido, um chamado ao desenvolvimento humano integral, do qual a dignidade é o fundamento e o diálogo o meio necessário. “Hoje, o sentido de pertença a uma única família humana está se desvanecendo e o sonho de trabalhar juntos pela justiça e pela paz parece ultrapassado e utópico”. “Não é necessário que seja assim, se houver a vontade de empenhar-se em um diálogo autêntico”, concluiu.

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