VOCAÇÕES CANÇÃO NOVA

Missionários contam como é viver sacerdócio e diaconato na Canção Nova

Padre e seminarista revelam como é o discernimento a partir do carisma da comunidade; diácono permanente recorda apoio de Monsenhor Jonas Abib em sua vocação

Julia Beck
Da redação

Seminarista Rafael Vitto, padre Márcio Prado e diácono Waldir Rodrigues/Fotos: Arquivo pessoal/ Arquivo Canção Nova/ Arquivo pessoal

Ser um leigo consagrado de um determinado carisma é a vocação de muitos que se sentem chamados a uma vida em comunidade, congregação ou fraternidade religiosa. No entanto, ela pode não parar por aí. Muitos destes, além de se identificarem com o carisma, também aspiram ao sacerdócio. É o caso do seminarista e missionário da Comunidade Canção Nova, Rafael Vitto, de 30 anos. O jovem, que já é consagrado há 10 anos, recorda como foi seu processo de discernimento.

Primeiramente, Vitto revela que o foco era a comunidade religiosa. “Nós não temos primeiro foco no sacerdócio (…). Então, por isso fazemos, no mínimo, no início, dois anos de caminho vocacional – geralmente na casa de admissão mais próxima de onde moramos”.

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Depois desses dois anos de acompanhamento vocacional, aí então existem as etapas de formação inicial. São elas: o pré-discipulado, que acontece na casa da Canção Nova em Lavrinhas (SP), e, logo depois, na casa da comunidade em Queluz (SP).  

“Na Canção Nova, nós primeiro avaliamos o carisma, vemos se a pessoa tem o carisma e, depois, as questões do estado de vida – casamento, sacerdócio, celibato. Isso vem em segundo plano”, conta.

O também missionário da Canção Nova, padre Márcio Prado, frisa que, nesta primeira fase, apesar de o foco ser o carisma, nada impede a pessoa de se expressar quanto ao desejo do sacerdócio dentro da comunidade.

Seminário

Ao escolher chegar ao sacerdócio, Vitto comenta que o missionário é direcionado ao seminário e passa a realizar uma formação específica. “Nós fazemos três anos de filosofia, um ano de missão pastoral e quatro anos de teologia. A formação difere dos demais missionários, porque o seminarista tem a questão do estudo da faculdade pela manhã e, à tarde, muitos também assumem um setor de trabalho (algo normal para qualquer missionário). A noite a programação é diferente”.

Toda noite, os seminaristas têm formação ou oração comunitária. Eles também passam pela formação própria da comunidade, que é para todos os missionários. Nos períodos noturnos, Vitto sublinha que também há momentos de adoração comunitária carismática.

“A própria vida dentro do seminário se torna um pouco diferente. A gente divide quarto com o irmão seminarista e temos uma vida comunitária muito intensa. (…) Então a pessoa precisa ter um ritmo, precisa ter um movimento de acompanhar ali aquela didática da formação, que é a didática do cotidiano, do ordinário, mas muito intenso na vida comunitária”, partilha. Ele define então três pontos cruciais: vida de oração – carismática, a vida comunitária e as missões – o trabalho pastoral.

Sacerdócio

Padre Márcio pontua que o sacerdote, dentro da comunidade Canção Nova, exerce a sua missionariedade de maneira especial. “Como ele é chamado a viver em comunidade, ele vive o sacerdócio também dentro dessa espiritualidade da Canção Nova (…). Então é preciso ter isso sempre em mente, ter isso sempre no coração”.

O fundador da comunidade, Monsenhor Jonas Abib (falecido em 12 de dezembro de 2022), foi sacerdote e exerceu seu ministério dentro da Canção Nova. “Evidentemente, ele é um modelo para nós”, afirma. Padre Márcio lembra que o fundador foi o primeiro padre da comunidade.

Segundo o sacerdote, o jeito de Monsenhor Jonas celebrar, pregar e ministrar os sacramentos ainda influencia os presbíteros da Canção Nova – seja pela convivência que tiveram com ele ou pela admiração que nutriram pelo mesmo. “Temos um pouco do Padre Jonas, (…) ele é um exemplo para nós”.

O seminarista Rafael Vitto ressalta que o monsenhor impactou diretamente na sua vida e no seu chamado. “Ele, com o carisma Canção Nova, inovou uma espiritualidade, trouxe o modo novo de existência para o sacerdócio. Então isso impacta diretamente na minha vida e na minha vocação, porque se não fosse esse modo, talvez eu não seria padre”, explica.

Monsenhor Jonas Abib faleceu aos 85 anos / Foto: Arquivo Canção Nova

Discernimento diaconal

Atualmente, a comunidade conta com dois diáconos permanentes: Waldir Rodrigues e Nelsinho Corrêa. É importante ressaltar que existem dois tipos de diáconos, ainda que o ministério e a missão sejam exatamente os mesmos. O diácono transitório é aquele que recebe o sacramento da ordem no grau do diaconato para, depois, receber o segundo grau e tornar-se padre (presbítero). O diácono permanente, que pode ser casado ou não, não ascende aos outros graus do sacramento da ordem (não podem fazer a consagração do pão e do vinho, não absolvem os pecados nem administram a unção dos enfermos).

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, cabe aos diáconos, entre outros serviços, assistir o Bispo e os padres na celebração dos divinos mistérios, sobretudo a Eucaristia; distribuir a Comunhão; assistir ao matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir os funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade” (Catecismo da Igreja Católica, 1570).

Waldir, ordenado em 29 de setembro de 2007, frisa que seu processo de discernimento se deu em duas etapas. Primeiramente, já com alguns anos de casado, a partir de uma inquietação, um chamado “a algo a mais”.

“Senti, no coração, que deveria procurar o fundador, Padre Jonas Abib”, lembra. O mesmo afirmou ter visto em Waldir sinais desta vocação, mas o aconselhou a esperar que Deus desse os sinais. Mais tarde, o consagrado e a esposa foram enviados para serem missionários na França, em Toulon. Durante este período, ele conta que acompanhou o bispo que o ordenou, Dom Dominique Rey, em uma visita pastoral.

O missionário revela que aproveitou a ocasião para perguntar sobre o processo a ser seguido para ser ordenado diácono permanente. Dom Dominique explicou tudo e, a partir dali, o encaminhou para uma formação. “O bispo viu que era necessário fazer uma avaliação curricular e fazer os complementos necessários para uma possível ordenação”.

Após conversa com o Conselho Geral da Comunidade Canção Nova e, depois de alguns retornos, o missionário recebeu a autorização para o início de seu caminho formativo em vista de uma ordenação ao diaconato permanente.

Missão e diaconato permanente

A ordem do diaconato, segundo o Catecismo da Igreja Católica (n. 1554), destina-se a ajudar e a servir os bispos e presbíteros. Por isso, o termo “sacerdote” designa os bispos e presbíteros, mas não os diáconos. No entanto, a doutrina católica estabelece que o grau de diaconato é um grau de serviço, estabelecido desde a época dos apóstolos, como testemunham os Atos dos Apóstolos e a Carta de São Paulo a Timóteo.

A vivência de diácono Waldir dentro da comunidade difere em alguns pontos dos outros missionários. Além de toda a atividade missionária coletiva que todos têm, ele também é chamado a realizar serviços específicos nas Santas Missas, administração dos sacramentos e outros voltados para a caridade. Atualmente, o missionário também é membro do Conselho Geral da comunidade. Em resumo, ele explica que está a serviço da Igreja e da comunidade em prol da evangelização.

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