Lucas é o único brasileiro junto a outros 19 jovens que vão ajudar a fortalecer o setor juvenil do órgão vaticano dedicado aos Leigos, Vida e Família
Jéssica Marçal
Da Redação
Foi com surpresa que o jovem Lucas Ricardo Marçal Ramos, membro da Fazenda da Esperança, recebeu sua nomeação para o Conselho Consultivo Internacional da Juventude, do órgão vaticano para os Leigos, a Família e a Vida. Ele é o único integrante brasileiro em meio a outros 19 jovens de diferentes lugares do mundo.
A criação do Conselho Consultivo foi anunciada no último domingo, 24. Trata-se de uma resposta ao pedido feito no Documento Final do Sínodo sobre os Jovens, realizado em 2018. A ideia é ter um órgão para fortalecer a atividade do departamento dedicado à juventude dentro do dicastério.
Lucas foi surpreendido com a notícia enquanto trabalhava e viu que chegou em seu e-mail a carta de nomeação. Automaticamente procurou seus responsáveis na Fazenda e a primeira reação depois disso foi a oração.
“Eu fui até a capela aqui da nossa casa e pedi para que Deus pudesse nos ajudar agora a viver essa missão. Tenho muita consciência de que por trás do Lucas estão representados todos os nossos jovens, não só os da Fazenda da Esperança, mas os de outras pastorais, movimentos, comunidades e associações. Ao mesmo tempo que foi uma surpresa, quero, junto, assumir essa missão para uma oportunidade dos jovens expressarem sua voz”.
O trabalho do Conselho
A primeira reunião do grupo de 20 jovens será em abril de 2020. Lucas diz que o Conselho ainda está sendo organizado e, nessa reunião, será discutido e articulado o modo de trabalho e como cada um – com sua cultura, idioma e espiritualidade – poderá contribuir com o dicastério e com as linhas de trabalho da juventude.
Mas antes de mais nada, o jovem destaca uma fala do Papa Francisco por ocasião do Fórum Internacional da Juventude realizado em junho desse ano para analisar como estava sendo colocada em prática a “Christus vivit”, exortação pós-sinodal do Papa Francisco aos jovens. “Ele [o Papa] disse que se o jovem não é protagonista da Igreja, o jovem não é nada. Eu vejo que aí é um sentimento muito pessoal do próprio Papa de dar essa voz, essa imagem sobre a juventude para a Igreja”.
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Para além da diferença de nacionalidades, Lucas conta que um dos integrantes do grupo não é católico. “Isso vai trazer uma contribuição muito bacana para a Igreja pensar nos jovens que estão dentro – nos grupos de jovens, nas pastorais – mas também ter uma visão para esses jovens que estão fora, já que a gente fala muito dessa Igreja em saída, em busca desses outros jovens”.
A articulação será um desafio, já que cada um tem uma idade, vem de um país, de um carisma, de uma realidade de Igreja. Mas segundo Lucas, é justamente aí que está a beleza dessa iniciativa. “É repetir aquela experiência que Jesus fez também com seus primeiros discípulos (…). Nossa missão, num primeiro momento, vai ser justamente essa: entre nós criar um vínculo de amizade e encontrar um ponto comum e pensar a vida da juventude dentro da Igreja”.
A importância do pós-Sínodo
Perguntado sobre o andamento das atividades desde que o Sínodo terminou, em outubro de 2018, Lucas ressalta a continuidade do trabalho. Ele diz que, até pouco tempo atrás, tinha-se a ideia de um Sínodo com um meio, início e fim. Porém, no Sínodo dos Jovens, a preparação começou anos antes, e o maior desejo do Papa era o pós sínodo: não terminar numa exortação apostólica. Tanto que, meses depois, também foi desejo do Papa convocar o fórum realizado em junho.
“Nós tivemos 250 jovens de 100 países diferentes reunidos por praticamente cinco dias em Roma para discutir como em alguns meses já era possível colocar em prática as palavras do Papa nessa exortação. Foi muito bacana porque cada país já tinha avançado e pôde partilhar sua limitação, as dificuldades que encontrou”.
No caso do Brasil, um país com grande extensão territorial, o primeiro desafio é fazer chegar essa mensagem do Papa a todos os jovens. E isso, aponta Lucas, lembrando não só dos que estão dentro da Igreja – e precisam se manter nela – mas ir em busca dos que ainda não acreditam em Deus.
A primeira iniciativa que a Pastoral Juvenil já articulou e vai colocar em prática em 2020, nesse sentido, é a realização de um curso EAD sobre a Christus vivit. “Serão convidados todos os jovens que tenham interesse para se aprofundar nesse documento e conhecer um pouco mais. E a partir dessa realidade, também pensar nas paróquias, grupos, como colocar em prática”.
Por que o Lucas?
Lucas revela que já perguntou porquê foi escolhido um jovem da Fazenda da Esperança em meio a tantas outras realidades e carismas na Igreja. A resposta veio a partir de uma frase de Santo Agostinho: a esperança tem duas filhas – a indignação e a coragem.
“Eu entendi. Esse é o carisma da esperança, esse é o papel meu, de um jovem membro da Fazenda, de ter a indignação e a coragem, a coragem de acreditar e agir”.
O jovem conheceu a Fazenda da Esperança em 2015, após terminar o ensino médio e quando já tinha seu primeiro emprego. Mas ele sentia que precisava fazer algo a mais. Foi quando conheceu o projeto de voluntariado Espalhando Esperança, criado pela Fazenda da Esperança em parceria com a Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude (CEPJ). A proposta é inspirar jovens a se comprometer com Deus, com a Igreja e com os que mais sofrem.
“Aquilo me chamou a atenção porque eu queria fazer algo a mais. Entrei em contato com a Fazenda, fui fazer uma experiência, a princípio de quatro meses, na Argentina, mas acabei permanecendo lá por um ano e meio. Depois me designaram para voltar pro Brasil, para acompanhar esse mesmo projeto”.
Nos últimos três anos é Lucas quem está à frente desse projeto, motivando outros jovens a fazer sua experiência de voluntariado. Ele participa de muitas atividades relacionadas à juventude; organizou, por exemplo, um grupo de 70 jovens para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Panamá, em janeiro de 2019. Agora com a nomeação para o Conselho, Lucas pretende somar esforços para ajudar outros jovens.
“Eu quero, junto com esses 19 jovens, a partir da contribuição de cada um deles, acreditar. Colocar em comum essa indignação com toda a realidade que nós temos, mas também, juntos, esses 20, ter a coragem de apresentar propostas e soluções pros problemas que já foram enfrentados nesse século com a vida dos próprios jovens”.