No dia 12 de dezembro, festa de Nossa Senhora de Guadalupe, a Igreja no Canadá celebra o Dia de Oração em Solidariedade com os Povos Indígenas
Da redação, com Vatican News
“Somos chamados à cura, ao perdão, à reconciliação”. Este é o título da mensagem divulgada pelo Conselho Indígena Católico Canadense (CCIC), órgão consultivo da Conferência Nacional dos Bispos, em vista do Dia de Oração em Solidariedade com Povos Indígenas, que acontecerá no dia 12 de dezembro, festa de Nossa Senhora de Guadalupe.
No documento, lê-se: “Nós, Corpo de Cristo somos chamados a viver em amizade e harmonia com todos os povos”, porque ”somos irmãos e irmãs do nosso único Deus”, “que cria e sustenta a maravilhosa diversidade dos povos, culturas, raças e credos”.
Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão
Por isso, reitera o Conselho, quando esta “abençoada diversidade se torna fonte de divisão, ameaça e intolerância”, segue-se “uma grande tristeza”, pois “o medo e a raiva” destroem “as oportunidades de perdão”.
Disso, o forte apelo à responsabilidade de cada um para que se possa alcançar a “cura espiritual”, tendo presentes as palavras de São João Paulo II: “Não pode haver paz sem justiça, não pode haver justiça sem perdão”.
A dolorosa história das “escolas residenciais”
A mensagem recorda então a trágica descoberta, ocorrida em maio passado, de 215 túmulos anônimos no terreno da Kamloops Indian Residential School, uma “escola residencial”, espécie de institutos iniciados no final do século XIX pelo governo canadense e confiados às Igrejas locais, inclusive à Católica.
Nessas escolas, criadas com o objetivo de assimilar os indígenas – e atuantes até a década de 1980 -, as crianças muitas vezes eram abusadas e maltratadas, tendo pagado com a própria vida a sua diversidade. Esses acontecimentos, diz o CCIC, “causaram muita dor e angústia”, por isso o perdão não pode ser “temporário ou superficial”, mas deve manifestar-se como “um reflexo da infinita capacidade de Deus de perdoar”, aquela que “não cede à força destrutiva do espírito de vingança”.
Como humanidade, “muitas vezes fomos perdoados pelo sangue de Jesus Cristo”, continua a mensagem, por isso devemos ter “a grande responsabilidade de respeitar e cuidar dos nossos irmãos e irmãs, especialmente daqueles que enfrentam obstáculos, injustiças ou barreiras à sua liberdade”, como a “discriminação e o preconceito devido às diferenças entre os povos”. Tanto mais que esta situação complexa, reitera o Conselho, foi ainda mais agravada “pela pandemia de Covid-19”.
Promover uma cultura de cuidado e respeito
O que é preciso hoje é “um coração novo e um novo espírito”, continua o organismo católico, porque se “não se reconcilia com a própria história, não se é capaz de dar nem mesmo um único passo em frente”, e se ficará para sempre “refém de expectativas e desilusões”. Devemos responder à intolerância e ao preconceito com “a cultura do cuidado e do respeito”, conclui a mensagem, para poder oferecer às novas gerações “um futuro cheio de esperança”.
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Em dezembro, povos indígenas em audiência com o Papa
O Dia de Oração em Solidariedade com os Povos Indígenas será celebrado poucos dias antes de outro evento importante: de 17 a 20 de dezembro, de fato, o Papa Francisco receberá os representantes dos povos indígenas em audiência no Vaticano. Três conversas distintas com os grupos de Primeiras Nações, Inuit e Métis, e então uma audiência final coletiva.
Um encontro que os bispos canadenses já definiram, nos últimos meses, uma ocasião para “discernir como o Papa pode apoiar nosso desejo comum de renovar as relações e caminhar juntos no caminho da esperança nos próximos anos”. Nesse ínterim, esse desejo de renovação já foi concretizado por uma arrecadação de fundos realizada em todas as regiões do país para apoiar iniciativas de cooperação e cura com as populações nativas.
O apelo de Francisco contra a “colonização ideológica”
Por fim, é preciso lembrar que, na dramática história da descoberta dos restos mortais de crianças de uma escola residencial, o Papa Francisco já havia se pronunciado: no Angelus de 6 de junho passado, o Pontífice havia definido a trágica descoberta como “uma notícia chocante”, convidando “os filhos e as filhas do Canadá” à reconciliação, ao diálogo e ao respeito mútuo, distantes de qualquer “colonização ideológica”.