Neste sábado, 2, Dia de Finados, católicos rezam pelos fiéis defuntos; a partir da Bula do Jubileu 2025, padre faz reflexão sobre esperança cristã e fé na ressurreição diante da morte
Julia Beck
Da redação
Historicamente, a Igreja Católica sempre rezou pelos fiéis defuntos. No entanto, foi somente no século X, inspirada por Santo Odilo – que havia estabelecido a solenidade na Abadia de Cluny, na França, que ela instituiu a Celebração de Todos os Fiéis Defuntos. A data tornou-se uma celebração universal e, além de evocar a oração em sufrágio dos que padecem no Purgatório, é também uma oportunidade de reflexão sobre a morte, a esperança cristã e a fé na ressurreição.
Na Bula de proclamação do Jubileu Ordinário de 2025 (Spes non confundit), Papa Francisco afirma que, se faltam o fundamento divino e a esperança da vida eterna, a dignidade humana é gravemente lesada. Ele constata que quando os enigmas da vida e da morte, do pecado e da dor ficam sem solução, a humanidade é levada ao desespero.
“Então, que será de nós depois da morte?”. Esta é uma pergunta constante dos fiéis e que foi respondida pelo padre da Diocese de Itaguaí (RJ), Wagner Souza: “Seremos aquilo que nos tornarmos! Jesus, com sua morte, abriu-nos o caminho para o Pai. Nós agora podemos crer no amanhã”.
“Creio na vida eterna”
A frase extraída da profissão de fé católica, “Creio na vida eterna”, é destacada, pois “a esperança cristã encontra, nestas palavras, um ponto fundamental de apoio”, assinala o Papa. A partir dela, padre Wagner ressalta que a vida mortal termina necessariamente com a morte.
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“A cada fracasso, diante das nossas limitações, nós experimentamos a finitude dessa existência e a limitação do nosso viver. Crer num depois, esperar algo para além do que se pode ver aqui, é uma forma de nos lançar para frente, de modo que apostemos a nossa existência numa vida, que não apenas valha a pena, mas que nos valha o céu”, frisa.
Francisco escreve que a história da humanidade e a de cada um não corre para uma meta sem saída nem para um abismo escuro, mas estão orientadas para o encontro com o Senhor da glória. “Por isso vivemos na expetativa do seu regresso e na esperança de vivermos n’Ele para sempre”, sublinha o Santo Padre.
Ressurreição
Outro ponto de destaque da Spes non confundit, é a afirmação de São Paulo, citada por Francisco, de que Jesus morto e ressuscitado é o coração da fé católica. Padre Wagner lembra que o “Apóstolo escreve que assim como em Adão todos morrem, em Cristo todos um dia irão ressuscitar”.
“Penso que a dor, a morte e a ressurreição de Jesus nos fazem sentir próximos de Deus. Ele, o Verbo feito carne, nos faz entender que o sofrimento redime, por isso olhar a Cruz, contemplar a ressurreição e adorar o Cristo Eucarístico com certeza nos ajuda e fortalece a vida neste mundo, fazendo-nos esperar o céu com mais certeza e maior convicção”.
Face à morte onde tudo parece acabar, o Papa reforça que, através de Cristo e da sua graça, recebe-se a certeza de que “a vida não acaba, apenas se transforma” para sempre. Homens e mulheres recebem, no Ressuscitado, o dom duma vida nova, que “derruba o muro da morte”, fazendo dela uma passagem para a eternidade.
“E se diante da morte, dolorosa separação que nos obriga a deixar os nossos entes queridos, não é possível qualquer retórica, o Jubileu oferecer-nos-á a oportunidade de descobrir, com imensa gratidão, o dom daquela vida nova recebida no Batismo, capaz de transfigurar o seu drama”, indica.
Ensinamentos dos mártires
O testemunho mais convincente da esperança cristã, de acordo com o Santo Padre, é oferecido pelos mártires que, firmes na fé em Cristo ressuscitado, foram capazes de renunciar à própria vida da terra para não trair o seu Senhor.
Padre Wagner recorda que Santa Teresinha dizia que a vida é um breve instante entre duas eternidades. “Eu creio que os mártires tinham uma convicção tão profunda da verdade revelada em Cristo, que a fé traduzida em sacrifício os faziam sentir não só dignos da ressurreição, mas solidários no mistério redentor, a fim de contemplar com a renúncia e a entrega de suas vidas, o que porventura faltasse nos sofrimentos de Nosso Senhor”, reflete. Pensar assim e viver deste modo, com esse testemunho eloquente de fé, continua o presbítero, faz com que a morte seja compreendida, de fato, como lucro, como diz São Paulo.
Como se preparar para a morte
Diante da certeza da morte, o sacerdote da Diocese de Itaguaí (RJ) explica para os fiéis como é possível se preparar para este momento de finitude:
“Vivendo bem a vida. Fazendo o bem a todos e o mal a ninguém. É o que aprendemos de Jesus, que lá está nos preparando um lugar, onde quando estiver pronto viveremos para sempre com Ele. Nos preparamos para a morte quando evitamos os excessos, abrimos mão das certezas e nos ocupamos do que é Justo, Bom e Verdadeiro”.