Também os cristãos leigos são chamados, pelo Batismo, a uma missão especial na Igreja e na sociedade
Jéssica Marçal
Da Redação

O ministério do serviço ao altar, na figura dos Ministros da Eucaristia, constitui uma das missões em que o leigo ajuda a missão da Igreja / Foto: Canva Pro
A última semana do mês vocacional celebra o laicato, ou seja, a vocação daqueles cristãos que são corresponsáveis nas mais diversas missões da Igreja. Não foram chamados ao ministério ordenado nem à vocação religiosa, mas, a partir do Batismo, também foram chamados a uma missão especial na Igreja e na sociedade.
“Com muita alegria, celebramos nossa vocação laical”, afirma a assessora da Comissão Episcopal para o Laicato da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Célia Soares de Souza. Ela destaca que todas as vocações na Igreja encontram sua raiz na vocação laical. “A experiência vivida nas pequenas comunidades eclesiais nos ensina a cultivar a fé e a assumir nosso compromisso cristão.”
Mas celebrar esta vocação é muito mais do que rezar uma prece na liturgia, observa Célia. Trata-se, sobretudo, de reconhecer e dar consciência ao papel do laicato na Igreja e na sociedade. “Cada cristão leigo e leiga é chamado a (re)descobrir sua vocação batismal e assumir o protagonismo que lhe corresponde.”
Discípulos missionários
Com uma vocação inspirada, primeiramente, no Evangelho de Jesus, a missão do leigo se concretiza na vivência de múltiplas realidades temporais, explica Célia. Vivendo no “coração do mundo”, esses cristãos são interpelados a atuar especialmente nas realidades mais adversas e a enfrentar, com fé e coragem, as injustiças que negam a vida e a dignidade humana.
“O Documento 105 da CNBB aponta, nesse horizonte, os novos areópagos em que devem exercer sua missão: a família, a política, a comunicação, a educação, os conselhos de direitos, a saúde, entre outros espaços onde a vida clama por Evangelho, justiça e esperança.”
Em meio ao ano jubilar vivido pela Igreja e dedicado à esperança, também os leigos ajudam na propagação dessa virtude. Eles são chamados a ser peregrinos de esperança, comprometidos com a paz e a promoção da vida. “Este compromisso reflete nossa vocação de discípulos missionários, que caminham em comunhão com a Igreja, inspirados pelo Espírito Santo e motivados a ser sinais de esperança para a sociedade.”
Desafios e riquezas
Casada e mãe de dois filhos, Célia já se dedicava ao estudo dos Documentos da Igreja antes mesmo dos 20 anos de idade. Ela atuou como coordenadora da Pastoral da Juventude, uma experiência que despertou ainda mais seu desejo de aprofundar o conhecimento teológico. Assim, Célia se graduou em Teologia, fez mestrado e, atualmente, é doutoranda na área, com especialização em Doutrina Social da Igreja e em Mariologia.
“Reconheço que a missão de articular e representar o laicato no Brasil, em comunhão com as diversas expressões laicais, é um grande desafio, não apenas pela dimensão continental do país, mas também pela diversidade de culturas, experiências e realidades que marcam a vida de nosso povo. Por outro lado, esse desafio é também uma oportunidade rica de conhecer, partilhar e vivenciar a vocação laical em ‘águas mais profundas’”.
E como toda vocação, Célia compreende que o laicato não pode ser vivido plenamente no isolamento. “É imprescindível que as estruturas da Igreja possam dar espaço, escutar e planejar em conjunto, para que as decisões tomadas na Igreja estejam sempre iluminadas pelo Espírito Santo e em comunhão com o povo de Deus.”
Organização e representação no Brasil
No Brasil, os leigos são representados, institucionalmente, pelo Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), um organismo de articulação, organização e representação fundado em 1975. Na CNBB, a Comissão para o Laicato apoia o serviço dos bispos referenciais nesta área, em estreita comunhão com o CNLB.
Ao longo da história, o CNLB foi se estruturando em conselhos regionais, diocesanos e locais. Atualmente, está presente em 17 regionais e conta com 18 organizações filiadas.
Além de ser um organismo de comunhão com os demais organismos da Igreja, o CNLB busca criar e apoiar mecanismos de formação e capacitação que ajudem o laicato a descobrir sua identidade, vocação, espiritualidade e missão, com vistas à construção de uma sociedade justa e fraterna, sinal do Reino de Deus.