Jovem missionária sem nunca ter saído do Carmelo, Santa Teresinha contribuiu com a compreensão da fé da Igreja, especialmente a partir da “infância espiritual”
Jéssica Marçal
Da Redação

Vitral com a imagem de Santa Teresinha / Foto: Mehmet Turgut Kirkgoz de Pexels via Canva
A Igreja celebra nesta quarta-feira, 1º, o dia de Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira das missões e doutora da Igreja. Canonizada há cem anos, fez uma experiência marcante com Nossa Senhora e com o próprio Jesus com apenas 13 anos de idade, decidindo-se por uma vida entregue a Deus na simplicidade e pequenez, como uma “criança que tudo espera do pai”.
“Santa Teresinha, mesmo ainda criança, demonstrava um amor imenso por Jesus e carregou, desde muito nova, o desejo de se consagrar totalmente a Ele. Não desperdiçava as oportunidades de vivenciar esse amor e essa entrega, pois sabia que a vida é fugaz e que só poderia aproveitá-la bem, fazendo a vontade de Deus a cada respiro de sua existência”, observa o pároco da Paróquia Santa Teresinha, Doutora da Igreja, em Salvador (BA), padre Diego de Jesus.

Padre Diego de Jesus / Foto: Mateus Bomfim / Arquidiocese de São Salvador da Bahia
Apesar de ser conhecida como santa desde a infância, a vida da menina que entrou para o Carmelo com apenas 15 anos de idade foi marcada por sofrimentos. Aos quatro anos perdeu a mãe, Zélia Guérin, devido a um câncer. Mas viu a mãe viver a doença de forma totalmente entregue a Deus. Seu pai, Luís Martin, homem prudente e zeloso nos preceitos da Igreja, também adoeceu, enfrentando problemas psiquiátricos. Também eles, pais da caçula Teresa e de mais oito filhos (quatro morreram ainda pequenos) são santos da Igreja e foram exemplo para a jovem que também alcançaria a honra dos altares.
“A família de Santa Teresinha, especialmente seus pais, desempenharam um papel muito importante no seu caminho de santificação; eram verdadeiros exemplos de fé e dedicação a Deus. Santa Teresinha era ligada a eles por um sentimento de amor, admiração e obediência”, acrescenta padre Diego.
Atitudes assim podem ser guias também para a formação, em especial espiritual, das crianças de hoje: “Acredito que os hábitos da oração em família, da escuta atenta aos ensinamentos dos pais e da caridade pelos pequenos gestos de amor são faróis para as crianças e jovens que, mesmo hoje, também desejam trilhar um caminho de santidade”.
Doutora da Igreja e a infância espiritual
Além de seu exemplo de santidade, Santa Teresinha contribuiu para ampliar a compreensão da fé. Assim, foi proclamada “Doutora da Igreja” pelo Papa João Paulo II em 19 de outubro de 1997.
Padre Diego explica que quando um santo recebe esse título é porque deu uma contribuição profunda à doutrina e à espiritualidade da Igreja. Trata-se de uma forma de reconhecimento da sabedoria do Alto que, embora se valha de recursos da inteligência humana, só pode ser alcançada pelos corações abertos à Graça de Deus.
Santa Teresinha levou ao cume o conceito de “infância espiritual”, presente desde os primórdios da Igreja. Consiste na extrema confiança em um Deus que é Pai; trata-se de um abandono confiante, reconhecendo a própria pequenez e dependência, como uma criança que depende dos pais. A religiosa sempre frisou que Deus chama à santidade não só as grandes almas, mas também as almas pequeninas.
“Santa Teresinha muito falou sobre a ‘Pequena Via’, que corresponde a uma confiança inabalável no Amor de Deus, fazendo-nos alcançar o que sozinhos não poderíamos pelas nossas limitações e fragilidades humanas. Foram nas provações cotidianas que ela experimentou esse abandono total ao Senhor, com pequenas renúncias e atos de caridade.”, disse o sacerdote.
A santidade na pequenez

Sarah Sabará Fonseca / Foto: Arquivo Pessoal
“Como toda criança, ela também já foi imatura, insistente, frágil e sentimental. Mas com a maturidade adquirida configurou todas essas características ao modo de Jesus.”, comenta a jornalista Sarah Sabará Fonseca, da Revista Canção Nova Kids.
Sarah ressalta que a evangelização de uma criança é papel fundamental dos pais, que devem olhar os filhos como “pagãos” e ensinar a eles a fé do zero. “Evangelizar uma criança precisa ser à medida de sua compreensão humana, e quanto mais ela entender, mais de Deus deve lhe ser dado. Teresinha, nos ensina a ser santos em nossa pequenez, à medida de nossa compreensão.”
A santa, segundo a jornalista, entendeu que sua pequenez não era sinônimo de menos santidade, mas da grandeza de Deus sobre ela. Em uma confidência à sua irmã Inês, em 1897, a religiosa explicou o que ela entendia por permanecer “criancinha perante Deus”: “esperar tudo em Deus, como uma criança pequena espera tudo do pai”.
“Ser criança de idade não é sinônimo de distância do céu, mas de uma maior sensibilidade ao sobrenatural! É próprio da criança criar realidades imaginárias para explicar e preencher espaços e perguntas em suas mentes. Teresinha alimentou seu imaginário com a beleza da criação”.