Participando da Conferência do Clima, cardeais do Sul Global apresentaram o documento em que a Igreja ressalta o apelo pela justiça climática e a casa comum
Da Redação, com CNBB

Foto: Paulo Augusto Cruz
A Igreja Católica, representada por cardeais do Sul Global (América Latina, Ásia, África e Oceania), apresentou nesta quinta-feira, 13, à Conferência do Clima, o documento “Um chamado por justiça climática e a casa comum: conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções”. O documento rejeita soluções como o “capitalismo verde”, exige que nações ricas paguem sua dívida ecológica e pede ações concretas para limitar o aquecimento global a 1.5∘C.
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O arcebispo de Porto Alegre (RS), presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal e Caribenho (Celam), Cardeal Jaime Spengler, pontuou que, após a celebração do Acordo de Paris e o aniversário dos 10 anos da Encíclica Laudato Si’, a bondade, a generosidade e a hospitalidade do planeta terra está em perigo. “A terra não é um mero recurso a ser explorado mas um organismo vivo que precisa ser escutado”, disse.
Dom Jaime disse que os povos da África, Ásia, Oceania e América Latina, querem ser ouvidos, desejam participar dos espaços de diálogos e colaborar na construção para fazer frente aos desafios das mudanças climáticas. O cardeal acrescentou que a humanidade está vivendo uma crise multifacetada e uma de suas manifestações é a aproximação rápida de um colapso climático. “Não faltam vozes autorizadas a nos alertar sobre a aproximação do ponto de não retorno”, pontuou.
Como alternativa, o arcebispo de Porto Alegre apontou a urgência de criar, promover e apoiar redes de solidariedade e desenvolvimento marcadas por princípios éticos. “Não teremos paz e um progresso autêntico se não resgatarmos a confiança uns nos outros e se não assumirmos as responsabilidades comuns”, disse.
Crise climática precisa de solução integral
O presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (Secam), o Cardeal Fridolin Ambongo, de Quinxassa, da República Democrática do Congo, afirmou que o documento cita uma proposta de solução não só sustentável, mas integral e que a solução para a crise climática não pode ser uma abordagem fragmentada.
Ele apontou a necessidade de que as negociações na COP30 sejam pautadas pela ética e também que os povos indígenas e tradicionais sejam considerados nas propostas de proteção florestal. “Os financiamentos ambientais não podem ser baseados em débitos ambientais, uma vez que foi causado por um desequilíbrio entre o Norte e o Sul global”, pontuou.
O cardeal falou da necessidade de uma revisão dessa dívida com maior responsabilização dos países que mais provocaram a crise climática. “Não podemos continuar a agir como se fôssemos os últimos seres humanos a agir. Faço um apelo para que todos trabalhem juntos, lado a lado, porque a humanidade depende da Terra. As gerações futuras também têm o direito de viver em um planeta habitável”, ressaltou.
Fundo de financiamento a países pobres
O presidente das conferências Episcopais da Ásia, o arcebispo de Goa e Damão, Cardeal Felipi Neri Ferrão, apontou a existência, em seu continente, a de uma diversidade cultural e ambiental. “Estamos nos juntando a esse apelo global”, disse.
O cardeal apresentou estimativas da dívida global do Norte com o Sul Global que passa de 1 trilhão de dólares, com a defesa de que é necessário criar um financiamento que seja justo com os países mais pobres e prejudicados. “Nós apelamos que a COP30 não seja mais só um evento, que ela gere uma virada”, afirmou.
Entrega do documento à ONU
No final da Mesa de Debate, o membro do gabinete executivo da ONU (UNFCCC), Gustavo Mañez, enalteceu a participação da Igreja e da articulação da Igreja Católica na COP30. Os cardeais entregaram a ele uma cópia do documento e também um texto-base da Campanha da Fraternidade 2025 que tratou do tema: “Fraternidade e Ecologia Integral”.




