Em entrevista à mídia vaticana, arcebispo de Bolonha refletiu sobre a busca pela paz e afirmou que todo conflito faz parte de uma única guerra
Da Redação, com Vatican News

Cardeal Matteo Maria Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI) / Foto: Reprodução Youtube
O arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Cardeal Matteo Zuppi, concedeu uma entrevista à mídia vaticana antes de sua participação no 46º Encontro pela Amizade entre os Povos em Rimini neste domingo, 24. De forma especial, o cardeal refletiu sobre os esforços na busca pela paz.
Refletindo sobre o tema do evento, “Nos lugares desertos construiremos com tijolos novos”, Zuppi destacou como estes termos ajudam a compreender o cenário atual. “Um deserto terrível, provocado pelas escolhas dos homens e capaz de gerar sofrimento, arruinar relacionamentos, matar. E depois, porém, há os tijolos. Isso me parece uma indicação importante: neste ano jubilar da esperança, precisamos compreender que somos tijolos, que podemos ser tijolos, que há algo novo se nos confrontarmos com o deserto”, expressou.
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O cardeal também recordou o dia de oração e jejum proposto pelo Papa Leão XIV na sexta-feira, 22. “A oração abre caminho para entrar na história. Porque ela não é o último recurso. É o primeiro”, declarou, sinalizando que estes são esforços concretos que devem ser feitos para promover a paz, mas não são os únicos.
Busca obstinada pela paz
Segundo o purpurado, os testemunhos de esforços em prol da paz apresentados no evento geram a “esperança de que certas palavras não apenas comovam, mas também levem ao encontro, ao diálogo, à escolha do caminho da reconciliação e não da guerra”.
Zuppi frisou a atenção da Igreja a todos os tipos de guerra. “Dou o exemplo do Sudão do Sul, um conflito que dura há décadas, mas pelo qual o Papa Francisco se ajoelhou, beijando os pés para implorar pelo fim do conflito. Porque também esta é uma guerra mundial”.
“Não há paz, há pouco perdão, raramente buscamos a justiça”, prosseguiu o cardeal. “Esquecemos que a prisão da qual não se pode fugir é aquela que construímos pensando que estamos seguros ou bem: na realidade, estamos construindo um inferno ao nosso redor”, alertou.
Neste contexto, Zuppi ressaltou o valor do perdão. Para ele, o perdão ajuda quem cometeu o crime, o delito, a ofensa, mas, acima de tudo, liberta quem o sofreu. Segundo o cardeal, só uma busca tão obstinada pela paz, pela justiça e pelo perdão pode transformar certos desertos em um jardim onde todos possam viver, conforme a vontade de Deus.
“A força é perigosa”
Diante disso, cardeal convidou à reflexão sobre os esforços pela paz: “estamos fazendo tudo o que é possível, em todos os níveis, para tentar impedir o que está acontecendo”? Ele recordou o discurso do Papa Paulo VI na Organização das Nações Unidas (ONU) em 1965, no qual declarou que a paz não pode ser fruto da força.
“A força é perigosa, assim como a ideia de que o mais forte comanda ou que prevalece um equilíbrio entre os fortes. É claro que a ONU precisa fazer algumas mudanças, mas não podemos recuar. Porque se a guerra é mundial, isso significa que ela nos interessa, que nos envolve, chegando até onde você está. Não é algo opcional. É uma emergência que envolve cada um de nós”, concluiu Zuppi.