Polícia do país alega, em comunicado, que decisão é motivada por investigação de envolvimento de religiosos em uma “rede de lavagem de dinheiro”
Da Redação, com agências
Após meios de comunicação da Nicarágua denunciarem o congelamento de contas bancárias de autoridades eclesiásticas locais, a Polícia do país centroamericano se manifestou. Em comunicado publicado neste sábado, 27, o órgão informou que investiga algumas dioceses no país por “lavagem de dinheiro”.
O documento alega que, desde o dia 19 deste mês, foram encontradas “centenas de milhares de dólares” em instalações diocesanas. A Polícia também detalhou que as contas bloqueadas estão relacionadas a religiosos condenados por “traição à pátria” e outros crimes, e que as investigações confirmaram a “entrada irregular do dinheiro no país”.
Até o momento, a Conferência Episcopal da Nicarágua não se manifestou sobre o ocorrido.
Tensão cada vez maior
A relação do governo da Nicarágua, liderado por Daniel Ortega, com a Igreja Católica, não é nada amistosa, e tem se tornado cada vez mais tensa nos últimos tempos. Em julho do ano passado, missionárias da Caridade foram expulsas do país e alguns veículos de comunicação católicos foram fechados.
Desde agosto, o bispo de Matagalpa, Dom Rolando Álvarez, está preso – primeiro, na Cúria diocesana, e depois, em prisão domiciliar –, acusado de “conspiração”. Em fevereiro deste ano, ele foi formalmente condenado a 26 anos de prisão, após se recusar a embarcar em um avião com outras 222 pessoas, deportadas para os Estados Unidos. No veredito, dado antes do início do julgamento, Dom Álvarez foi chamado de “traidor da pátria”.
Após a condenação, diversos órgãos da Igreja se manifestaram e prestaram solidariedade ao religioso. A Conferência da Espanha, na época, expressou seu pesar e preocupação pelos “bispos da Conferência Episcopal Nicaraguense que sofrem perseguição pelo governo por defender a liberdade dos nicaraguenses”. Os bispos do Chile, por sua vez, rejeitaram “a situação vivida pelo bispo Álvarez e pela Igreja na Nicarágua, que viola os direitos humanos, a dignidade essencial da pessoa e a liberdade religiosa”.
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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também se manifestou, escrevendo que, em prece, “suplica o fortalecimento dos nicaraguenses na busca pelo respeito e pela dignidade. Fraternal e solidária, reza, por nosso irmão bispo, Dom Rolando Álvarez, condenado a 26 anos de prisão. A cada pessoa seja concedida a liberdade de se expressar com responsabilidade e viver sua fé. As autoridades de todo o mundo, da América Latina e, especialmente, da Nicarágua, possam se sensibilizar”.
“Ditadura grosseira”
Em 8 de março, duas universidades foram “confiscadas” pelo governo nicaraguense e o estatuto jurídico da Caritas no país foi cancelado. Depois, o representante da Santa Sé na Nicarágua, Monsenhor Marcel Diouf, precisou deixar o país no dia 19 de março após “solicitação” do fechamento da Sede Diplomática, datada de 10 de março.
Em entrevista concedida ao fundador do site de informação on-line argentino Infobae, Daniel Hadad, o Papa Francisco classificou Ortega como “desequilibrado” ao ser questionado sobre a situação política da Nicarágua. “É algo que está fora do que estamos vivendo, é como trazer a ditadura comunista de 1917 ou a ditadura de Hitler de 1935, trazendo as mesmas aqui… São um tipo de ditadura grosseira”, afirmou o Santo Padre.